A rota colonial do Panamá, por onde circularam durante séculos riquezas da América em mulas e embarcações e precursora do canal interoceânico, foi declarada Patrimônio Mundial pela Unesco no último sábado (12).
- Saiba mais: Unesco avalia 30 novos candidatos ao Patrimônio Mundial
- Patrimônio: No Peru, cidadela de 3,8 mil anos, de uma das civilizações mais antigas do mundo, abre as portas ao turismo
Entre os séculos XVI e XIX, o Império Espanhol transportou através do istmo produtos vindos da Ásia e da América com destino à Europa. Para isso, utilizava uma rede de caminhos e rios para levar as mercadorias da costa do Pacífico até o Atlântico.
— (A rota) Representa muito mais do que uma rede de caminhos históricos, é testemunha viva do papel estratégico do Istmo nos sistemas globais de troca (comercial ao longo da história) — destaca a ministra panamenha da Cultura, Maruja Herrera, após a declaração da Unesco.
Do que hoje são o Peru e a Bolívia, chegavam ao Panamá ouro e prata, enquanto das Filipinas vinham especiarias, porcelanas e tecidos. Para proteger as mercadorias, os espanhóis construíram fortificações.
- ‘Castelo da Cinderela’, que inspirou filmes da Disney, vira Patrimônio Mundial da Unesco; veja fotos
A rota do Panamá foi “importantíssima” para o comércio internacional da época, explica o historiador e professor panamenho Celestino Araúz.
— (A coroa espanhola) Podia abastecer parte de suas colônias com mercadorias europeias e, ao mesmo tempo, obter produtos americanos para a indústria espanhola e do restante da Europa — acrescenta.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/k/I/oeIT2rRCqPmBRWVFqo0A/111720177-files-portobelo-spanish-fortification-ruins-are-pictured-in-portobelo-panama-may-25-20.jpg)
A Rota Transístmica Colonial é composta, na costa do Pacífico, pelas ruínas da primeira capital e pelo Casco Antigo da atual Cidade do Panamá.
Também fazem parte dela, no Caribe, as fortificações da cidade portuária de Portobelo, onde ficava a alfândega, e o forte de San Lorenzo.
As mercadorias transitavam entre as duas costas em mulas, pelo Caminho de Cruces e pelo Caminho Real.
“Na rota de Panamá a Portobelo fluiu 60% da produção de prata da América do Sul em seu caminho para a Espanha”, destaca a Unesco.
Além disso, a rota permitia “transportar mercadorias e pessoas de mar a mar através da parte mais estreita da América, por meio de uma rede tanto militar quanto comercial” que conectava 23 países atuais, acrescenta.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/W/P/LAM2A7TUadjUBMJI0BVw/111720167-files-aerial-view-of-the-cathedral-of-our-lady-of-the-assumption-ruins-in-panama-viejo-1-.jpg)
Mas por essas rotas também passaram, em busca de ouro, o corsário inglês Francis Drake, que morreu em Portobelo, e o pirata galês Henry Morgan, que incendiou a primeira cidade capital.
Em 1532, o rei espanhol Carlos I ordenou a exploração da possibilidade de conectar os dois oceanos com um canal no Panamá.
A rota transístmica é considerada precursora do canal interoceânico, inaugurado em 1914. Como então, a via panamenha é estratégica para o comércio mundial.
— (A rede colonial) Era uma rota transístmica, como viria a ser depois o canal — destaca Araúz. — Não servia apenas para as mercadorias europeias, mas também para o tráfico de escravos negros e os produtos que vinham do Oriente. Não se esqueça que a Espanha tinha possessões nas Filipinas e de lá obtinha produtos da China — acrescenta.