De acordo com a edição de 2024 do Livro Azul da Infraestrutura da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), o hiato de investimentos em infraestrutura no Brasil é de 2,27% do PIB por ano. Ou algo em torno de R$ 270 bilhões anuais, ao longo de dez anos. O setor com maior defasagem é transportes e logística, com hiato de 1,72% do PIB por ano.
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Os investimentos em transportes e logística — rodovias, ferrovias, hidrovias, aeroportos, portos e mobilidade urbana — foram de R$ 63 bilhões no ano passado, em recursos públicos e privados. A necessidade, porém, é de R$ 264 bilhões ao ano durante dez anos. Por esses números, o hiato de investimentos é de R$ 201 bilhões a cada ano. Isso representa R$ 2 trilhões em dez anos.
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É senso comum que o Brasil é um país rodoviário. Isso é verdade apenas em relação à composição da matriz de transportes, em que as rodovias representam 70% do total. A infraestrutura rodoviária, porém, está longe de ser adequada. O país conta com 1,8 milhão de quilômetros de rodovias, enquanto os Estados Unidos têm 6,6 milhões, a Índia 6,4 milhões e o pequeno Japão 1,2 milhão.
Apenas 220 mil quilômetros — ou 12,2% das rodovias federais, estaduais e municipais — são asfaltados. Desses, 32 mil quilômetros (14,5%) estão sob gestão privada. A parte sob gestão pública tem sérios problemas de manutenção e conservação — o que dificulta e onera o transporte de carga e passageiros.
Houve, nos últimos anos, substancial avanço nas concessões de rodovias ao setor privado. Se considerarmos as próximas concessões previstas, 19,1% das rodovias pavimentadas estarão sob gestão privada no final de 2025 — 32% das estradas federais e 15,4% das estaduais.
O movimento rumo às concessões é importante. Ele melhora a qualidade do serviço prestado à população, como comprovam as pesquisas realizadas pela Confederação Nacional do Transporte. O mesmo, no entanto, não se aplica às rodovias sob gestão pública, que não recebem os investimentos fundamentais e necessários.
A participação privada tem de avançar, mas não se podem deixar as estradas sob responsabilidade do Estado à míngua de investimentos. Mesmo com o avanço das concessões previsto para 2025, ainda restará 1,6 milhão de quilômetros de rodovias sob gestão pública — apenas 178 mil quilômetros pavimentados. A menos que se considerem aceitáveis as quedas de pontes, os deslizamentos de barreiras e as interrupções de trechos que a cada ano acarretam prejuízos materiais bilionários e causam a perda inaceitável de centenas de vidas, isso precisa mudar.
O desafio superlativo está em preencher o hiato de investimentos em transportes e logística, que não se limita ao modal rodoviário. É preciso ampliar a oferta de ferrovias para transporte de carga geral ou de passageiros e o transporte urbano sobre trilhos. E estimular outros modais na matriz de transportes.
Se o país mantiver os investimentos em transporte e logística nos mesmos R$ 63 bilhões de 2024, serão necessários 54 anos para zerar o hiato e ter uma matriz mais equilibrada. Como resolver o problema? É preciso pôr em prática ações disruptivas. É hora de menos emendas parlamentares, menos penduricalhos nos salários do funcionalismo público, menos indexação de despesas correntes, menos renúncia fiscal e mais investimentos em infraestrutura, que precisam ser priorizados nos orçamentos públicos.
Com o que se tem hoje, nem o ditado que sugere “fazer mais com menos” resolve. São necessárias ações que dependem dos três Poderes da República. Enquanto os recursos de União, estados e municípios não vêm para complementar os investimentos privados, o custo Brasil seguirá elevado. Isso reduzirá a competitividade, manterá a poluição do meio ambiente em níveis elevados e obrigará a maioria da população a gastar mais de três horas para ir e voltar do trabalho todo santo dia.
*Venilton Tadini, presidente executivo da Abdib, foi diretor de infraestrutura do BNDES e presidente do Banco Fator, Roberto Guimarães, diretor de planejamento e economia da Abdib, foi secretário do Tesouro Nacional