Até onde você iria pelo seu time de coração? Há quem não imponha limites ao sonho de acompanhar in loco a glória de seu clube. Quando Fluminense e Palmeiras entrarem em campo nesta sexta-feira, pelas quartas de final da Copa do Mundo de Clubes, as arquibancadas das arenas em Orlando e na Filadélfia, respectivamente, estarão repletas de histórias de aventura e emoção de torcedores que haviam se planejado para acompanhar apenas a fase de grupos do torneio nos Estados Unidos. Mas deram um jeito de esticar a viagem depois que as equipes conseguiram, contra as previsões mais otimistas, avançar para brigar por um lugar nas semifinais.
O palmeirense Allan Lucas, de 35 anos, por exemplo, morou de favor em mais de um lugar e trabalhou até como servente de pedreiro.
— Está sendo uma loucura. Primeiro fiquei na casa de um amigo, depois aluguei uma com mais vinte pessoas e ainda fui hospedado por um parceiro que conheci aqui na torcida. Como ele trabalha na construção civil, pedi um emprego temporário. Meu orçamento estourou há tempos. Isso me salvou — conta.
Os US$ 400 dólares (cerca de R$ 2.200) que Allan embolsou por três dias de labuta deram um alívio no bolso. Formado em Gestão, ele trabalha como analista de projetos em uma empresa de São Paulo, onde todo mundo sabe que ele vai dar um jeito de estender ainda mais as férias caso o time de Abel Ferreira corresponda dentro de campo.
A mulher de Allan, a também alviverde Karina Silva, de 31 anos, não resistiu ao vê-lo no empate com o Porto, na estreia: arrumou uma semana de folga no trabalho e embarcou no primeiro voo para os EUA. Juntos, eles assistiram aos dois jogos seguintes da primeira fase e também à classificação para o mata-mata contra o Botafogo. Ela precisou voltar ao Brasil, mas promete retornar se a equipe avançar:
— Nossa prioridade sempre foi o Palmeiras.
De Olaria, na Zona Norte do Rio, Luma Queiroz é tricolor doente. Mês passado, embarcou para Nova York atrás do sonho de ver o Fluminense campeão do mundo. Por lá, alimentação a base de fast food, transporte de trem em vez de avião e hospedagem em hotéis de beira de estrada foram a estratégia para estender a viagem, bancada com ajuda do empréstimo de um parente.
Mas o mais difícil é conciliar a paixão pelo time com o trabalho em uma agência de marketing digital, que não lhe deu férias. O regime híbrido está sendo forçosamente remoto. E para dar conta dele, a torcedora de 34 anos conta com a sorte da internet de lojas e estações.
— Minha chefe já avisou: “quando voltar para o Rio, vamos conversar”. Corro o risco de perder o emprego — afirma Luma.
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Natural de Vitória, Laís Ferolla também foi ficando em solo americano conforme o Fluminense avançava. A empresária de 33 anos havia decidido assistir apenas aos duelos iniciais do Mundial, mas acabou contagiada pelo clima da torcida. Já desistiu de converter o valor dos chopes de dólares para reais e empurrou o problema financeiro para depois:
— É muita grana, mas abro mão de muitas coisas para viver esse momento.
O advogado Carlos Eduardo Silva, de 42 anos, já foi e já retornou, mas não resistiu e foi mais uma vez — só com passagem de ida. Conciliou as férias com a mulher em Nova York e os jogos do Flu:
— Voltei com o gostinho de quero mais. E, com a classificação heroica contra a Inter de Milão, não tive dúvidas. Depois a gente dá um jeito, vende o carro, usa o cartão de crédito…
(*Estagiário sob supervisão de Thales Machado).