Há 32 anos na TV Globo, César Tralli já fez de tudo um pouco: foi repórter, correspondente internacional, apresentador de jornal local, de programa da GloboNews e de rede. Agora, o jornalista se prepara para seu maior desafio: o de apresentador e editor executivo do Jornal Nacional, a partir de novembro, quando William Bonner deixa o cargo e passa a apresentar o Globo Repórter juntamente com Sandra Annenberg.
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Abaixo, selecionamos cinco momentos importantes da carreira de Tralli na Globo.
Tralli havia acabado de chegar a Londres para o posto de correspondente internacional em 1994 quando o primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, levou dois tiros nas costas e morreu. O político comandava acordos de paz entre israelenses e palestinos e foi assassinado pelo estudante israelense Yigal Amir, ligado a um grupo de extrema-direita.
O paulista foi responsável por algumas das matérias, do JN e do Fantástico, tanto sobre o líder israelense, quanto sobre o caso, que se desenrolou nos dias subsequentes.
A menina que chorava cristais
Ainda correspondente em Londres, Tralli viajou para o Líbano com o objetivo de reportar um caso surpreendente que acontecia no Oriente Médio na época: o da menina que chorava cristais. Ao Memória Globo, Tralli contou como a pauta se deu:
“Ela chamava Hasna. Era uma história bem marcante, porque ela já tinha virado notícia no Oriente Médio. Quando essa notícia chegou a Londres, a gente falou: ‘Isso dava uma reportagem boa para o ‘Fantástico’, a menina que chorava lágrimas de vidro’. Ninguém entendia como ela fazia isso, se era um fenômeno natural, se era uma farsa. (…) A gente foi à casa dela, mostrou ela chorando as lágrimas de vidro. E você ficava impressionado, caía uns pedaços de vidro do olho da menina, das laterais. E ela não pedia para ir ao banheiro, você não via nenhum movimento estranho no sentido de que: ‘Ah, de alguma forma ela bota e depois expele’. Não, você pedia para ela chorar, ela chorava. Você pedia dez vezes, ela chorava dez pedacinhos de vidro. E aí a gente fez essa matéria para o ‘Fantástico’. Foi um acontecimento”.
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Três dias depois, ele precisou voltar ao Líbano. O motivo: foi descoberto que tudo era uma farsa. O pai da menina a obrigada a colocar pedaços de vidro dentro do canal lacrimal. Ele, então, fez uma outra matéria para o JN.
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“Uma junta de médicos do Líbano tinha feito um estudo sobre a menina e comprovado que aquilo era uma farsa, que o pai dela, de alguma forma, ajudava ela a colocar essas lascas de vidro no olho, até hoje eu não sei como, e ela chorava esses pedaços de vidro. Mas o olho dela não riscava, não saía sangue. A gente fez a matéria contando que aquilo se tratava de uma farsa. Até hoje eu tenho dúvida do que realmente aconteceu ali, porque ela já estava incomodando a classe religiosa, aristocrática do Líbano. E acho que queriam dar um basta nessa história da Hasna, que estava realmente ganhando uma dimensão muito grande fora do Oriente Médio”.
Já de volta a São Paulo, Tralli participou da cobertura de um dos crimes brasileiros mais bárbaros deste século: o assassinato do casal Manfred e Marísia Von Richthofen, em 31 de outubro de 2002, planejado pela filha deles, Suzane Von Richthofen, à época com 18 anos. Ela teve ajuda do namorado, Daniel Cravinhos, e do irmão dele, Cristian Cravinhos.
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No dia 8 de novembro, quando Suzane e os irmãos Cravinhos já haviam sido presos, Tralli fez uma matéria para o JN que mostrava imagens inéditas de dentro da casa da família.
Em Santo André, região metropolitana de Santo Paulo, Lindemberg Alves não aceitou o término do relacionamento com Eloá Pimentel e, no dia 14 de outubro de 2008, entrou na casa da menina, de 15 anos, e a fez de refém ao lado da amiga dela, Nayara Rodrigues.
O sequestro durou 100 horas e terminou com Nayara ferida e Eloá morta. César Tralli teve uma atuação fundamental no caso. Uma reportagem sua, exibida no dia 21 de outubro, mostrou o que, de fato, aconteceu no dia em que a polícia estourou o cativeiro. A versão oficial da PM de São Paulo é que o imóvel foi invadido depois que os policiais ouviram disparos. Tralli, no entanto, provou na reportagem —após ajuda de perícia e análise das imagens das câmeras da Globo, que filmou toda a ação — que os disparos do sequestrador só aconteceram depois da entrada da PM no apartamento.
“O caso Eloá nos chamou atenção pela trapalhada da ação da polícia na invasão do apartamento. Após quatro dias, achávamos que haveria planejamento. A polícia defendeu que a invasão foi necessária porque tinham ouvido um disparo”, relembrou Tralli no Memória Globo. “A gente ficou desconfiado e começou a pegar as fitas brutas, que eram gravações de câmeras de link, posicionadas perto do local. Fizemos uma linha do tempo e ficou provado que não houve disparo, que todos os disparos eram sequenciais à invasão do apartamento, que quando a polícia invade o apartamento, o rapaz tem tempo de matar a Eloá, de atirar na outra garota e ainda de atirar contra os policiais. Então, a gente reconta o caso demolindo a tese da polícia de que eles invadiram porque ouviram um tiro”.
Em 2012, César Tralli já era apresentador do “SPTV 1ª Edição”, o telejornal local de São Paulo e, por causa do Corinthians na final do Mundial de Clubes, ele foi acompanhar o time no Japão. O jornalista foi pé quente: o time paulistano acabou campeão do torneio, vencendo o Chelsea.
Mesmo com o fuso horário de 12 horas a mais, Tralli fez entradas ao vivo no telejornal e matérias especiais sobre os jogos, torcidas, costumes locais. Ao todo, a TV Globo mandou 30 profissionais para o evento.