À frente de um dos quatro tribunais do júri — que julga crimes contra a vida — do Estado do Rio, a juíza Tula Correa de Mello é apaixonada por Direito Penal e mestre em Ciências Penais e Criminologia. A magistrada esteve em meio a um tiroteio na Serra da Grota Funda, na Zona Oeste da capital, na noite deste domingo, no qual morreu seu marido, o policial civil da Coordenadora de Recursos Especiais (Core) João Pedro Marquini, de 38 anos. Os dois estavam em carros separados quando sofreram uma abordagem — as primeiras informações são de que houve uma tentativa de assalto e o agente reagiu.
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Em entrevista ao GLOBO em setembro do ano passado, Tula falou sobre sua especialização em violência de gênero:
— Queria entender a violência de gênero. O machismo é estrutural na sociedade e, nós, mulheres, sentimos isso em todos os lugares. Algumas pessoas, numa ignorância cultural, pensam que não estamos no lugar adequado, que o lugar correto para uma mulher não é na área criminal, muito menos presidindo um tribunal do júri e caçando a palavra, dando ordem de prisão e na presidência de um júri.
Em dezembro de 2024, uma fala de Tula após ser interrompida por um advogado viralizou. Foi durante o julgamento do homicídio do perito da Polícia Civil Renato Couto de Mendonça. A defesa de um dos quatro réus apontou a vítima como “fruta podre” da corporação. A juíza pediu respeito à memória do agente. Ao tentar fundamentar suas palavras com base em preceitos legais, foi interrompida pelo advogado Flávio Fernandes, que chegou a acusá-la de estar “advogando para a vítima”. Sem se exaltar, a magistrada respondeu:
— O senhor preferia que eu ficasse servindo pelo fato de eu ser mulher, não é?

Advogado interrompe juíza do júri e abandona plenário
O advogado respondeu que não, mas a magistrada prosseguiu:
— Mas eu estou aqui presidindo.
Duas histórias marcaram e emocionaram Tula: os assassinatos das juízas Viviane Vieira do Amaral e Patrícia Acioli. A primeira foi morta pelo ex-marido na frente das duas filhas, na véspera do Natal de 2020. Embora não tenha presidido o júri, ela assistiu à sessão em que o réu foi condenado a 45 anos pelo então juiz do 3º Tribunal do Júri, Alexandre Abrahão, de quem herdou a função. No caso de Patrícia Acioli, assassinada em 2011, coube a Tula condenar os executores:
— Eu tive em mãos a sentença em que ela decretou a prisão dos policiais militares que, horas depois, a executaram. Uma advogada avisou para eles sobre a decisão da Patrícia. Quando eu vi a decisão dela, escrita com a letra dela, à caneta, eu me emocionei. Eu julguei o processo que motivou o crime. Isso tocou meu coração. Imagina: a gente dá decisões de forma corriqueira, e aquela sentença foi a última dela.