Disputa por tomadas nas sessões, ampliação do espaço para assessores, corre-corre para publicar vídeos. A produção de conteúdo para redes sociais tem mudado a dinâmica de gabinetes e plenários da Câmara Municipal e da Assembleia Legislativa de São Paulo.
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Na Câmara, onde há mais parlamentares influenciadores, as mudanças são mais visíveis. Ali as tradicionais reuniões de líderes precisaram trocar de espaço. Superlotadas de assessores em busca de imagens de impacto, elas passaram a ser feitas no Salão Nobre da Casa, antes usado para solenidades. Também houve mudanças no regulamento. Em vez de um assessor por bancada, cada vereador passou a poder levar também um funcionário próprio para produzir conteúdo.
A nova realidade evidencia ainda limitações do prédio da Câmara, inaugurado em 1969, com pedidos nos bastidores por mais tomadas para carregar aparelhos e ampliação de espaço para a equipe digital. As salas pequenas e a falta de tomadas para celulares já motivaram reclamações e pedidos de reforma, dada a necessidade de se manter os equipamentos carregados.
Nas sessões, é raro ver, hoje, um legislador discursando sem ser filmado por um assessor. Para atender à demanda, os gabinetes contratam funcionários exclusivos para as redes e apostam em impulsionamento de conteúdo. Um dos que investem na estratégia é Lucas Pavanato (União), que é ao mesmo tempo o vereador com mais seguidores (2,2 milhões no Instagram) e o mais votado da atual legislatura (161 mil votos em 2024).
— Temos dois assessores (dos 17 do gabinete) que, quando necessário, cuidam dessa parte de mídias. Acho importante para que haja transparência. Os vereadores mais antigos têm tentado se adaptar — diz Pavanato, que iniciou a trajetória justamente nas redes, onde se destacou por defender pautas como o fim dos banheiros unissex usados por pessoas transgênero.
Outro exemplo é a vereadora Zoe Martinez (PL), com 1,5 milhão de seguidores no Instagram e 60 mil votos na última eleição. Ela afirma ter uma “equipe de mídias enxuta e integrada à comunicação do gabinete”, mas segue o mesmo padrão de cobertura em tempo real dos colegas:
— As redes são meu principal canal direto com a população. É por meio delas que presto contas, mobilizo a base e defendo aquilo em que acredito.
O balanço das redes sugere uma dificuldade de renovação por parte da esquerda também no campo virtual. Enquanto Pavanato (27 anos) e Zoe (26) são nativos digitais, no campo oposto o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT), de 84 anos, é o que mais tem seguidores: 900 mil no Instagram.
— Não é todo mundo que vai assistir à TV Alesp. No plenário, agora quase todos estão fazendo registros — destaca Joice Berth, coordenadora de comunicação de Suplicy, que tem na equipe uma designer, uma fotógrafa, uma jornalista e um coordenador de comunicação.
Além de manter a equipe, Suplicy investe mensalmente cerca de R$ 6 mil para divulgação parlamentar.
Também na Alesp, Lucas Bove (PL) tem 307 mil seguidores no Instagram e está no primeiro mandato. Embora não seja o mais seguido da direita na Casa— o posto é do fisiculturista Felipe Franco (PL), com quatro milhões —, Bove é parte da leva de políticos eleitos pela atuação digital. Entre janeiro e maio, gastou R$ 13.183 com impulsionamento de conteúdos no Facebook.
Para João Finamor, professor de Marketing Digital da ESPM, hoje é consenso que a presença digital é fundamental para partidos e parlamentares. Na opinião do especialista, um efeito negativo do fenômeno é a qualidade do debate político, uma vez que as redes recompensam o conteúdo viral e polêmico.
— A rede social é rasa, não é feita para uma discussão técnica. Normalmente esse tipo de conteúdo é feito para ganhar atenção, e não realmente gerar um debate, com dados.