Dira Paes, 56 anos, reconhecida guardiã da Amazônia, vive um momento vigoroso nas telas e fora delas. Na TV, ela é uma das protagonistas de “Três Graças”, novela da Globo. Sua personagem, Lígia, desenvolve uma grave doença pulmonar após tomar remédios falsificados.
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— Gosto de como o Aguinaldo Silva botou ela na rua. A pesquisa sobre a doença é grande. E o impacto também. Eu já recebo um retorno imenso do público — diz.
A menos de três semanas do início da COP-30, em Belém, cidade que fica a 125 km de Abaetetuba, onde nasceu, Dira projeta participação no evento internacional, a depender da agenda de gravações. Lá, serão exibidos dois filmes com ela. Em “Manas”, a atriz interpreta a delegada Aretha, uma policial que investiga casos de violência sexual contra crianças na Amazônia. Em “Pasárgada”, o primeiro dirigido e escrito pela própria, ela interpreta Irene, uma observadora de pássaros que numa floresta realiza uma pesquisa sobre as aves e, ao lado de Manuel (Humberto Carrão), acaba se conectando com a natureza.
No exterior, “Manas”, de Mariana Brennand, foi celebrado e abraçado por estrelas como Julia Roberts e Sean Penn. Por parte do público, a reação à história também impressiona Dira:
— O filme continua viajando. Estivemos juntos no último fim de semana, em sessões do Festival do Cinema Brasileiro no Canadá. Ao longo da trajetória e da jornada, a gente foi entendendo que ele repercute em qualque país e língua. É um filme contundente, ninguém passa incólume. A força do filme vem numa verticalidade. Houve a adesão do Sean Penn, que acabou de ser homenageado em Lion, na França. Numa retrospectiva dos filmes para homenageá-lo, ele pediu para “Manas” ser incluído. É realmente lindo ver o filme voar. Toda a sessão, quando se trata de questões como o abuso, alguém levanta dizendo: “Você está contando a minha história”. E isso não acontece no Marajó apenas. Acontece em Paris, em cidades da Alemanha. Não tem como localizar esse problema como mazela de lá. O recorte é importante porque mostra que em lugares recônditos é difícil. Mas também é nas metropoles, com visibilidade, com acesso à informação.
Este mês, Dira Paes ganhou reconhecimento, em votação unânime na Universidade Federal do Pará, como Doutora Honoris Causa. O título foi concedido por conta de a paraense ter se tornado referência nacional das artes cênicas e pela visibilidade à cultura amazônica. Em entrevista à coluna, ao comentar sobre os filmes e sobre a participação em eventos pela causa ambiental, ela celebra uma consciência maior da população em relação à natureza:
— Antigamente, a gente era chamado de “ecochato” porque falava sobre a natureza. Agora, existe o reconhecimento. E, para a COP, estamos com os olhos abertos e atentos aos movimentos que serão propostos. O Brasil é um país em desenvolvimento e o que mais respondeu ao carbono zero e aos pactos globais. Estou preocupada com o comprometimento das primeiras potências. Elas são as maiores consumidoras e poluidoras no mundo e têm que dar exemplo a países em desenvolvimento.
A proteção e a valorização do maior bioma do mundo, para a atriz, deve partir dos brasileiros. Para ela, no entanto, a atitude humana diante da floresta não deve ser de interesses escusos:
— O olhar para a Amazônia ainda é um olhar exploratório. Todo mundo que vai quer receber algo, sentir algo especial. Mas o que as pessoas fazem pela Amazônia? — questiona. — Os amazônidas são os verdadeiros guardiões dessa floresta imensa, que ainda pulsa paradisiacamente, mas, quando é escavada e queimada, se torna um deserto. A gente não quer isso. Não queremos desertos. O mundo já tem muitos. Precisamos da nossa floresta, e o país precisa de esperança.
Meio ambiente e luta feminina estão no trabalho da paraense e também são debatidos fora da vida profissional. Mãe de dois meninos, Martin, de 11 anos, e de Inácio, de 17, ela conta que tem papos abertos que incluem direitos das mulheres e a importância de homens também assumirem papéis de cuidado:
— Eles têm um discurso atualizado. Na minha esfera, percebo que houve um avanço nesse sentido. Mas discurso é uma coisa e a prática é outra. Eu cerceio, tento educar nas ações. E pelos meus erros, peço desculpa. Não somos perfeitos. A minha geração aprendeu e aplicou rápido muita coisa. Fomos ensinados a ser preconceituosos, elitistas, antipatriotas. E fomos nos reeducando.
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