O final da versão original de “Vale Tudo”, em janeiro de 1989, dominou as mesas de jantar (e de bar) do Brasil. De Norte a Sul, todo mundo queria saber, afinal, quem tinha matado a Odete Roitman de Beatriz Segall. Eram outros tempos, não havia TV a cabo, plataformas de streaming, redes sociais ou sequer internet pra disputar a atenção do povo. Então, basicamente, todo mundo estava assistindo à novela.
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Atores e autores do programa eram parados o tempo todo na rua por pessoas querendo saber quem era o assassino. Mas pior ainda era a aporrinhação de uma família que não tinha nada a ver com isso. No dia 7 de janeiro de 1989, no meio da comoção no Brasil em torno da morte de Odete, o Jornal O GLOBO publicou uma reportagem, assinada pela jornalista Manya Millen, descrevendo o assédio do público sobre as 19 pessoas com sobrenome Roitman que constavam na lista telefônica.
Numa época em que os “trotes telefônicos” eram uma brincadeira popular, ainda que muitas vezes de mau gosto, os Roitman da vida real não tinham um minuto de sossego na reta final da novela.
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“Aqui em casa chegam a ligar às 3h da manhã, perguntando quem matou a Odete ou querendo saber da Maria de Fátima. Muitas vezes minha mãe tira o fone do gancho para não incomodar meu irmão Daniel (que ainda não tinha 2 anos) quando ele dorme”, queixou-se Luciana Roitman, de 17 anos, cujo tio, o médico Isaac Roitman, cogitou até processar os responsáveis pela novela, tal era a perturbação.
Dona Guiomar, mãe de Luciana, estava até feliz com o então iminente fim da novela. Ela se definia como uma espectadora assídua, mas deixou de assistir a alguns capítulos “só de raiva”.
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“Outro dia me ligou um homem, tarde da noite, que se identificou como um detetive, dizendo que a Luciana estava na delegacia depondo no caso do assassinato da Odete Roitman. Eu fiquei preocupada porque, apesar de saber que era brincadeira, minha filha realmente não estava em casa”, contou a mãe da adolescente, segundo a reportagem, publicada com o título “Em nome da coincidência”.
O estudante Othon Roitman, de também 17 anos, teve que suportar brincadeiras na escola desde o início da novela, além das ligações para a sua casa. As pessoas sempre pediam que ele chamasse a sua mãe. Não a verdadeira, chamada Berenice, mas a Odete. O pai dele, espirituoso, dizia brincando que iria cobrar da TV Globo os direitos autorais pelo uso do sobrenome que caíra na boca do povo.
Mas coincidência mesmo, dessas que ninguém acredita, aconteceu com Rita Segall Roitman, que, tinha os sobrenomes da vilã de “Vale Tudo” e da atriz que interpretava a personagem.
“Todo mundo se espanta com isso. Quando estou em um consultório médico, e a enfermeira me chama pelo nome completo, já me acostumei às manifestações de. espanto das pessoas. É raro o dia em que não comentam nada, principalmente quando estou preenchendo cheques. Na verdade, nem eu sei como isso aconteceu. E realmente muita coincidência”, comentou Rita na reportagem.