A Rússia comemorou nesta quarta-feira a decisão anunciada pelo governo dos EUA de interromper parte do envio de ajuda militar à Ucrânia, afirmando que quando menos armas chegarem ao país do Leste Europeu, mais rápido a guerra terá um fim. Em Kiev, autoridades demonstraram preocupação com a decisão americana em um momento em que a ofensiva russa conquista avanços na linha-de-frente.
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A Casa Branca anunciou na terça-feira que iria suspender parcialmente o envio de armas a Kiev, sob o argumento de “priorizar os interesses dos EUA”. A subsecretária de imprensa da Casa Branca, Anna Kelly, afirmou à agência francesa AFP que a decisão foi tomada após “uma revisão do Departamento de Defesa sobre o apoio e a assistência militar” dos EUA a outros países do mundo. A imprensa americana noticiou que a suspensão afetará os envios de mísseis e projéteis de defesa aérea.
A medida teve repercussão quase imediata em Kiev e Moscou. Enquanto os russos reagiram positivamente à determinação de Washington, autoridades ucranianas tentaram apontar que sem o apoio americano, o esforço de guerra para conter o avanço russo seria profundamente prejudicado.
— Quanto menos armas forem enviadas à Ucrânia, mais perto estará o fim da operação militar especial — disse o principal porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, ao ser questionado nesta quarta-feira, usando o termo pelo qual Moscou se refere à guerra.
Do lado ucraniano, as autoridades ainda tentam avaliar o impacto da medida. O assessor presidencial Dmitro Litvin afirmou a repórteres nesta quarta que o governo está “esclarecendo” com os americanos o que estaria incluído na suspensão dos envios de equipamentos de defesa. Em paralelo, o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia convocou o encarregado de negócios americano no país, John Ginkel, para enfatizar a “importância crítica” do fornecimento de equipamentos americanos.
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“O lado ucraniano enfatizou que qualquer atraso no apoio às capacidades de defesa da Ucrânia apenas encorajaria o agressor a continuar a guerra e o terror, em vez de buscar a paz”, disse a chancelaria em um comunicado.
Uma fonte do alto escalão militar ucraniana, ouvida em anonimato pela AFP, afirmou que o país teria dificuldades para se defender dos ataques russos sem a munição americana. Ela relatou à agência francesa que, neste momento, o país depende “seriamente” do fornecimento bélico dos EUA, apesar dos esforços da Europa para aumentar a ajuda enviada.
— Será difícil para nós sem munição americana — disse a fonte.
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As tropas russas avançam de forma consistente sobre o território ucraniano há meses. Dados do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), apontam que Moscou acelerou seus avanços militares pelo terceiro mês consecutivo em junho, mês em que também registrou sua maior progressão desde novembro, conquistando 588 km² de território.
A maior parte do avanço registrado no mês passado ocorreu na província de Donestk — uma das quatro anexadas pela Rússia desde fevereiro de 2022. O equivalente a 3/4 da região está ocupada pelas tropas russas, de acordo com os dados do ISW. Avanços significativos também foram registrados em outras áreas.
Além dos avanços por terra, Moscou também reforçou suas ofensivas por ar. Uma análise publicada pela AFP na terça-feira apontou que o número de drones de longo alcance disparados contra a Ucrânia aumentou 36,8% em junho em comparação com o mês anterior, forçando as capacidades defensivas de Kiev — e fazendo-a queimar ainda mais munição antiaérea.
De acordo com dados publicados diariamente pelo Exército ucraniano, a Rússia lançou 5.438 drones de longo alcance contra seu território em junho, um recorde desde o início da invasão da ex-república soviética em 2022. Para fins de comparação, Moscou lançou 3.974 desses dispositivos em maio. (Com AFP)