Os juízes de linha estavam associados de forma inerente a Wimbledon no mesmo nível que seus tradicionais morangos com creme. A substituição deles este ano pela tecnologia provocou um debate entre jogadores e torcedores.
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O ex-tenista norte-americano John McEnroe foi durante anos um dos principais críticos dos elegantes e discretos juízes de linha, mas agora são eles que estão “fora” do torneio de grama de maior prestígio, substituídos por um sistema chamado Live Electronic Line Calling (ELC), baseado em inteligência artificial.
Alguns tenistas lamentam o fim de uma tradição de 148 anos no All England Club, no Sudoeste de Londres.
— Era parte da alegria de ir a Wimbledon, a tradição. Eu adorava quando todos apareciam com seus uniformes — opina Fiona Jones, uma empresária de 52 anos. — A tecnologia é boa, mas acho que definitivamente algo se perdeu com a ausência deles — acrescenta, afirmando que sente o fundo da quadra “vazio”.
Desde 2007, os juízes de linha já trabalhavam com o apoio da tecnologia.
Quando o árbitro pedia a repetição em vídeo de um lance duvidoso, uma onda de emoção tomava conta das arquibancadas, com os espectadores aplaudindo de forma ritmada enquanto a imagem surgia no telão.
Outra torcedora, Marie Sal, de 26 anos, confessa que sente falta da participação do público, bem como da “energia e do drama”.
No último mês de outubro, Wimbledon anunciou que abriria mão dos juízes de linha para dar lugar ao ELC, em linha com decisões tomadas anteriormente pelo Aberto da Austrália e pelo US Open.
— Não consigo ouvir bem a voz, está um pouco baixa — reclamou a chinesa Yuan Yue após sua partida da primeira rodada em uma quadra externa. — Pedi ao árbitro para aumentá-la um pouco. Ele disse que não podia. Não me importo, só quero ouvir com clareza.
Mais de 450 câmeras foram instaladas para tomar decisões que antes eram feitas por pessoas. Essas decisões são transmitidas por alto-falantes nas quadras.
O norte-americano Frances Tiafoe, 12º cabeça de chave, opina que a nova tecnologia tira o espetáculo e a “fanfarronice” do sistema antigo.
Apesar disso, os antigos juízes de linha não desapareceram completamente. Cerca de 80 atuam como árbitros assistentes, com dois em cada quadra oferecendo suporte ao árbitro principal. Eles também continuam presentes para o caso de haver falha nas máquinas.
Essa situação complicada despertou o apoio de dois estudantes ingleses preocupados com o impacto da inteligência artificial sobre suas perspectivas de trabalho.
Gabriel Paul, de 26 anos, e Harry Robson, de 27, vestidos como juízes de linha, protestaram com cartazes dizendo “A IA tirou meu trabalho” e “Não deixem os humanos de lado” em frente aos portões do All England Club.
— Somos estudantes, nos formamos em três meses e estamos preocupados com o mercado de trabalho como um todo — explica Paul.
Mas Wimbledon se mostra otimista com o novo sistema. Sua diretora de operações, Michelle Dite, afirma que a introdução do ELC foi “muito bem-sucedida”.
— Houve um ou dois tenistas que comentaram sobre o áudio — observa. — E acho que é muito importante revisarmos e monitorarmos isso continuamente, como fazemos com todas as outras coisas.