A brasileira Ingrid keyla Simões disse que sua filha de 11 anos, a estudante Giulia Simões, está há quase dois meses sem aulas após ser barrada numa escola pública de Portugal.
Após o Portugal Giro e o Comitê dos Imigrantes de Portugal (CIP) entrarem em contato com a escola, um novo colégio público aceitou a matrícula da Giulia.
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Ela revelou que a família foi discriminada e lamentou que isso tenha ocorrido às vésperas do Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, celebrado hoje.
— Meu marido é negro. Ele diz que (a direção) nem olhou nos olhos dele, só com cara de nojo. Além da discriminação racial, foram xenófobos. É ironia ou sorte acontecer de vir à tona agora (antes do Dia para a Eliminação da Discriminação) — disse ela.
Ingrid contou que precisou ir ao Brasil em dezembro para resolver problemas com a documentação de Giulia. Ela está agendada para fazer o reagrupamento familiar na imigração e precisava da certidão de nascimento de inteiro teor, de acordo com a apostila da Convenção da Haia.
— Como a Giulia é adotada por parte de pai, o local onde ela nasceu disse que ele era terceira pessoa no caso e somente eu poderia requisitar a certidão. A não ser que houvesse liberação judicial, que não houve — contou a mãe, que é manicure em Lisboa.
A família, composta por mais um filho e o marido de Ingrid, Weslley Venâncio Lima, embarcou para o Brasil dia 11 de dezembro de 2024.
A escola entrou em recesso de 20 de dezembro a 6 de janeiro. A estudante retornou com Weslley dia 23 de janeiro. Ingrid ficou no Brasil à espera do documento, que, segundo ela, veio com erro na primeira versão.
Giulia perdeu 17 dias de aula, disse a mãe, mostrando o e-mail onde comunica a viagem à escola com a orientação de não se ausentar por 60 dias.
Ela afirmou que, no dia 23, a filha e Weslley foram à escola e chegaram a registrar a entrada no cartão. Mas a aluna teria sido impedida de ir para a sala pela direção.
— Foi quando a direção nem quis olhar na cara do Weslley. Ele (diretor) não deixou a Giulia ir à sala porque havia tirado a vaga dela e dado para outra pessoa — afirmou Ingrid.
No Portal das Matrículas das escolas públicas, vinculado ao Ministério da Educação, a matrícula de Giulia no colégio está ativa.
Quando a filha começou a sofrer perseguição e xenofobia na internet e arranhar o próprio rosto, a família decidiu pedir a transferência de escola, já que Giulia não podia mais entrar.
— Ela chora e arranha o rosto porque os alunos portugueses mandavam mensagens no telefone dizendo que ela voltaria para Portugal para morar debaixo da ponte, na rua. Pergunta porque a direção fez isto com ela — disse Ingrid.
A direção da escola, afirmou Ingrid, teria se recusado a emitir o documento de transferência e parou de atendê-la:
— Xenofobia mesmo, porque todos os portugueses que apareceram na escola para fazer pedidos de atividades e informação foram atendidos. Eu fiquei sem resposta. Por que vale a palavra deles e a minha não?
A brasileira contou que só conseguiu fazer uma reclamação formal quando chamou a polícia na última semana.
— Os policiais chegaram e consegui acesso ao livro de reclamação. Mas a escola não quer enviar a declaração de matrícula para eu fazer o reagrupamento familiar na imigração — declarou.
Nesta semana, Ingrid recebeu a ajuda do Comitê dos Imigrantes de Portugal (CIP), que procurou a escola. Segundo a ativista e fundadora do CIP, Juliet Cristino, a direção tentou culpar a mãe ao dizer que a viagem não foi informada e que teria sido solicitada a transferência escolar para o Brasil, o que não ocorreu.
— Quando eu disse que a mãe tinha as provas dos e-mails, eles disseram “está resolvido” — contou Juliet.
A escola teria iniciado o processo de transferência na quinta-feira (20) pela manhã. Mas o colégio de destino ainda não havia garantido vaga para Giulia no quinto ano do ensino fundamental.
Às 13h29m de ontem, o Portugal Giro enviou e-mails para a direção da escola e para a Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares.
Não houve resposta. Mas cerca de uma hora e meia depois de a coluna ter enviado e-mail, o CIP foi informado que o novo e pretendido colégio havia aceitado a matrícula de Giulia.
— Estamos muito felizes e agora a Giulia vai estudar para recuperar o tempo que foi tirado dela. E queremos que todos saibam o que aconteceu para que não se repita — disse Ingrid.