A Avenida Paulista, símbolo da maior metrópole brasileira, nunca esteve tão vigiada. Desde março, a prefeitura tem alocado um número ostensivo de guardas civis na via, para melhorar a segurança do cartão-postal que, no primeiro bimestre, encabeçou a lista de locais com mais furtos e roubos de celular na cidade. Ao mesmo tempo, a Polícia Militar também reforçou a presença na área. Os efeitos do patrulhamento ampliado, porém, são sentidos de modo distinto: dados da Secretaria de Segurança Pública analisados pelo GLOBO mostram que a criminalidade caiu na própria via — embora a um nível ainda elevado de cinco ocorrências diárias, em média —, mas subiu em pontos importantes do entorno, indicando uma possível migração dos assaltantes e gerando críticas de especialistas.
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Entre 21 de março e 20 de abril, primeiro mês da Operação Paulista Mais Segura, houve 160 casos de roubos e furtos na avenida. O número representa uma queda de 31% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram registrados 233 delitos similares. No segundo mês da ação da prefeitura, entre abril e maio, o problema se manteve no mesmo patamar: foram 159 roubos e furtos. Em paralelo, houve um aumento dos crimes em áreas vizinhas como a badalada Rua Augusta e trechos da Avenida Nove de Julho.
Na manhã de terça-feira, ao menos 25 viaturas da Guarda Civil Metropolitana (GCM) ou da PM estavam posicionadas nas largas calçadas pelos 2,8 quilômetros da via. Segundo a prefeitura, 376 agentes monitoram a área de forma fixa ou em movimento, atuando na Paulista e em quadras adjacentes, totalizando 18 quarteirões de cobertura. Além disso, 52 câmeras de segurança com reconhecimento facial, integradas ao programa Smart Sampa, foram instaladas na avenida. A Polícia Militar não informou o efetivo empregado no local.
Em diversos trechos, é possível se deparar com as duas forças — PM e GCM — muito próximas, por vezes posicionadas a poucos metros uma da outra. Na última terça-feira, na altura do número 1.313, onde fica a sede da Fiesp, três viaturas da Guarda estavam paradas no lado ímpar, onde fica uma base móvel do Smart Sampa. Do outro lado, no mesmo ponto, havia um carro da PM com dois policiais que observavam o vai e vem.
— O problema é que, tendo polícia aqui, os caras (criminosos) só mudam de lugar. Tinha que expandir isso para toda a região — opina Guilherme Lima, de 27 anos, dono de uma banca de jornal na esquina com a Rua Treze de Maio, uma dos trechos mais perigosos da avenida, com 15 furtos e roubos entre março e abril. — As pessoas vêm do mundo todo para conhecer a Paulista. Chegar aqui e ser roubado é sacanagem.
Especialistas veem uma intenção “marqueteira” na estratégia adotada pelas autoridades. Para José Vicente Filho, coronel reformado da PM e estudioso da segurança pública, a operação é uma espécie de “policiamento de vitrine”.
— Não faz sentido plantar uma viatura da PM e da GCM a cada esquina. O policiamento ostensivo tem como característica a mobilidade, para que o criminoso não saiba quando pode encontrar o policial. Com a viatura fixa, isso se perde, e o efeito preventivo fica limitado a uma pequena área — diz o especialista.
Rafael Alcadipani, professor da FGV e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, vai na mesma linha:
— O senso de prioridade ali parece ser a visibilidade positiva para o prefeito, a iniciativa é muito mais uma agenda política. Quando você tem esse tipo de operação, o resultado clássico é o crime apenas migrar.
Após o início da operação, 26% dos roubos e furtos estão concentrados numa área que equivale a apenas 2% do território coberto pelas quatro delegacias da região. No balanço geral, a avenida ficou mais segura em praticamente toda a extensão, mas quadras próximas viram um aumento de ocorrências.
Um ponto problemático é próximo à Rua Augusta, cuja esquina mais perigosa é com a Rua Fernando de Albuquerque, onde foram registradas 41 ocorrências entre março e abril, quase o triplo da zona mais tensa da Paulista. O nutricionista Jhonny Almeida, de 21 anos, trabalha na região e já presenciou furtos de celular pela chamada “gangue da bike” — por isso, evita a todo custo olhar o aparelho quando caminha pela Augusta.
— Não me sinto seguro. Já vi uma pessoa sendo roubada na minha frente — narra.
Outra área com piora nos índices é o trecho da Av. Nove de Julho próximo à Praça 14 Bis. Ali, foram registrados 25 roubos e furtos a mais na comparação deste ano com 2024.
A Secretaria municipal de Segurança Urbana diz, por nota, que “avalia constantemente a necessidade de reposicionamentos estratégicos das equipes para os pontos que demandam maior atenção”. Já a Secretaria estadual de Segurança Pública afirma que as bases e as viaturas da PM na Paulista foram instaladas em “pontos estratégicos”