Tirem as crianças — e os times sul-americanos — da sala. A final da primeira Copa do Mundo de Clubes da Fifa, hoje, às 16h, em Nova Jersey, colocará frente a frente dois gigantes da Europa, mesmo que em momentos distintos de maturidade esportiva. De um lado, o Paris Saint-Germain, atual campeão da Champions League, que abandonou o projeto das superestrelas e alcançou uma versão quase imbatível baseada no coletivo; do outro, o Chelsea, em meio a um processo de reconstrução semelhante após o fim da “Era Abramovich”, ancorado em jovens talentos, e buscando alcançar o mesmo sucesso do adversário de hoje — com a diferença de um olhar maior no lucro de futuras revendas.
Por anos, o PSG foi o novo expoente do futebol midiático, regado pelos petrodólares do fundo de investimento ligado ao governo do Catar. O ataque formado por Mbappé, Neymar e Messi foi o ápice de um investimento bilionário que encheu estádios, movimentou o mercado, mas falhou no principal: transformar o glamour em títulos de peso.
A frustração com esse modelo culminou em uma ruptura — e o time de hoje é o oposto em termos de filosofia. Sob comando de Luis Enrique, o PSG promoveu uma renovação profunda. Saiu o trio de estrelas, entraram jogadores jovens, versáteis e de alta intensidade. Os investimentos, porém, seguiram altos: somaram pouco mais de 500 milhões de euros na última temporada.
— Não queremos uma estrela, queremos 11 estrelas. Diria até 13, 14, 15. É um compromisso da diretoria. O caminho é claro para todos. Queremos estrelas, mas a serviço da equipe — resumiu o técnico Luis Enrique antes da final.
Na prática, é isso o que acontece. Os números da goleada por 4 a 0 sobre o Real Madrid provam. Vitinha simboliza essa movimentação e entrega em todas as partes do campo. Foram 36 quebras de linha, 92% dos 117 passes certos e mais de 11 quilômetros percorridos, atrás apenas de Hakimi e João Neves, outras duas engrenagens desse modelo de “futebol total” do time parisiense. O volante português ainda lidera as estatísticas de troca de passes na equipe, sempre associado aos laterais e a Fabián Ruiz, outra peça-chave no atual melhor time do mundo.
Apesar do sucesso, Luis Enrique acredita que possa ter feito trabalhos melhores do que o atual na carreira, mas que não tiveram resultado. E que, por isso, o modelo sem estrelas é elogiado. O capitão Marquinhos, por exemplo, não soube responder qual PSG é o melhor que já jogou, desde que chegou ao clube em 2013.
— Em termos de resultados, essa é a melhor equipe que atuei no PSG. Mas já joguei com jogadores incríveis, de nome, de títulos, que eram ídolos para mim e melhores que os que estão aqui. Coletivamente, talvez, essa seja a melhor, a que venceu. Em questão de resultados e títulos, coisas concretas, está sendo a melhor — comparou.
O rótulo de melhor time da atualidade, porém, é chancelado pelo técnico do Chelsea, Enzo Maresca, que não foge do papel de azarão. Entretanto, usa a própria história do Mundial para lembrar que equipes menos badaladas surpreenderam adversários, citando inclusive os brasileiros Fluminense e Botafogo.
— Vai ser difícil, claro. Mas o Fluminense ganhou da Inter de Milão. O Al Hilal bateu o City. Todos os jogos são difíceis. Vi o jogo do Botafogo contra eles. Mas temos que olhar jogos em que a outra equipe joga de forma similar — explicou, indicando um enfrentamento de igual para igual.
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Desde que o Chelsea, então do oligarca russo Roman Abramovich, foi comprado pelo empresário norte-americano Todd Boehly, passou por uma série de reformulações: novo comando técnico, dezenas de contratações e uma tentativa visível de fugir do modelo baseado em jogadores de renome. Nessa proposta, gastou o dobro do PSG, cerca de 1 bilhão de euros. Mauricio Pochettino foi o primeiro arquiteto da mudança, mas é Maresca que parece alcançar a consolidação da filosofia.
O elenco mescla nomes promissores — como Cole Palmer, jovem símbolo da nova fase e com valor de mercado de 120 milhões de euros — com contratações de menor impacto midiático, como o brasileiro João Pedro, pensando na ideia de um futebol propositivo, controle e organização. Exatamente o que se vê no PSG.
— Luis Enrique é uma referência para mim e para todos no futebol. Eles fizeram nessa temporada o que queremos fazer em termos de futebol. Somos um time que gosta da bola. Eles gostam de pressionar em cima também. Vai ser uma partida sobre atacar, atacar e atacar — avisou o técnico italiano.
Os dois treinadores trocaram elogios às equipes e Luis Enrique afirmou que gosta de ver o rival jogar. Fez ainda um alerta sobre a condição física da equipe inglesa e o padrão de jogadores mais físicos e mais fortes, o que pode ser uma vantagem no calor de Nova Jersey. A média de altura do Chelsea é acima de 1,80 m, com destaques para os “gigantes zagueiros” Chalobah e Tosin, de mais de 1,90 m, além de Palmer (1,89 m) e o próprio João Pedro (1,82 m). Nas pontas, a velocidade de Pedro Neto e Nkuku eleva a intensidade, também vista nas ações de Cucurella, Caicedo e Enzo Fernández.
— O Chelsea está em crescimento, com bons jogadores e grande trabalho do Maresca. Propõe, com jogadores de nível técnico alto, que pressionam. Fizeram uma temporada sensacional. Tem boas individualidades. São fisicamente muito fortes também. Temos similaridades na maioria dos aspectos — indicou o técnico do PSG.