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Pouco antes de uma cúpula da Otan, a principal aliança militar do Ocidente, na Holanda, Trump afirmou que “grandes progressos estão sendo feitos em Gaza”, e que ouviu de seu enviado especial e negociador-chefe, Steve Witkoff, que um acerto estaria “muito perto”.

A jornalistas, o presidente associou o otimismo ao cessar-fogo anunciado na segunda-feira, interrompendo 12 dias de confronto entre Israel e Irã, e que contou com um ataque dos EUA a três instalações nucleares iranianas — Fordow, Natanz e Isfahã — no fim de semana. Até agora, as tentativas americanas para uma trégua no enclave fracassaram, e a recente iniciativa, em parceria com Israel, ligada à distribuição de alimentos em Gaza tem sido alvo de pesadas críticas, inclusive da ONU.

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Segundo o Wall Street Journal, mediadores do Egito e Catar, que lideram as conversas, dizem que Israel e Hamas têm demonstrado maior interesse em avançar em termos aceitáveis para os dois lados, e o próprio Witkoff entrou em contato com os árabes para que intensificassem o diálogo. Uma nova reunião, afirmam os negociadores, poderia acontecer “em breve”, mas sem arriscar um prazo ou data específica.

Nesta quarta-feira, um integrante do Hamas disse à agência AFP que as conversas “se intensificaram nas horas recentes”, mas que “não foram recebidas novas propostas” para encerrar a guerra, iniciada após o ataque do grupo a Israel em 7 de outubro de 2023. Israel não se pronunciou.

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A mais recente proposta não traz grandes mudanças em relação aos planos rejeitados nos últimos meses. O plano prevê um cessar-fogo preliminar de 60 dias, durante os quais serão libertados 10 reféns ainda vivos, assim como os corpos de alguns dos sequestrados que morreram no cativeiro em Gaza. Ao mesmo tempo, um número considerável de palestinos detidos por Israel seriam libertados. Após o período inicial, uma trégua mais ampla, com o retorno de todos os reféns, entraria em vigor.

Mas há questões sérias em aberto. O Hamas quer garantias de que as forças de Israel deixarão Gaza após a implementação do acordo e o fim do conflito, algo que ainda não está nos planos do premier Benjamin Netanyahu. Os israelenses, por sua vez, exigem o completo desarmamento do grupo, que perdeu a maior parte de suas lideranças políticas e militares, e teve suas capacidades de combate seriamente afetadas pela guerra.

Neste contexto, o conflito com o Irã pode ter sido crucial para avançar em uma solução para Gaza.

Desde o início da guerra no enclave, Netanyahu se tornou um político impopular em Israel, sob pressão pela demora no retorno dos reféns capturados em outubro de 2023, pela extensão do conflito e também por seus problemas com a Justiça, que podem levá-lo à prisão. Ao mesmo tempo, a manutenção do conflito era crucial para manter unida sua coalizão, que tem na extrema direita as principais bases de sustentação. Suspender os combates e soar flexível nas negociações com o Hamas poderiam custar ao premier seu cargo e uma dura derrota para a oposição em novas eleições. Sem contar uma condenação por corrupção, em um caso que se arrasta há anos nos tribunais.

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Ao lançar a guerra contra o Irã, usando o conhecido argumento da ameaça de militarização do programa nuclear iraniano, Netanyahu conseguiu unir o país em torno de uma “ameaça existencial”, e o apoio das bombas americanas lhe deu argumentos para, na segunda-feira, celebrar uma “vitória” após o cessar-fogo.

— Ele está no seu melhor momento dos últimos anos — disse Mitchell Barak, analista político que foi assessor de Netanyahu antes de ele se tornar primeiro-ministro, ao New York Times. — Quando você está tão forte, consegue fechar um acordo, consegue acabar com a guerra em Gaza, e não temer que seu governo entre em colapso ou que você seja destituído do cargo.

Analistas israelenses acreditam que o premier tentará empurrar as negociações para o mês que vem, aproveitando o recesso do Parlamento israelense e reduzindo as chances de que os ultraortodoxos, contrários ao fim da guerra, sejam um obstáculo. Mas o ritmo das conversas também dependerá da disposição do Hamas em aceitar os termos sobre a mesa, e, especialmente, da pressa de Trump, que promete uma solução para o conflito desde o início de seu mandato.

Enquanto a diplomacia não avança, a guerra em Gaza, que deixou mais de 56 mil palestinos mortos, continua deixar vítimas. Ao longo da quarta-feira, 64 pessoas morreram no enclave, incluindo 14 perto de centros de distribuição de alimentos, controlados por uma organização americana e que se tornaram focos de violência nas últimas semanas — segundo a ONU, 410 pessoas morreram desde o final de maio nos arredores dos pontos de distribuição de ajuda, na maioria dos casos vítimas de disparos de soldados de Israel.

No sul da Faixa de Gaza, sete militares israelenses morreram em um ataque nos arredores de Khan Younis, na terça-feira. Segundo o Exército, explosivos foram instalados na lateral do veículo blindado onde eles estavam, e equipes de resgate não conseguiram retirá-los a tempo. Os soldados integravam um batalhão responsável por destruir as infraestruturas do Hamas, retirar minas terrestres e abrir rotas para a infantaria e os blindados.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, expressou que foi “um dia difícil para o povo de Israel” e elogiou os “heróis combatentes” mortos na batalha para derrotar o Hamas e libertar os reféns. Já o ministro da Defesa Israel Katz disse que os sete soldados “lutaram bravamente e morreram durante uma missão para defender Israel e devolver os reféns”.

De acordo com a agência Associated Press, mais de 860 soldados israelenses foram mortos desde o início do conflito, incluindo mais de 400 durante os combates dentro da Faixa de Gaza. O incidente mais mortal para as forças israelenses na guerra ocorreu em 22 de janeiro de 2024, quando 21 soldados morreram no desabamento de dois prédios que foram atacados por homens armados.

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