— Não tem nenhum pedido de proteção, até porque, se tivesse, nós daríamos. A gente tem algumas autoridades que contam com proteção do Estado e, toda vez que a gente é demandado, a gente encara isso sempre com muita responsabilidade. Então, se a gente tivesse recebido algum pedido de proteção, se isso tivesse sido registrado, a gente, com certeza, daria.
Em uma entrevista para um podcast ainda em produção da rádio CBN e do jornal O GLOBO, Ruy Ferraz se queixou da falta de proteção após ter se aposentado da Polícia Civil, em 2023.
— Eu tenho proteção de quem? Eu moro sozinho, eu vivo sozinho na Praia Grande, que é no meio deles. Pra mim é muito difícil. Se eu fosse um policial da ativa, eu tava pouco me importando, teria estrutura para me defender, hoje não tenho estrutura nenhuma — afirmou.
Tarcísio disse que há uma reflexão sobre a extensão desse benefício, mas ressaltou que é preciso existir uma previsão legal. Atualmente, segundo ele, ex-policiais e membros do Ministério Público, por exemplo, podem pedir uma escolta quando estiverem sob risco e o Estado pode fornecer essa proteção desde que fique comprovado.
— Não existe isso na nossa legislação (a proteção automática), mas é algo que a gente tem que parar para pensar. Autoridades, pessoas que se dedicam ao combate ao crime organizado, elas depois saem, mas a memória do crime fica. Então, a gente tem que proteger essas pessoas. A gente precisa regulamentar isso para inclusive ter o amparo.
Novas imagens mostram tentativa de ex-delegado escapar de criminosos
Ele cita como possíveis beneficiários promotores de Justiça, o comandante-geral da Polícia Militar, o delegado-geral da Polícia Civil e o secretário titular e adjunto de Segurança Pública.
Mais cedo, contudo, o líder do governo na Assembleia Legislativa do Estado (Alesp), Gilmaci Santos (Republicanos), disse ao GLOBO que ainda não chegou aos deputados qualquer proposta nesse sentido, mas que os parlamentares estão dispostos a fazer uma avaliação depois de passado o “calor do momento”.
O deputado Paulo Batista dos Reis (PT), que tem a segurança pública como pauta, disse que conversou nesta manhã com integrantes do seu partido e representantes da “bancada da bala”, como o deputado delegado Olim (PP), para sugerir um Projeto de Lei que contemple funcionários que atuem na linha de frente da segurança pública e que tenha risco de vida.
— Eu conversei hoje na bancada do PT, também aqui encontrei o deputado delegado Olim, e nós entendemos que há, sim, necessidade de ter uma política, uma legislação aprovada por essa Casa, não sei por a iniciativa do governador, ou se junta todos os deputados de segurança para profissionais da segurança pública que enfrentam um crime organizado no dia a dia, e mesmo após deixar a instituição, como no caso Ruy, que se aposentou, ter sim escolta, porque não dá para aceitar o que aconteceu, então você enfrenta o crime a vida inteira se aposenta, continua trabalhando, sem nenhuma proteção, sem nenhuma garantia. Então nós estamos sim discutindo, temos que construir o texto — disse.
Ruy Ferraz foi delegado-geral de São Paulo entre 2019 e 2022. Ele comandou divisões como Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Departamento Estadual de Investigações sobre Entorpecentes (Denarc) e Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), além de dirigir o Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap).
O governador declarou que dois suspeitos já foram identificados a partir da coleta de digitais em um dos veículos abandonados pelos criminosos e que ainda há material genético para cruzar em bancos de dados, inclusive da Justiça Eleitoral, a fim de chegar a outros quatro que teriam participado da ação. Um deles já teve o pedido de prisão preventiva encaminhado e, quanto ao outro, ainda estava sendo elaborado.
— Nesse veículo que foi abandonado tem muito fragmento, tem muito vestígio. Tem fragmento de DNA e de impressão digital. Então, isso está sendo analisado pelo corpo de perícia, que é a Polícia Técnico-Científica, e a gente vai usar toda a tecnologia disponível e fazer o cruzamento com bancos de dados para identificar essas pessoas e colocar essas pessoas na cena do crime — relatou Tarcísio.
Ele disse ainda que “não dá para afirmar que foi um crime promovido por facção criminosa” neste momento e que existe mais de uma linha de investigação em andamento. Um dos suspeitos é reincidente criminal, com passagens por roubo e tráfico de drogas, ainda que não por homicídio. Segundo o governador, ele “não necessariamente tem relação” com o PCC, pois “não está na nossa base de dados de faccionados”.
— Vamos chegar em todos os responsáveis e prender todo mundo. A gente montou uma grande força-tarefa, que vai dar prioridade máxima para solucionar esse caso. Nós não vamos deixar esse caso passar em branco.
Segundo ele, a polícia atuou a contento em casos anteriores de grande repercussão no estado, como o assassinato do delator do PCC, Antonio Vinicius Gritzbach, a morte do empresário nos Jardins, bairro nobre da capital paulista.
O que se sabe sobre o caso
Três semanas antes de ser executado, Fontes afirmou temer por sua segurança. No dia 25 de agosto, ele disse que estava “sozinho” na cidade da Baixada Santista, reduto antigo do PCC, e que não contava com nenhuma proteção do Estado. A declaração foi dada durante uma longa entrevista para um podcast, ainda em produção, da rádio CBN e do jornal O GLOBO.
— Eu tenho proteção de quem? Eu moro sozinho, eu vivo sozinho na Praia Grande, que é no meio deles. Pra mim é muito difícil. Se eu fosse um policial da ativa, eu tava pouco me importando, teria estrutura para me defender, hoje não tenho estrutura nenhuma.
O GLOBO apurou que, além de uma ameaça de morte mais antiga, Fontes foi citado por criminosos do PCC na mesma ocasião em que a facção jurou de morte o ex-juiz e senador Sérgio Moro e o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo. O nome de Fontes, entretanto, não se tornou público. Ele foi avisado pessoalmente que era um dos alvos, mas a informação ficou apenas no âmbito da inteligência do MP.
Fontes foi o delegado responsável por revelar a organização, a estrutura hierárquica e a dimensão do PCC pouco tempo depois que a facção surgiu nos presídios paulistas. É dele também os inquéritos policiais que resultaram nas principais condenações de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder da organização criminosa.
A equipe de Fontes indiciou todos os líderes do PCC no início dos anos 2000 por formação de quadrilha. Passou a ser tratado como o inimigo número 1 da facção, sendo alvo de planos de execução descobertos pelas autoridades.
Ele foi delegado-geral de São Paulo entre 2019 e 2022. Comandou divisões como Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Departamento Estadual de Investigações sobre Entorpecentes (Denarc) e Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), além de dirigir o Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap).
O ex-delegado-geral foi executado a tiros enquanto dirigia um carro em Praia Grande. Imagens do crime mostram seu carro sendo perseguido e colidindo com um ônibus. Na sequência, homens descem de outro veículo e atiram contra o automóvel da vítima. O ataque ocorreu na avenida Doutor Roberto de Almeida Vinhas, na Vila Caiçara, por volta das 18h20, segundo a Polícia Militar.
O secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, afirmou que a Polícia Civil já identificou duas pessoas que participaram do assassinato e pedirá a prisão temporária dos dois. “Seguimos com todas as polícias empenhadas nesse caso, para que os culpados sejam punidos”, escreveu nas redes sociais.