Após procurar em diversos estados do país um local para viver e produzir vinhos, o americano Michael Scott Carter comprou uma propriedade em Monte Belo do Sul, (RS) durante a pandemia. Seus vinhos estão entre os primeiros brasileiros criados por um homem negro, que busca elaborar rótulos que simbolizam a união de histórias e culturas e aprofundam os laços entre o Brasil e a diáspora africana.
O projeto teve início com 8 hectares, que, em breve, serão de 20 a 25 hectares. E ele pretende ainda produzir espumantes. Carter foi casado com uma brasileira e tem filhos brasileiros. Ele fala português, mas preferiu apresentar em inglês os quatro rótulos que elaborou, contando com a ajuda de um tradutor.
Ele lembra ainda que foi proprietário de restaurante em Chicago e não encontrava no mercado vinhos brasileiros:
— Em meus anos nos Estados Unidos e também na Inglaterra, não tínhamos vinhos brasileiros. Mesmo tendo a melhor carta de vinhos e um dos melhores restaurantes de Chicago.
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Em visita ao Rio, Carter apresentou quatro de seus rótulos na Cave Nacional, gastrobar especializado em vinhos nacionais. Um deles é o fresco e delicado Ilé Amò, um vinho branco com nome em iorubá:
— O nome é, na verdade, uma das questões mais importantes. É um dos nossos esforços para preencher a lacuna, a lacuna histórica, focar na terra. Ilé Amò fala sobre amor, a essência do amor e, de certa forma, a magia que você vivencia aqui no Brasil. É uma aventura, e estamos tentando fazer com que todos saibam que estamos construindo uma aventura na garrafa.
O Ilé Amò apresenta aromas sutis de frutas de polpa branca e cítricas, como pera e limão, combinados com nuances de flores brancas e um leve toque herbáceo. Ideal como aperitivo ou para acompanhar pratos leves e saladas.
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O vinho rosé Ilé Amògo foi criado buscando não só o que Carter aprecia, mas também de olho no mercado:
— No caso de um cantor que lança um álbum e acha que a quarta música é a melhor que já fez, ele pode descobrir que, para as pessoas, aquela canção não está entre as cinco melhores. Então, ao criar o vinho, ele buscou esse equilíbrio entre o que ele gosta e o que as pessoas também gostam. É um rosé com sabores e aromas vibrantes de frutas vermelhas.
Carter conta que um dos problemas que ele vê nos vinhos rosés é que, muitas vezes, eles não têm sutilezas e camadas:
— Gosto de sabores complexos. Como quando cozinho em restaurantes, meu negócio é criar camadas de sabores para que a receita fique equilibrada e você tenha uma experiência. E a ideia com o rosé era criar uma sutileza de sabor. Mas a questão é que precisamos encontrar as uvas, os blends e o processo para conseguir criar isso, mantendo a integridade.
O vinho harmoniza com frutos do mar e pratos da culinária mediterrânea.
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Já o tinto Ilé Amora tem perfil frutado. No nariz, apresenta aromas de cereja, framboesa e um toque sutil de especiarias doces. No paladar, os sabores de frutas vermelhas se destacam, juntos a notas de baunilha e especiarias.
— O que buscamos criar com o tinto foi um vinho que permita que as pessoas o bebam juntas, facilmente. Eu morei na Inglaterra, onde fiz Direito e Economia e uma pós-graduação em Economia. Muitas vezes, na minha experiência com vinhos, você se vê em apuros com vinho, porque diz: “Olha, vamos fazer alguma coisa e tomar uma garrafa de vinho”. Mas o vinho é como os relacionamentos. É uma representação de você. E na Inglaterra, se você levasse uma garrafa de vinho ruim para a casa de alguém, você seria conhecido como a pessoa que traz vinhos ruins para a casa das pessoas. O que tentamos fazer é garantir que você tivesse uma ótima garrafa de vinho para levar para um amigo — afirma Carter.
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Já o Michael Scott Carter Tinto Reserva é o espelho da vinícola, como descreve o produtor:
— Esse vinho revela o que estamos desenvolvendo. É um resumo, mas não do fim. É um resumo do começo da jornada. São muitas experiências, muitas demonstrações, sempre sendo aprimoradas. Ele é o produto do que estamos amadurecendo e do esforço constante.
O reserva revela aromas de frutas escuras, como ameixa e amora, complementados por notas de tabaco, couro, especiarias e nuances adocicadas provenientes do carvalho. No paladar, é encorpado e com sabores de camadas de frutas maduras, chocolate amargo e um toque de carvalho tostado.
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Os vinhos são vendidos no site da marca. Os preços são: o branco Ilé Amò (R$ 167); o rosé Ilé Amògo (R$ 159); o tinto Ilé Amora; e o Tinto Reserva (R$ R$ 254).