Uma empresa suíça inaugurou dois fornos solares nesta sexta-feira em uma cidade “relojoeira”, com o objetivo de derreter e reciclar os restos de aço da principal indústria local usando energia verde. As montanhas da região de Jura formam a fronteira noroeste da Suíça com a França, com o lado suíço abrigando diversas empresas de relojoaria e fabricantes de instrumentos médicos que usam aço de alta qualidade.
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O objetivo é pegar os resíduos da produção e derretê-los em lingotes usando raios solares concentrados — e então recirculá-los para empresas em toda a região da fronteira por meio de uma curta cadeia de suprimentos.
“Estou sonhando com esse momento há 10 anos”, disse Raphael Broye, presidente-executivo da Panatere, especializada em transformação e reciclagem de matérias-primas metálicas.
Montanhas da região de Jura formam a fronteira noroeste da Suíça com a França, com o lado suíço abrigando diversas empresas de relojoaria e fabricantes de instrumentos médicos que usam aço de alta qualidade
Fabrice Coffrini/AFP
La Chaux-de-Fonds é o berço da relojoaria suíça. A Panatere continuará os testes com empresas locais antes de abrir uma fábrica em 2028, no local ou nas montanhas Wallis, no sudoeste da Suíça. A empresa espera conseguir produzir aço reciclado usando energia solar em uma escala sem precedentes de 1.000 toneladas por ano — graças a fornos onde a temperatura pode chegar a 2.000°C.
O local inaugurado nesta sexta-feira é, portanto, “apenas um passo”, disse Broye, que, no entanto, pretende demonstrar que essa tecnologia solar não é apenas um conceito, mas um processo que pode ser usado na indústria.
Preços em alta
Cerca de 148 cientistas e profissionais trabalharam no primeiro protótipo. Ele consiste em um heliostato de 140 metros quadrados coberto com espelhos móveis e um prato com 10 metros de diâmetro que concentra os raios solares em um cadinho, onde os metais são derretidos.
Cerca de 148 cientistas e profissionais trabalharam no primeiro protótipo
Fabrice Coffrini/AFP
Ao criar esses protótipos, a empresa teve que aprender a lidar com o vento que movimenta os espelhos, a poeira do Saara que ocasionalmente atinge os céus suíços e temperaturas que podem cair para -20°C no inverno e ultrapassar 30°C no verão.
“Hoje em dia, há um modelo econômico real a ser desenvolvido”, disse Broye aos repórteres. “Com os níveis de preços e a escassez de metais, conseguimos encontrar uma posição para tornar esses projetos lucrativos […] mesmo com os salários suíços”, explicou, enquanto manuseava aparas de cobre, cujo preço está disparando.
“Isso restaura o prestígio das cadeias de suprimentos curtas”, afirmou Broye, explicando que preços altos levam relojoeiros e fabricantes a perceberem que, com seus resíduos de produção, eles têm “um tesouro nos fundos de suas fábricas”.