A casa de cinco cômodos, “caindo aos pedaços”, em Jacarezinho, no Paraná, perdeu seu pilar, o pedreiro Gilmar, que se mudou de cidade, encantado por outra mulher. Era ele que, a duras penas, bancava o rodízio de pizza da família. Quando deixou o lar, a filha Grazielli, de 9 anos, assumiu o papel de babá da vizinha em troca de 500 gramas de muçarela por semana. Com mais uns tomates e um punhado de orégano, a mãe abandonada, Cleuza, manteve a pizza nno cardápio dos Massaferas.
Entre os lanches especiais e o ovo de pata — ingrediente obrigatório na dieta caseira para engordar —, Grazi ganhou fama. Fez de tudo nesse longo percurso: foi miss, participou do “Big Brother Brasil”, foi dirigida por Fernando Meirelles em “Corrida dos bichos” (que estreia ano que vem, na Prime Video) e, aos 43 anos, está gravando a 13ª novela da carreira, “Três Graças”, que substituirá “Vale tudo” no horário nobre. Será Arminda, a primeira vilã de sua vida, o que tem feito a atriz perder o sono. Mas, talvez, o papel mais difícil tenha sido lá atrás, quando precisou bancar seu nome entre estrelas da Globo que a enxergavam como forasteira. O preconceito veio de atores cujos nomes ela não esconde na entrevista a seguir.
Em “Três Graças”, você fará sua primeira vilã. Qual é a expectativa?
Entrei em crise. É difícil fazer gente ruim, inverter valores. Surto pra caramba. É minha primeira vilã, natural que eu esteja ansiosa, nervosa. Estou perdendo noites de sono. Fico pensando em como fazer… Na novela, maltrato uma velhinha, vivida pela Arlete Salles. Arminda, minha personagem, é amoral. Acha natural chamar a empregada de idiota. Conversei em casa com Fefê e Aline, minhas funcionárias. Elas me ajudaram na composição, pelas experiências horrorosas que tiveram com outras patroas.
Será a sua 13ª novela. Olhando em retrospecto, “Tempos Modernos” foi o trabalho mais difícil?
Um fracasso. O autor, Bosco Brasil, desistiu e pirou. Comecei como segurança de um prédio, virei um robô. Na realidade, foi uma tortura trabalhar como atriz até “Verdades secretas”. Antes disso, eu pensava em desistir em todas as novelas que fiz.
Como foi sair do “BBB” para a atuação?
Difícil. O elenco se reuniu um dia e tirou sarro de mim, pedindo para eu procurar “galharufas”. Não sabia, mas era um trote. No teatro, galharufa é um objeto simbólico dado como amuleto a iniciantes. Fiquei mal. Era uma estranha no ninho, e eles passavam do ponto. Só pensava: o espaço existe, vou me dedicar. E como tudo na vida — se eu for limpar um chão, eu me dedico —, não seria diferente. Não pensava em ser aceita, mas em realizar.
Quem tinha preconceito?
Otavio Augusto. Em “Tempos modernos”, ele não quis contracenar comigo. Fez a cena olhando para a parede e foi embora. E eu fiz sem ele. Isso aconteceu outras vezes.
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Juntaram as cenas na edição?
Sim. Aí, depois, trabalhamos juntos novamente (na novela “A lei do amor”). Ele pegou minha mão e disse: “É uma honra trabalhar com você. Desculpa o que aconteceu”.
Mais alguém?
Ganhei um prêmio de atriz revelação, e o José Wilker era o homenageado. Ele disse: “Não desço na mesma escada que essa BBB”, com aquela voz que eu achava incrível. E teve o Miguel Falabella. Quando fui escolhida para “Negócio da China”, ele me praguejou. Depois, foi um amor e veio falar comigo.
E em “Verdades Secretas” foi indicada ao Emmy…
Pela primeira vez, era respeitada quando entrava em cena. Com a Larissa, vi que o sentimento que empresto a um personagem pode servir de reflexão. Eu me apaixonei pela profissão. Comecei a trabalhar por amor, não por dinheiro ou vaidade.
Antes do “BBB”, como virou miss?
Com a separação dos meus pais, as coisas apertaram. Comecei a pintar unha e pedi para minha mãe me deixar desfilar. Depois de um tempo, amigas travestis me emprestavam roupa para eu usar em concursos. Aos 18 anos, elas eram minha referência de beleza e me convenceram a participar do Miss Paraná (2004). Venci. Amigas da escola insistiram para eu me inscrever no “BBB”. Quando a Globo me ligou, achei que era trote.
