Elevado nível de deterioração por infestação avançada de cupins, diz um laudo sobre o estado das estruturas da Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte, na Rua do Rosário, no coração do centro do Rio. O documento da empresa Imunegold foi anexado a uma denúncia feita anteontem ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) pelo vicariato da Arquidiocese do Rio responsável pelas associações de fiéis, como irmandades, confrarias e ordens terceiras. Com marcas de abandono, o templo de quase três séculos está com as portas fechadas há pelo menos oito anos.
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O ofício pede medidas com urgência ao órgão de patrimônio e afirma que “todo o interior do templo, que está comprometido por falta de manutenção e cuidados e encontra-se infestado de cupins, traças e mofo, (…) também põe em risco a integridade de peças de valor inestimável”, que são parte do tombamento e do acervo protegido. O documento cita, inclusive, elementos dos séculos XVII, XVIII e XIX em estado de deterioração, como obras de arte e vestimentas sacras, tecidos ornamentais, peças litúrgicas e outros itens.
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Ontem, após a publicação de reportagem sobre a igreja no blog do colunista Ancelmo Gois, no GLOBO, o Iphan foi até o local para fazer uma vistoria junto com agentes da Polícia Federal. A provedora Brígida Rachid José Pedro foi ouvida durante a fiscalização. Na ocasião, ela não quis dar entrevista. Procurada mais tarde, também não quis se manifestar.
O templo foi tombado em 1938 e atualmente é administrado pela família Rachid, investigada pelo Ministério Público Federal sob suspeita de desvios, como informou Ancelmo Gois. A igreja, que começou a ser erguida no século XVIII, é gerida por uma irmandade. Ela exibe no altar-mor uma talha rococó de autoria de Mestre Valentim, que também assina a porta do templo, além de lâmpadas de prata e telas dos evangelistas, de autoria anônima.
O anteparo de quase quatro metros de madeira na entrada principal, antes com vitrais coloridos, não tem mais a decoração. De acordo com a denúncia do vicariato (órgão da Arquidiocese que atua no auxílio à ação pastoral e na administração), os ornamentos estavam estufados, desabando e na iminência de se esfarelarem, por falta de manutenção adequada. O que sobrou do vitral foi desmontado, vidro por vidro, por um restaurador que trabalha junto ao Iphan, para avaliação e contenção de danos.
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O laudo também aponta a deterioração de imagens religiosas, livros e documentos antigos da igreja, guardados sem proteção, bem como a rouparia antiga dos irmãos da Boa Morte e vestimentas históricas. Em caráter emergencial, foi feito o escoramento do coro por perigo de desabamento depois que uma inspeção do Vicariato verificou que parte das tábuas estava solta, com muito pó, e desnivelada, enquanto sustentava pesado órgão de tubos. Pelo estado desse material, verificou-se que o desnível, na verdade, era decorrente do avançado estado de ruína da madeira, por ação de cupins. A área chegou a ser isolada porque uma parte do revestimento inferior do coro desabou durante a vistoria.
O Iphan informou que a vistoria preliminar feita ontem, com a Polícia Federal, teve como objetivo “verificar um possível extravio de peças do interior da igreja”. A autarquia diz ainda que sua equipe técnica “constatou que o imóvel se encontra em boas condições estruturais”, mas que são necessárias ações emergenciais que ainda serão “melhor avaliadas” nos próximos dias.
No plano de ações do Iphan para o Estado do Rio em 2025, entre os bens religiosos tombados que demandam obras urgentes estão as igrejas da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo e Irmandade de Nossa Senhora Mãe dos Homens, no Centro, além das igrejas de São João Batista, em Itaboraí, e de Nossa Senhora dos Remédios, em Paraty. Já o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), lista nove templos que demandam obras urgentes.
