O BNDES aprovou R$ 131 milhões em dois empréstimos para a Gás Verde, empresa que produz biometano — gás renovável que substitui o gás natural — a partir dos gases gerados do lixo depositado em aterros sanitários.
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Um dos financiamentos, de R$ 90,2 milhões, vai para a construção de uma usina de biometano no aterro sanitário em Igarassu, na região metropolitana de Recife. Com essa operação, desde 2023, o BNDES já aprovou R$ 666,4 milhões para sete projetos de produção de biometano.
Desse total, R$ 443,3 milhões vieram do Fundo Clima — criado em 2009 e vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), que foi turbinado em 2024 com um aporte de R$ 10 bilhões levantados pelo Tesouro Nacional com a emissão de “títulos verdes” no exterior.
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O biometano é um combustível equivalente ao gás natural, tanto industrial quanto veicular (GNV), conforme padrão da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
O solo do aterro sanitário é impermeabilizado com quatro camadas de proteção, utilizando argila compactada, uma camada de GCL (geocomposto bentonítico) e duas mantas de Pead (polietileno de alta densidade). A impermeabilização protege o solo e os lençóis freáticos.
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Um sistema de drenagem com poços interligados por tubulações capta o gás gerado pelo lixo depositado no aterro, que tem um percentual de metano superior a 50%. Esse biogás pode ser destinado a diferentes processos industriais, entre eles o processamento em uma usina de produção de biometano, um biocombustível que pode substituir o GNV (de origem fóssil) nos carros, por exemplo.
O Brasil produz hoje 840 mil metros cúbicos por dia em 11 usinas de biometano, segundo a Associação Brasileira do Biogás (Abiogás). Projetos mapeados pela entidade apontam para uma capacidade de 8 milhões de metros cúbicos por dia em 2030 — isso é 15% do consumo nacional de gás natural, que ficou em 52,5 milhões de metros cúbicos por dia na média de 2024, segundo a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás).
Com duas usinas, a Gás Verde produz hoje 160 mil metros cúbicos por dia de biometano. A empresa planeja converter mais dez usinas termelétricas a biogás em usinas de biometano, todas em aterros sanitários — uma delas é Igarassu. Com as 12 unidades, em seis estados, a produção da Gás Verde deverá saltar para 650 mil metros cúbicos por dia em 2028.
O empréstimo do BNDES para a usina em Igarassu cobrirá 100% do investimento no projeto. A maior parte dos recursos (R$ 72,2 milhões) virá do Fundo Clima, que permite ao banco de fomento oferecer juros abaixo das taxas de mercado, que, no momento, estão em elevação por causa do ciclo de alta na taxa básica de juros (a Selic, hoje em 14,75% ao ano).
Investir mesmo com ‘juros tão altos’, diz executivo
Segundo o CEO da Gás Verde, Marcel Jorand, o empréstimo do BNDES tem condições financeiras que permitem empreender “mesmo em um momento de juros tão altos”:
— Sempre fomos a bancos comerciais. Este momento de juros altos ia inviabilizar os investimentos.
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, ressaltou, em nota, que os projetos da Gás Verde “estão alinhados às ações do governo” para mitigar as mudanças climáticas. “Enquanto um deles aproveita economicamente o gás carbônico, capturando o subproduto que seria emitido como rejeito, o outro garante a produção de gás renovável, evitando emissões de metano, que tem potencial de aquecimento 25 vezes maior que o do CO2”.
R$ 40,9 milhões para ‘CO2 verde’
O outro empréstimo do BNDES, de R$ 40,9 milhões (com R$ 17,1 milhões do Fundo Clima), financiará uma unidade de produção de gás carbônico (CO2) verde junto à maior usina de biometano da América Latina, operada pela Gás Verde no Centro de Tratamento de Resíduos Rio, aterro em Seropédica que substituiu o lixão de Gramacho.
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O CO2 tem diversas aplicações industriais — gaseificar bebidas, como refrigerantes, remover a cafeína do café, manter alimentos congelados, em sua forma sólida (o “gelo seco”), entre outras. Sendo produzido a partir do biogás, o CO2 verde permite às empresas que optam por ele reduzir sua pegada de carbono na produção.
— Queremos “nichar” o CO2 verde para quem quer acesso a produto 100% renovável — afirmou Jorand.
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O gás carbônico é sobra da fabricação do biometano. Segundo Jorand, o biogás que emana da decomposição do lixo depositado no aterro é formado por 50% de metano, 45% de CO2 e 5% de outros gases.
A usina de biometano atua justamente para separar os gases, garantindo que o biometano tenha 95% de metano. Hoje, as sobras são queimadas, mas, com a nova unidade, terão uma destinação.
— Será uma usina de resíduo quase zero — afirmou Jorand, acrescentando que 80% da futura produção de CO2 verde já estão vendidos, sinal de que haverá demanda dos clientes por um insumo sustentável.
A empresa investirá um total de R$ 51,3 milhões na nova unidade no complexo de Seropédica, que começará a produzir em julho. A capacidade de produção é de 100 toneladas por dia de CO2 verde.