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Como reagiu?
Não queria ir. Minha mãe estava lavando roupa, e eu dizia: “Não vou pro BBB.” E ela gritava: “Você vai! Você tem que mudar de vida!”. A gente tinha uma porta de vidro que vivia quebrada. Queria ganhar dinheiro e reformar a casa. Nem era minha vontade, mas fui. E a vida de todo mundo mudou.
Mudou por quê? Como foi a sua infância?
Meus pais eram boias-frias. Trabalhavam cortando cana e colhendo café. Quando nasci, minha mãe começou a costurar. Meu pai virou pedreiro. Era uma família humilde, mas nunca passei fome. Quando a gente melhorou de vida, meu pai passou a nos levar para comer pizza, até se separar da minha mãe e ir embora com outra. Eu tinha 9 anos. Virei babá da filha da vizinha em troca de 500g de muçarela por semana para a pizza que minha mãe passou a fazer em casa, com massa de trigo.
Fez Playboy pela grana? Arrependeu-se?
Em 2005, a Playboy era chique. Acho feio (o ensaio). É meio datado. Não faria de novo. Mas não me arrependo. Ganhei R$ 1,3 milhão. Minha mãe queria reformar a casa; meu pai queria não sei o quê. Falei: “Não vão gastar. Todo mundo agora vai ter plano de saúde”.
Como foi sua passagem pelo vôlei?
Foi no time da escola. Era magrinha, e minha mãe batia para mim, no liquidificador, Emulsão Scott com ovo de pata cru e leite condensado. Uma vez, escutei a mulher do treinador falar: “Não bota ela pra jogar. Se tomar uma bolada, quebra”. Quando ia sacar, o estádio gritava “Lôraburra”, do Gabriel o Pensador. O esporte me deu autoestima. A vida do ator de novela é de atleta. Tem que ter físico e fôlego.
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É feliz com seu corpo hoje?
Sim. Nunca fui outra coisa. Sou comilona, mas tenho o metabolismo acelerado. Cuido da saúde. Tenho um problema de colesterol, de família. Por isso, tomo cápsula de arroz.
Está namorando?
Não tenho nenhuma relação agora. Tive momentos de uma mulher serelepe. Meu último namoro faz tempo… 2022. Depois, só peguetes. Tô trabalhando tanto. Tem uma fase em que a mulher vê que é gostoso ter seu closet, seu banheiro. Posso estar falando isso agora e daqui a pouco me casar. Sou canceriana. A gente beija uma vez e já acha que vai casar e ter filho.
A relação de 6 anos com Cauã foi a mais longa?
Foi. A gente ainda tentou voltar, mas não rolou.
Existe uma relação de amizade entre vocês?
(Pausa) De respeito.
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Acha que Sofia, sua filha, será atriz?
Ela é filha de atores. Tá na veia. Acredita que Sofia é maior que eu? Tenho 1,73m, ela já tem 1,76m. Eu falo: “Você vai ser o que quiser.” Criar menina hoje é muito legal. Lá atrás, eu tinha que lavar louça e limpar a casa, e meu irmão ficava no videogame. Questionava e ouvia: “Vagabunda, preguiçosa”. Comecei a me empoderar. Sou uma mulher livre, que namora, faz o que quer.
Muito se falou sobre as dificuldades do Cauã com o elenco de “Vale Tudo”. Chegaram a dizer que ele não escovava os dentes nem usava desodorante. Como blindou Sofia?
Com muita conversa individual e em conjunto. Em tudo ligado a Sofia, eu e Cauã somos parceiros. Ela conhece bem o pai, me conhece e vive nesse meio desde que nasceu. Agora, na escola, parece que estão falando com ela sobre a novela. Não temos como blindar. Mas fofocas, até agora, ela não absorve. Faz terapia. É exposta desde o dia em que a gente se separou, quando ainda tinha 1 ano. Uma vez, ela estava com uma roupinha, e eu, com um vestido, e o paparazzo fez a foto e postou. Comentaram: “Que menina esculachada ao lado da mãe.” Fui sondar se ela tinha visto. Ela disse:“Mãe, eu me visto como uma pessoa da minha idade.” Aquilo me deu alívio. Eu e o pai estamos educando uma pessoa que já tem condições de discernir. E sempre fui querida pela imprensa e fiz movimentos sinceros.
Sendo sincera, Cauã usa desodorante?
(Risos). Gente, faz tantos anos. Eu não posso opinar. Vou perguntar pra Sofia… mas, com certeza, ele deve usar.