O líder palestino Marwan Barghuti, uma das figuras mais proeminentes do movimento Fatah, foi espancado por guardas em uma prisão israelense no mês passado, segundo uma denúncia feita por seu filho à AFP. O caso vem à tona no momento em que médicos em Gaza, segundo o jornal britânico Guardian, afirmam que dezenas de corpos devolvidos por Israel — como parte do acordo de cessar-fogo com o Hamas — apresentam sinais de tortura e execução.
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Arab Barghuti disse que oito guardas agrediram seu pai até que ele perdesse a consciência, em um incidente ocorrido em 14 de setembro.
— Ele tinha várias costelas quebradas e (os outros cinco prisioneiros) declararam que, quando chegou à prisão de Megido, ficaram surpresos ao ver que ele mal conseguia andar — relatou.
Ainda segundo o filho, o ataque ocorreu durante a transferência de seu pai da prisão de Ganot, no sul de Israel, para Megido, no norte do país. Barghuti afirmou ter sido informado do episódio apenas depois que outros detentos conseguiram se comunicar com pessoas fora da prisão.
Em comunicado, o Serviço Prisional de Israel classificou as acusações como “falsas” e afirmou que as prisões “operam em conformidade com a lei, garantindo a segurança e a saúde dos presos”. A administração penitenciária se recusou a informar onde Barghuti está atualmente detido.
Preso desde 2002, o dirigente de 60 anos, considerado por muitos como o “Mandela palestino”, cumpre pena por seu papel na segunda intifada — o levante palestino dos anos 2000 que resultou em centenas de mortes. Mesmo pertencendo ao Fatah, facção rival do Hamas, seu nome chegou a ser incluído na lista de prisioneiros que o grupo islamista desejava trocar por reféns israelenses, como parte da primeira fase do acordo de cessar-fogo.
Paralelamente às denúncias sobre o espancamento de Barghuti, novas denúncias vieram à tona em Gaza. De acordo com o jornal britânico Guardian, muitos dos 90 corpos de palestinos devolvidos a Gaza pelas autoridades israelenses sob o acordo de cessar-fogo apresentavam sinais de tortura e execução, incluindo olhos vendados, mãos algemadas e ferimentos de bala na cabeça.
— Quase todos eles estavam vendados, amarrados e com tiros entre os olhos. Quase todos foram executados — afirmou o médico Ahmed al-Farra, chefe do departamento de pediatria do hospital Nasser, em Khan Younis, no sul de Gaza.
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Segundo o médico, “também havia cicatrizes e manchas descoloridas na pele, indicando que haviam sido espancados antes de serem mortos”. Ele acrescentou que os corpos chegaram sem identificação — apenas com etiquetas numeradas — e que os hospitais, devastados por dois anos de guerra, não dispõem de recursos para realizar análises de DNA.
— Eles sabem a identidade desses corpos, mas querem que as famílias sofram ainda mais com essas vítimas — disse al-Farra.
As Forças Armadas de Israel (IDF, na sigla em inglês), ainda segundo o Guardian, informaram ter encaminhado as acusações ao Serviço Prisional de Israel.
O Tribunal Penal Internacional (TPI) já investiga alegações de crimes de guerra de ambos os lados desde o início do conflito, em outubro de 2023, incluindo o assassinato de 15 paramédicos palestinos cujos corpos foram encontrados em uma vala comum, em março. Segundo as autoridades locais, as vítimas estavam com as mãos e os pés amarrados e haviam sido baleadas na cabeça.
A devolução de corpos por ambos os lados provou ser um grande obstáculo à implementação plena do cessar-fogo em Gaza. Israel anunciou que reduziria o fornecimento de ajuda humanitária ao enclave devido aos atrasos na transferência de 28 corpos de israelenses, e afirmou que um dos corpos entregues não era de nenhum dos reféns.