O número de entregadores por aplicativo está crescendo no Brasil. Entre 2022 e 2024, mais de 40 mil pessoas começaram a trabalhar nessa ocupação. No entanto, esses trabalhadores tendem a ter longas jornadas de trabalho e recebem, em média, menos que o restante da população ocupada. É o que mostram os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) do IBGE, cujos dados sobre trabalho por meio de plataformas digitais foram divulgados nesta sexta-feira.
- 99Food começa com 17 mil restaurantes no Rio: entenda o modelo de semiexclusividade do app para desafiar iFood
- Ancelmo Gois: Entregadores não são mais obrigados a entrar em condomínios no Rio
Das 485 mil pessoas que utilizaram aplicativos de entrega para trabalhar em 2024, 274 mil (56,5%) eram entregadores e 211 mil tinham outras ocupações, como donos de restaurantes que usavam aplicativos para captar clientes e realizar vendas.
Os entregadores, além de terem escolaridade menor que os demais que também trabalham com aplicativo de entrega, são os que têm o menor rendimento. A carga horária semanal, no entanto, é equivalente (46,4 horas para os entregadores e 46,5 horas para as outras ocupações que usam app de entrega).
Considerando todos os ocupados que utilizaram aplicativos de entrega, esse rendimento foi de R$ 3.322 em 2024. A média de renda dos entregadores foi de R$ 2.340. Já o valor obtido mensalmente por pessoas que estão em outras ocupações plataformizadas, desde eletricistas a médicos que se conectam a clientes por plataformas, era de R$ 4.615.
A renda dos entregadores de app ainda é menor do que o rendimento médio de todos os trabalhadores no país em 2024, plataformizados ou não, que foi de R$ 2.878.
- Guerra de apps: plataformas de delivery de comida travam disputa bilionária pelo cliente no Brasil
Anderson Trajano, de 32 anos, faz parte do grupo de entregadores desde 2020. Ele afirma que trabalha na plataforma por necessidade, não por escolha. Pai de três filhos, ele diz que a flexibilidade do aplicativo é essencial para conciliar a rotina profissional com os cuidados da família, mas o baixo rendimento o faz pensar em mudar de profissão.
Anderson organiza o dia em dois turnos, nos horários de maior movimento: das 10h às 16h e das 18h à meia-noite. Mesmo com a jornada intensa, o retorno financeiro é limitado.
— Eu preciso tomar conta dos meus três filhos, estar atento se acontecer alguma coisa. Mas trabalho cerca de dez horas por dia para ganhar, no máximo, R$ 200, sem contar a gasolina e os gastos com manutenção da moto. Em algum momento vou mudar de profissão — relata.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/w/h/oMPEc2SleRnoB6Lbrwbg/whatsapp-image-2025-10-16-at-16.18.57.jpeg)
A pesquisa também comparou dados de pessoas que trabalham como motoristas de aplicativo com aqueles que trabalham como motoristas que não usam plataformas, sejam contratados por famílias ou empresas, com ou sem carteira assinada.
Em 2024, os trabalhadores que tinham o serviço de transporte particular como trabalho principal eram, ao todo, 1,9 milhão. Entre eles, o número dos que trabalhavam com aplicativos ainda era menor que os que não dependiam de plataformas (43,8% contra 56,2%).
Embora o rendimento médio dos motoristas plataformizados (R$ 2.766) fosse maior que o dos motoristas não plataformizados (R$ 2.425), os primeiros trabalham em média cinco horas a mais que os últimos (45,9 horas contra 40,9 horas).
Com isso, o rendimento por hora médio não apresentava tanta diferença entre os dois: os de aplicativo ganhavam R$ 13,9 por hora, enquanto os motoristas tradicionais ganhavam R$ 13,7/hora. Por outro lado, o maior rendimento por hora ficou para os motoristas não plataformizados formais, que ganhavam R$ 14,7/hora.
Já com relação à contribuição para a previdência, 56,2% dos motoristas não plataformizados contribuíam. Entre os que usavam aplicativos apenas 25,7% eram contribuintes. Além disso, os plataformizados também tinham um percentual bem maior de informalidade (83,6%) que os demais (54,8%).
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/6/p/BieWBMSnSpTNL1SJqysw/eco-17-10-pnad-infos-imagem-copia-2.png)
Já os motociclistas, que incluem boa parte dos entregadores, eram 1,1 milhão em 2024. Deste total, cerca de um terço realizava trabalho por meio de aplicativos, enquanto a maior parte (66,5%) ainda não era plataformizada. Ainda assim, o número dos condutores de moto por app está aumentando. Em 2022, eles eram um quarto do total.
Embora o rendimento habitual médio dos motociclistas que trabalham por aplicativo (R$ 2.119) tenha sido maior que o dos não plataformizados (R$1.653), os primeiros tinham carga horária maior: 3,9 horas semanais a mais (45,2 contra 41,3, respectivamente).
Ainda assim, o rendimento-hora médio dos plataformizados (R$ 10,8/hora) ainda era maior que o daqueles que não utilizavam plataformas (R$ 9,2/hora). Já o núumero dos não plataformizados formais (R$ 10,6/hora) se aproximava dos plataformizados.
Embora os dois grupos tenham baixa participação na contribuição para previdência, o número dos condutores de moto por app era ainda menor (21,6% contra 36,3%). Entre os não plataformizados, a informalidade era grande (69,3%), mas menor que a dos que utilizam plataformas digitais (84,3%).
A pesquisa ainda não investigou aqueles que utilizam bicicletas para trabalhar.