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livro resgata a história de Jane Catulle Mendès, criadora da expressão ‘cidade maravilhosa’

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setembro 21, 2025
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Anúncio para a terceira e última conferência carioca da francesa, no Theatro Municipal — Foto: Divulgação

Em um 21 de setembro — como o dia de hoje, mas no ano de 1911 —, a expressão surgiu na primeira página do jornal carioca A Imprensa. Foi publicada em francês: “est une ville merveilleuse”, afirmava a entrevistada na reportagem. Devidamente traduzido, nascia ali o epíteto que virou sinônimo de Rio de Janeiro. O tempo, no entanto, foi inclemente com a autora do apelido, mas o jornalista Rafael Sento Sé trata de reparar a injustiça em “A poeta da cidade maravilhosa”. O livro, já em pré-venda, tem lançamento previsto para outubro.

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Viúva de Catulle Abraham Mendès — expoente do parnasianismo, movimento literário que, no Brasil, teve representantes ilustres como Olavo Bilac —, a escritora parisiense Jane Catulle Mendès desembarcou em 20 de setembro no Cais Pharoux, ali na altura da Praça Quinze, e foi recebida por uma comissão da Associação Brasileira de Imprensa. A curiosidade em torno da figura era tanta que, no mesmo dia, foi organizado um encontro com jornalistas no Hotel dos Estrangeiros, na Rua do Catete 1. Ou melhor, “uma coletiva de imprensa, subterfúgio até hoje comum no mundo do showbiz e que Jane organiza de forma pioneira no Rio de Janeiro”, escreve Sento Sé.

No Rio de Janeiro daquele tempo, conviviam um enorme contingente de analfabetos (37% dos 800 mil habitantes) e uma elite que falava francês — além de ler, se vestir e se comportar como se vivesse naquele país europeu. Até as reformas urbanas implementadas no início do século XX pelo prefeito carioca Pereira Passos tiveram como modelo as históricas intervenções de Georges-Eugène Haussmann em Paris.

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É compreensível, portanto, a comoção provocada pela visita de madame Catulle Mendès. Aos 44 anos, acompanhada pela secretária, Mathilde Grimaud, ela vem à cidade para fazer três conferências — outro modismo importado — em sua língua de origem. Os eventos, na Associação dos Empregados do Comércio, na sede do Jornal do Commercio, construída na recém-aberta Avenida Central, e no Theatro Municipal, inaugurado há dois anos, têm por título, respectivamente, “O heroísmo da mulher francesa”, “A parisiense” e “As mulheres de letras francesas”.

Anúncio para a terceira e última conferência carioca da francesa, no Theatro Municipal — Foto: Divulgação

Militante e exemplo do empoderamento feminino avant la lettre, Jane Catulle Mendès foi alvo frequente de observações misóginas em artigos que preferiam tratar de sua aparência, em vez de debater suas ideias. Os machos tóxicos de outrora não sabiam com quem estavam se metendo. A madame que chega ao Rio de Janeiro já era crítica teatral, autora de três livros, dois de poesia e um de contos, mãe de quatro filhos, ex-colaboradora do La Fronde — jornal produzido exclusivamente por mulheres, da redação à gráfica — e havia despachado o primeiro marido por carta, em texto antológico parcialmente reproduzido no livro: “Não vou nem posso continuar a sacrificar minha natureza, meus sentimentos, meus gostos, minha existência inteira pelo que não pode ser outra coisa senão uma ferida na sua autoestima e um ataque apenas ao seu egoismo”, diz um trecho da missiva.

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Dona de si, a poeta programou passar três semanas na cidade, mas acabou prolongando a estadia por três meses. De volta a Paris, traduziu a experiência nos trópicos em 33 poemas reunidos no livro “La ville merveilleuse”, publicado em 1913. Até hoje, essa ode à cidade maravilhosa não foi traduzida para o português.

A temporada carioca foi esticada por uma razão simples: madame se esbaldou. Tomou chá com o cronista João do Rio no Club dos Diários, que viria a sediar o Automóvel Club, na Rua do Passeio, e visitou cartões-postais como o Jardim Botânico e a Biblioteca Nacional, transferida há pouco para o endereço que ocupa até hoje. Na antiga Avenida Central (atual Rio Branco), apareceu flanando, ao lado da assistente, em foto publicada sob o título “Celebridades femininas”.

