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‘É simples, mas muda vidas’

BRCOM by BRCOM
setembro 21, 2025
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Em Medellín, quase todos as áreas periféricas estão conectadas ao sistema integrado de transporte — Foto: Divulgação

De cidade mais violenta do mundo a exemplo global de urbanismo social, Medellín viveu uma virada histórica nos últimos 30 anos. Quem ajuda a contar essa revolução é o colombiano Santiago Uribe Rocha, atual diretor-executivo da Corporación Oficina de Resiliencia de Medellín (Colômbia).

Diretor de Resiliência da cidade entre 2014 e 2020, o antropólogo e gestor de políticas sociais é um porta-voz de um urbanismo que, ao longo de sucessivas gestões locais, construiu bibliotecas em periferias, transformou lixões em centros tecnológicos e tirou as áreas mais pobres do isolamento com projetos de mobilidade. Segundo Uribe, as ações para reduzir a desigualdade social foram essenciais na redução da criminalidade na segunda maior cidade de seu país.

Uribe participa Rio Construção Summit 2025, que acontece de 24 a 26 de setembro no Píer Mauá, Centro do Rio, discutindo questões como a redução do déficit habitacional, o aprimoramento da infraestrutura e o desenvolvimento urbano. No dia 25, às 10h30, na Arena Firjan, o colombiano vai ministrar a conferência “Da Crise à Inovação Urbana: Lições da Reinvenção de Medellín”.

Em entrevista ao GLOBO, Rocha defende um planejamento urbano voltado para as populações mais pobres e afirma que as experiências de Medellín só foram possíveis graças à continuidade política.

Rio e Medellín compartilham problemas como insegurança e desigualdade social, que refletem no urbanismo. O que as duas cidades podem aprender uma com a outra?

Há muitas semelhanças entre elas. Muitos projetos de Medellín foram inspirados em cidades brasileiras. Vocês foram os primeiros que, lá atrás, nos anos 1990, olharam para a periferia com a intenção de fazer uma revolução urbana. O problema é que essas políticas não tiveram continuidade. Em Medellín, há 30 anos seguimos de forma sistemática. Esse aprendizado pode ser replicado em cidades do mundo e do Brasil. No Recife, temos os Centros Comunitários da Paz (equipamentos públicos que trazem espaços culturais e assistência jurídica em regiões consideradas vulneráveis). No Rio, o teleférico do Complexo do Alemão (que está previsto para ser reativado). Ambos foram inspirados em Medellín, mas com adaptação local.

Qual é o impacto do urbanismo social na segurança pública?

O problema não é a violência ou a segurança em si, mas sim as enormes desigualdades que existem. Infelizmente, nas cidades latino-americanas, essas desigualdades costumam ser resolvidas por meio de conflitos violentos. Acredito que uma cidade deve gerar riquezas, mas também reduzir desigualdades. Em muitas favelas ou comunidades periféricas das cidades da América Latina, o único contato com o Estado é com a polícia. Não há outro serviço público presente. A resposta inevitável é a violência. Por isso, é preciso levar o melhor do Estado através da arquitetura, do urbanismo e de projetos sociais para as áreas mais pobres e fechar esse abismo de exclusão socioespacial.

Em Medellín, criamos o conceito de “espaços protetores”: escolas, praças, bibliotecas onde a violência não entra. Isso mudou territórios inteiros. Hoje, homicídios acontecem quilômetros longe das escolas. Temos uma rede de 32 bibliotecas-parque. As melhores bibliotecas da cidades estão na periferia. Não podemos criar comunidades isoladas, temos que conectar as pessoas às oportunidades.

Em Medellín, quase todos as áreas periféricas estão conectadas ao sistema integrado de transporte — Foto: Divulgação

Alguns urbanistas defendem que a saída é adensar as áreas centrais, trazendo moradores para perto da infraestrutura já existente.

É preciso fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Se você se concentra apenas na centralidade, melhorando o centro e conectando a periferia, mas a periferia continua com condições urbanísticas precárias, de baixa qualidade, a integração social não acontece completamente. Portanto, é necessário fazer as duas simultaneamente.

Medellín é um exemplo de renovação urbana. Como essa mudança foi possível na prática?

Temos uma estratégia que chamamos de Projetos Urbanos Integrados. A prefeitura concentra, durante um período de tempo, boa parte dos recursos e do conhecimento em um único território, aquele que mais precisa, e ali desenvolve muitos projetos urbanos: parques, bibliotecas etc. Nos últimos 30 anos, Medellín fez isso repetidas vezes.

Transformamos um antigo lixão na área central (Jardim Moravia) em um hub de inovação, um parque tecnológico, um centro de inovação para a educação de professores e um parque de ciência e tecnologia para crianças. Transformamos uma antiga prisão feminina, que ficava na periferia, em uma cidade universitária, onde hoje funcionam seis universidades juntas, no mesmo espaço. Levamos também para os bairros periféricos as casas da música para os jovens. No ano passado a Colômbia ganhou 14 prêmios Grammy. Nove deles foram de Medellín.

Jardim Moravia: de lixão a centro tecnológico — Foto: Divulgação
Jardim Moravia: de lixão a centro tecnológico — Foto: Divulgação

Qual é a importância da mobilidade no modelo social de Medellín?

Vou dar um exemplo muito simples: todas as universidades de Medellín têm uma estação de metrô ou do sistema integrado de mobilidade. E quase todas as periferias da cidade estão conectadas ao sistema integrado de transporte com teleférico, bondinho, VLT, BRT. E você, com uma única passagem e um único cartão, circula em todo o sistema. Isso garante que todos cheguem ao trabalho. É simples, mas muda vidas. Se você tem que ficar duas horas preso no trânsito para se deslocar, então sua cidade não é desenvolvida.

Houve resistência política a todos esses projetos?

Não. Porque os prefeitos entenderam que não eram obras de um governo, mas parte de uma transformação coletiva. Em Medellín, o melhor capital político é terminar o projeto deixado por outro prefeito, mesmo de oposição. Além disso, nossa reforma política permitiu candidaturas independentes, sem partido. Isso renovou a política: os últimos seis prefeitos de Medellín foram independentes e terminaram seus mandatos com altíssima aprovação.

Até há pouco, falava-se que as experiências urbanas iriam definir as políticas do futuro. Hoje, o que vemos, especialmente nos países desenvolvidos, é uma polarização entre os ambientes cosmopolitas da cidade e um interior muitas vezes mais conservador. Regredimos?

O grande desafio é equilibrar o urbano e o rural. Precisamos olhar para modelos alternativos de arquitetura e de desenvolvimento sustentáveis, porque isso não é uma questão de esquerda ou direita. Você sabe quem fez todas essas políticas sociais em Medellín? Foram prefeitos de centro direita. Mas as políticas sociais não pertencem a ninguém. Elas são feitas para a sociedade, para os territórios, para as pessoas. O que você precisa são dados, informações que comprovem que o que está sendo feito dá resultados.

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