Alvo de uma ação do Ministério Público de Goiás (MP-GO) por práticas abusivas, a empresa Wepink, que tem Virgínia Fonseca como uma das sócias, ganhou notoriedade nas redes sociais pela atuação da influenciadora digital, mas também pelos anúncios de faturamento milionário e longa lista de produtos. O Ministério Público de Goiás (MPGO) ajuizou Ação Civil Pública nesta quarta-feira (8) com pedido de urgência contra a companhia, que também foi autuada pelo Procon Goiás após várias reclamações de descumprimento do prazo de entrega e falta de assistência aos consumidores.
- Wepink: empresa de Virginia é alvo de ação do MP de Goiás por práticas abusivas
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Ao ser ouvida na CPI das Bets, Virgínia Fonseca afirmou que empresa faturou R$ 750 milhões no ano passado. Há um ano, os sócios realizaram o lançamento do 100º produto da marca, por meio de uma live improvisada de marketing que fez a Wepink faturar R$ 9,2 milhões em uma hora, segundo a Forbes. Na ocasião, Virgínia e a sócia Samara Pink usaram a Toffe Eiffel de pano de fundo para divulgar o novo perfume, o Liberté.
A marca foi criada em 2021 por Virgínia, Thiago Stabile e Chaopeng Tan. Samara Pink, mulher de Stabile, também é creditada como sócia. A Wepink começou no e-commerce, mas rapidamente se expandiu para lojas físicas. Aliás, no mesmo dia em que virou alvo da ação do MP, Virgínia e Samara anunciaram um novo estabelecimento no shopping Via Verde, na capital Rio Branco (AC), aberto a partir desta sexta-feira.
Antes das ações das autoridades de Goiás, a Wepink já havia sofrido críticas e ironias nas redes sociais por outro motivo, a qualidade de alguns produtos. Antes de viralizar com o vídeo de denúncia sobre adultização, o influenciador digital Felipe Bressanim Pereira, o Felca, fez um review em 2023 testando uma base da marca de cosméticos da influenciadora, o que o ajudou a consolidar a fama para além do público mais fiel.
No ano seguinte, ele se gravou testando outros produtos da marca, como a linha de body splashes cujos supostos odores fortes foram criticados por internautas. Depois, a criticou pela divulgação de bets. Este ano, Felca afirmou à influenciadora Gkay que Virgínia o excluiu de seu grupo de amigos.
Em resposta às reclamações, a Wepink alegou que as queixas à marca partiam de “fãs excessivamente ansiosos”. Os admiradores da influenciadora estariam registrando críticas contra a empresa como uma estratégia para “acelerar entregas” dos produtos.
O MP-GO se referiu ao argumento, apresentado em uma reunião no gabinete da promotoria antes do caso ser levado ao Judiciário, como “tese singularmente criativa” e acrescentou que “é como colocar culpa no consumidor”.
“Segundo essa lógica inovadora, quando alguém paga por um produto e não o recebe, ao reclamar formalmente nos órgãos de defesa do consumidor estaria, na verdade, demonstrando amor incondicional pela marca (ou influencer) para que sua aquisição chegue antecipadamente”, diz o MP.
Na avaliação do órgão, a Wepink descumpre prazos, dificulta reembolsos, entrega produtos com defeito e exclui comentários negativos nas redes sociais. Nos seis primeiros meses de 2025, a empresa recebeu 32.540 queixas na plataforma Reclame Aqui, resultando em uma média diária de 177 reclamações.
Já no Procon de Goiás foram feitas um total de 230 queixas no ano passado. Em 2025, foram 110. “Consumidores demonstram ansiedade e esgotamento emocional com pós-venda, verificando diariamente envios inexistentes, sentimentos de humilhação ao serem sistematicamente ignorados”, descreve o MP na ação.
Em um registro feito no Reclame Aqui, uma cliente da marca descreveu ter tido um comentário negativo, feito no perfil da Wepink, apagado apenas duas horas após a publicação. Ela se queixava de produtos defeituosos. “Para resolver o problema do cliente, parece que levam meses. O tempo gasto apagando comentários negativos poderia ser melhor aproveitado para solucionar os problemas dos consumidores”, escreveu a cliente.
Para o MP, o caso evidencia o “uso da influência digital para gerar demanda sem a devida estrutura logística para atendê-la”. O órgão destaca também que eventos para promover os produtos da marca são feitos em lives de Virgínia, que conta com mais de 53 milhões de seguidores. Sorteios de motos, carros 0km e iPhones estavam entre as estratégias recentes usadas para impulsionar as vendas dos produto.
Em uma live com Virgínia, Thiago Stabile, um dos outros sócios da empresa, admitiu que a Wepink sofreu com problemas de abastecimento. Segundo ele, as vendas elevadas levaram ao esgotamento dos estoques de matérias primas. “A gente tinha 200 mil faturamentos por mês. A gente saltou de 200 mil faturamentos por mês para 400 mil faturamentos por mês”, disse Stabile.
Para os promotores, a declaração indica que a empresa continuou a vender os produtos da marca mesmo sabendo que não teria capacidade de fornecê-los. “Está evidente que os sócios sabiam que não entregariam a todos; tinham ciência de que muitos reclamariam; mas assumiram o risco de que o lucro das vendas superaria os custos das reclamações; contaram com a inércia da maioria dos consumidores lesados”, escreve o MP.
Na ação, o órgão pede a suspensão das lives promocionais até que as entregas sejam regularizadas, além da criação de um canal de atendimento efetivo, sem uso de robôs. A Wepink também ficaria obrigada a criar um mecanismo simplificado de cancelamento e reembolso. O MP solicita também que a empresa seja condenada ao pagamento de R$ 5 milhões por danos morais coletivos.