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No bairro de Santa Teresa, frequentou os salões de duas mulheres que, como ela, se destacaram pela ousadia no comportamento e no modo de pensar: Laurinda Santos Lobo, mecenas, famosa pelos festejos que promovia, e Júlia Lopes de Almeida: escritora, articuladora da criação da Academia Brasileira de Letras, ela “ficou de fora do grupo de membros-fundadores com a justificativa de que a Academia que os havia inspirado, a Francesa, não aceitava mulheres”, lembra Rafael Sento Sé.

A escritora francesa já era apontada como autora da expressão cidade maravilhosa em 1917, em crônica de João do Rio, mas seu pioneirismo sempre foi questionado. Uma versão corrente, levantada até hoje na internet, atribui a primazia ao escritor maranhense Coelho Neto, que usou os termos em uma crônica de 1908 e, em 1929, publicou o livro “Cidade maravilhosa”.

— Forçaram a barra. Coelho Neto usou a expressão em 1908, no meio da crônica intitulada “Os sertanejos”, e a Jane a estampou na capa de um livro de poemas sobre a cidade — defende Sento Sé.

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No ano passado, mergulhado na tentativa definitiva de dar forma ao livro — ideia que, entre idas e vindas, acalenta desde 2012 —, o autor visitou pela primeira vez a Praça Catulle Mendès. No bairro de Campo Grande, na Zona Oeste da cidade, o lugar não tem placa ou outra lembrança da homenagem, prestada por decreto do então governador da Guanabara Negrão de Lima, em 1966.

A capa do livro sobre Jane Catulle Mendès, do jornalista Rafael Sento Sé, que será publicado em outubro — Foto: Divulgação
A capa do livro sobre Jane Catulle Mendès, do jornalista Rafael Sento Sé, que será publicado em outubro — Foto: Divulgação

— A diretora de uma escola próxima chegou a comentar que o nome seria o de um poeta. De fato, quando você joga “Catulle Mendès’ no Google aparecem muito mais referências a ele do que a ela. O lugar é conhecido como “Praça do Mundial”, nome de um time de pelada local. Essa foi a única homenagem que ela recebeu na cidade. Ela estava fadada a ser esquecida — diz o autor.

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Mesmo admitindo que não sabe muito sobre a personagem, o escritor e jornalista Ruy Castro, profundo conhecedor das figuras e coisas da cidade, sacramenta:

— Jane Catulle Mendès pode ter escrito dezenas de versos maravilhosos, não sei. Mas bastou-lhe juntar duas palavras para garantir sua imortalidade.

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  • Um apelido que viajou no tempo
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Um apelido que viajou no tempo

Hino desde 2003 a marchinha “Cidade maravilhosa” de André Filho fez sucesso no carnaval de 1936 — Foto: Reprodução
Hino desde 2003 a marchinha “Cidade maravilhosa” de André Filho fez sucesso no carnaval de 1936 — Foto: Reprodução

  • Em 1922, Olegário Mariano lançou “Cidade maravilhosa”. A obra com versos do poeta, político e diplomata pernambucano alcançou grande sucesso. Quatro anos depois, o autor conquistou uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.
  • Em 1929, Coelho Neto publicou “Cidade maravilhosa”, um livro de crônicas. O escritor chegou a alegar ter sido o criador do epíteto, que usou no texto de uma crônica de 1908.
  • Manuel Faria, pintor, inaugurou em 1930 exposição no Liceu de Artes e Ofícios. A mostra com telas que retratam paisagens cariocas ganhou o nome de — adivinhem — “Cidade maravilhosa”, e deu origem a um álbum ilustrado homônimo.
  • Ainda na década de 1930, o locutor Cesar Ladeira apresentava para grande audiência, na Rádio Mayrink Veiga, o programa “Crônicas da cidade maravihosa”, que se desdobrou em uma coluna na revista O Malho e, em 1935, inspirou um espetáculo musical.
  • Aracy Côrtes, estrela da peça, que estreou em 6 de janeiro daquele ano, sagrou-se vencedora de concurso para escolher o melhor artista das rádios do país, batendo concorrentes como as irmãs Carmen e Aurora Miranda.
  • O sucesso no palco inspirou André Filho a compor a marchinha “Cidade maravilhosa”, hit no carnaval de 1936 e, desde 2003, hino oficial do Rio de Janeiro.

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