Pelo menos dez árvores na Rua Desembargador Athayde Parreiras, no Bairro de Fátima, sofreram podas agressivas na última terça-feira (18). Em alguns casos, a árvore perdeu todos os galhos. O trabalho de poda foi realizado pela concessionária de energia Enel, o único órgão na cidade, além da prefeitura, que tem autorização para fazer esse tipo de serviço.

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De acordo com o vereador Daniel Marques (PL), presidente da Comissão Permanente de Meio Ambiente e Direitos dos Animais da Câmara Municipal, que denunciou as podas nas redes sociais, o trabalho de poda realizado pela Enel é baseado em um Termo de Ajustamento de Conduta firmado há 11 anos e que precisaria ser atualizado.

— A prefeitura tem melhorado nessa atuação das podas, com biólogo responsável. O problema da Enel é que o serviço de poda é terceirizado. Pedimos que seja feita capacitação, mas muda a empresa, muda o funcionário, e sempre é um problema — afirmou.

Segundo Marques, a comissão está criando um programa com o objetivo de levantar locais e calçadas que não tenham conflito com fios, para indicar à prefeitura os pontos aptos para o plantio de novas árvores.

Algumas das árvores perderam todos os galhos — Foto: Divulgação

Mas apenas o replantio não é o suficiente, de acordo com a professora Louise Lomardo, da Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFF. Em alguns locais da cidade onde árvores foram cortadas, houve replantio de mudas de espécies não adequadas para eliminar as ilhas de calor.

— No Centro foram cortadas dezenas de amendoeiras e outras árvores, e colocaram no lugar palmeiras, que não produzem sombras. O asfalto e o concreto absorvem radiação solar e emitem esse calor quando o sol se põe. As árvores contêm isso — explicou.

Tramita na Câmara um projeto de lei enviado pelo Executivo que prevê a substituição gradual de redes aéreas por subterrâneas, mediante planejamento com concessionárias. De acordo com a professora, essa seria a solução ideal para evitar novos cortes. No entanto, ela lembra a dificuldade da prefeitura do Rio de implementar a lei em vigor do plano diretor da cidade, aprovado em 2011, que obrigava o aterramento dos fios presentes nos postes até 2016: no Rio, a concessionária Light, respaldada por uma decisão do STF, sustentou que só a União pode legislar sobre o assunto, e o projeto está parado.

Levantamento do Instituto de Defesa dos Consumidores (Idec), exclusivo para O GLOBO, mostrou que, de 2009 a agosto de 2024, foram registradas cerca de 36 mil ocorrências envolvendo fiações da rede elétrica e de telecomunicações no país. Mais de quatro mil pessoas morreram.

— Em Buenos Aires, na Argentina; e Montevidéu, no Uruguai, existem ruas arborizadas lindíssimas, e a fiação muitas vezes é subterrânea. São países com economias equivalentes ou até mais pobres que a brasileira e conseguem conservar as árvores. Além de proteger do calor, essas árvores sequestram o CO2 da atmosfera. É uma maneira de purificar o ar. Mas isso é feito com árvores de porte — detalhou.

A Enel Rio informou que as podas seguem normas estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas e manuais de poda, além da legislação municipal.

“A empresa faz a chamada ‘poda de adequação’, que consiste em remover os galhos, sem comprometer a saúde da árvore. O trabalho é autorizado previamente pela autoridade municipal, que é a responsável pela gestão da arborização urbana”, informou a concessionária. Segundo a Enel, em 2024 foram feitas 33.652 podas em Niterói.

concessionária deixa árvores sem galhos em Niterói