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O bloqueio da ajuda humanitária e a retomada dos bombardeios pelas Forças Armadas israelenses fizeram os preços dos alimentos dispararem. Segundo levantamento do jornal israelense Haaretz, um quilo de pepinos, que custava seis shekels (R$ 9,40) durante o cessar-fogo, agora custa 27 shekels (R$ 42). Um quilo de batatas, que costumava custar três shekels (R$ 4,70), agora custa 40 shekels (R$ 62). O preço do açúcar aumentou 300% e o preço do arroz, 200%. Uma caixa de ovos agora é vendida por 80 shekels (R$ 125) e um quilo de carne por 100 shekels (R$ 156,80).
— Os alimentos acabaram. Água potável, fraldas e material de limpeza, o que temos é suficiente para apenas dois ou três dias. Depois disso, o que acontecerá conosco? — pergunta Riam, um morador local, em uma entrevista ao Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha, em inglês). — Meu filho chora a noite toda porque está com fome e eu não tenho comida para dar a ele.
Durante a vigência do cessar-fogo, firmado em 19 de janeiro, organizações de ajuda humanitária e as Nações Unidas conseguiram levar grandes quantidades de alimentos ao enclave. Mas desde o bloqueio, há diversos relatos de escassez, sobretudo de produtos perecíveis, como carne e leite.
Os agricultores de Gaza conseguiram consertar alguns de seus campos e cultivar vegetais, mas os preços são muito altos e a disponibilidade é baixa, segundo o Hareetz. Em entrevista ao Centro de Informações Palestinas, Abdel Rahman, um comerciante de al-Zawiya, relatou sua situação:
— As pessoas perguntam sobre os preços e vão embora sem comprar. Uma caixa de ovos subiu para 80 shekels. Quem pode pagar por isso? O cerco acabou com os negócios e privou as pessoas de seus direitos básicos.
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Mercados e lojas que abriram durante o cessar-fogo ainda estão funcionando, mas estão se esvaziando gradualmente.
— Esta semana fui ao supermercado. Ainda há alimentos enlatados, mas as prateleiras de alimentos frescos estão totalmente vazias — disse a porta-voz da Ocha, Olga Cherevko, ao Hareetz. — Comprei três batatas por 40 shekels e elas não pareciam muito boas. O preço da farinha também está mudando. Um saco de 25 quilos pode sair por 100 shekels. No norte, é mais barato do que no sul. Os tomates podem custar 45 shekels (R$ 70) o quilo. A principal preocupação é o que acontecerá se o suprimento não voltar, se a situação não mudar. Todos estão fazendo a mesma pergunta.
O gás de cozinha e a gasolina também estão em falta, afetando o acesso à energia. Desde que Israel cortou a linha de eletricidade que abastecia a usina de dessalinização de água, a sua produção caiu vertiginosamente. A usina, que normalmente produz 18 mil metros cúbicos de água por dia, passou a usar diesel para o seu funcionamento e agora produz apenas 2.500 metros cúbicos diários. Segundo um relatório da Ocha, apenas uma em cada 10 pessoas em Gaza tem acesso a água potável.
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Na semana passada, seis das 25 padarias operadas pelo Programa Mundial de Alimentos da ONU precisaram ser fechadas devido à falta de gás de cozinha. Outras padarias passaram a usar fornos a lenha, mas os moradores dizem haver escassez de madeira. Três membros de uma família morreram há duas semanas enquanto tentavam catar lenha no sul de Gaza, informaram autoridades de Gaza. Israel, por sua vez, afirmou que eles eram terrorista tentando colocar bombas.
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A escassez de combustível e de materiais de construção também tem dificultado a reconstrução e o reparo da infraestrutura destruída pela guerra. De acordo com a ONU, cerca de um milhão de pessoas ainda estão vivendo em tendas, enquanto dezenas de milhares permanecem em campos para deslocadas. Muitas pessoas encontraram abrigo em espaços escavados ou em edifícios danificados, sob risco de desabamento.
As autoridades de Gaza conseguiram remover grandes pilhas de entulho das estradas, permitindo que a maioria das vias fosse aberta ao tráfego. No entanto, os moradores locais relatam que essas pilhas estão aumentando à medida que mais pessoas começam a remover os escombros de suas casas.
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A ONU estima que existam entre 41 e 47 milhões de toneladas de escombros em Gaza. O Banco Mundial calcula que 292 mil unidades habitacionais (61,8% do total) e 81% da rede rodoviária de Gaza foram danificadas ou completamente destruídas.
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O Programa Ambiental da ONU estima que 2,3 milhões de toneladas de lixo podem estar contaminadas com amianto. Além disso, milhares de munições não detonadas ainda estão enterradas sob os escombros. Desde o início de 2025, foram registrados 18 casos de explosões desses artefatos, matando ao menos três pessoas.
Organizações internacionais também relatam esgoto inundando as ruas e uma enorme crise de saneamento.
— O esgoto está correndo por toda parte, e tudo está coberto de lixo — diz Cherevko ao jornal israelense. — O cheiro é insuportável. É inconcebível o tempo que será necessário para restaurar esse lugar a algum tipo de normalidade. Nenhum vídeo ou foto pode realmente transmitir isso.