Marcas como Armani, Pininfarina e outras grifes de luxo — normalmente associadas à moda ou a carros esportivos — assinam novos arranha-céus que prometem “redesenhar o horizonte de São Paulo”. Os empreendimentos apostam em design exclusivo, tecnologia e serviços personalizados e estarão entre os prédios mais altos da cidade.
O Cyrela Vista Furnished by Armani, projetado pela Armani Casa, terá duas torres de 206 metros de altura no Jardim Guedala. Parceria entre a Cyrela e a J. Safra Properties, teve a primeira torre lançada no ano passado e a segunda neste ano. As entregas estão previstas para 2027 e 2029, respectivamente. A primeira, em 90 dias, teve cerca de 60 das 94 unidades comercializadas, com valor médio de R$ 40 mil por metro quadrado, totalizando em torno de R$ 1 bilhão em vendas.
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A Cyrela terá outro projeto, com a grife italiana Pininfarina — famosa por desenhar modelos da Ferrari. Com 210 metros de altura, o edifício ainda não foi lançado e não tem data de entrega.
Atualmente, o prédio mais alto da cidade é o Platina 220, no Tatuapé, com 171,7 metros. Segundo o The Skyscraper Center, considerados os empreendimentos em construção, o mais alto será o Alto das Nações, da WTorre, previsto para 2026, com 219m.
De acordo com executivos do setor, a associação com marcas de alto padrão — as chamadas branded residences — pode valorizar os imóveis em até 50% frente a outros empreendimentos de luxo. São Paulo lidera o movimento, puxado pela concentração de empresas e consumidores de maior poder aquisitivo. Para as grifes, o mercado imobiliário se tornou uma nova forma de se reconectar com a clientela, oferecendo experiências duradouras e imersivas.
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Cíntia Lie Matuzawa, professora do Hub de Luxo da ESPM, explica que a pandemia evidenciou um desafio para essas marcas: a necessidade de se diferenciar num cenário onde todas pareciam iguais. Nesse contexto, o investimento em exclusividade ganhou força. E o mercado imobiliário passou a ser visto como oportunidade para criar produtos que se conectem ao estilo de vida do cliente:
— Isso acontece no varejo, na gastronomia, na hotelaria e até em spas — diz.
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Esse movimento se consolidou primeiro em São Paulo, mas já se espalha para cidades como Balneário Camboriú e Goiânia — nesta última impulsionado pela força econômica do agronegócio.
Paulo Porto, professor de Marketing e Vendas Imobiliárias da FGV, explica que, há pouco tempo, o diferencial dos imóveis de luxo em São Paulo estava sobretudo na localização — bairros como Jardins e Pinheiros concentravam os mais exclusivos. Hoje, porém, já surgem em bairros como Mooca e Tatuapé.
— Precisa haver algum destaque. A etiqueta de luxo traz diferenciação de posicionamento imobiliário. E isso é importante para empreendimentos de alto padrão, que não têm 500 unidades, mas 30 unidades, no máximo.
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Um exemplo é a parceria da Gafisa com a Tonino Lamborghini, anunciada em 2021. O Tonino Lamborghini Apartments, com entrega prevista para o fim do ano, terá 17 unidades de 252 m2, cada uma com quatro suítes, além de cobertura duplex de 498m2 e cinco suítes.
Segundo a Gafisa, o prédio segue uma tendência observada em cidades como Miami, Nova York e, mais recentemente, na Ásia: os chamados branded buildings, com assinatura de marcas de luxo. Todas as áreas comuns serão mobiliadas e decoradas com peças importadas da Itália, assinadas pela Tonino Lamborghini.
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Já o Allard Oscar Freire, parceria entre Allard e Gafisa, é inspirado no movimento modernista brasileiro e terá 33 andares. Projeto do Ateliers de France, escritório que integrou o restauro do Palácio de Versalhes, na França, além de outros projetos emblemáticos.
Além do design exclusivo, os serviços também são importantes nesse tipo de empreendimento, diz Cintia. Em muitos casos, há limpeza do apartamento incluído, clínicas especializadas para pets, serviço de transporte e armazenagem de alimentos, passadoria com entrega organizada no armário, arrumação de malas, mordomos, floristas e chefs.
Essa associação entre construtoras e marca de luxo, resume, é uma nova forma de co-branding:
— São marcas se associando para potencializar o valor. A diferença é que o cara consegue até 30% a mais em valor, ou até 50% a mais.
Alessandro Bartelle, fundador e CEO da Barts&Co, conta que esse movimento se chama brand residence, que une imóveis de alto padrão a marcas consagradas. A ideia, diz, é transformar o imóvel em um centro de lifestyle. A empresa, especializada em lançamentos de imóveis de luxo, desenvolveu uma tecnologia de realidade virtual que permite aos clientes visitar apartamentos antes do lançamento, checar elementos visuais em detalhes, andar pelos cômodos e conferir a vista.
É por isso que muitos desses empreendimentos também oferecem infraestrutura de bem-estar completa: spas de padrão internacional, estúdios de yoga, salas de recuperação e áreas esportivas. Há também curadoria de arte e design tanto nas áreas comuns quanto nos apartamentos, além de sistemas de automação e conectividade que reforçam o estilo de vida que a marca representa.
O Faena São Paulo, construído pela Even, por exemplo, conta com profissionais dedicados a trazer comodidade aos moradores, disponíveis para atender necessidades diversas, incluindo reservas em restaurantes, ingressos para espetáculos, serviços de manutenção veicular, passeios com animais de estimação e lavanderia.
— É uma experiência também aspiracional de moradia, que traz status, conforto, identidade da marca para os clientes e uma valorização do ativo — diz Cintia.
A altura dos empreendimentos também é fundamental para valorizar as unidades:
— A vista panorâmica valoriza as unidades. Também está relacionado a viabilizar os investimentos, até por conta dos serviços — diz Bartelle.

