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‘Me preocupo com uma crise fiscal nos EUA em 4 ou 5 anos’, alerta ex-economista-chefe do FMI

BRCOM by BRCOM
setembro 27, 2025
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Donald Trump exibe assinatura em tarifaço — Foto: Kent Nishimura/Bloomberg

Os rombos nas contas públicas dos países desenvolvidos — especialmente os EUA, mas também a Europa —, agora em um cenário de dívidas públicas maiores e taxas de juros também mais elevadas, poderão espalhar pelo mundo uma crise fiscal em quatro ou cinco anos, avalia o economista americano Kenneth Rogoff, professor da Universidade Harvard e ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI).

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Ele traçou o cenário em seu mais recente livro, “Our dollar, your problem” (“Nosso dólar, problema de vocês”, em tradução livre), lançado no início deste ano nos EUA. A obra terminou de ser escrita antes da eleição de Donald Trump, em novembro do ano passado.

A situação alarmante não mudaria muito com o Partido Democrata na Casa Branca, mas o tarifaço e o estilo de Trump poderão agravar o quadro, disse Rogoff em entrevista ao GLOBO às vésperas de embarcar para São Paulo, onde fará uma palestra no Macro Vision 2025, evento promovido pelo Itaú BBA, na segunda-feira.

Estamos à beira de uma crise econômica?

O que tenho escrito muito, mas nunca escrevi antes dessa maneira, é que me preocupo com uma crise fiscal nos EUA nos próximos quatro ou cinco anos e, possivelmente, uma crise fiscal em alguns países europeus, principalmente porque as taxas de juros (de curto prazo, de referência) estão muito mais altas do que as de longo prazo, e a dívida também está muito maior.

E a necessidade de gastos, de defesa militar a políticas econômicas populistas, está crescendo. Já escrevi sobre a conta corrente dos EUA no passado, mas nunca, realmente, alertei sobre o déficit fiscal, que é diferente de uma crise financeira.

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Se os EUA enfrentarem problemas fiscais e houver inflação, volatilidade no câmbio e nas taxas de juros, então certamente os riscos de haver uma crise financeira no setor privado e um problema de dívida dos mercados emergentes aumentam, é claro.

É algo maior do que uma crise financeira?

Não estou vendo uma repetição da crise financeira (de 2007 e 2008), mas, para ser preciso, acho que o mundo das criptomoedas terá uma crise nos próximos anos.

Acho que a desregulamentação foi muito extrema e teremos uma crise bancária clássica, mas no mundo das criptomoedas. Desta vez, diferentemente de 2022, quando Sam Bankman-Fried teve problemas com a FTX, isso vai repercutir muito mais na economia real, porque o mundo cripto se tornou muito mais importante e mais integrado.

A crise fiscal se espalharia?

O motivo pelo qual me preocupo com uma crise financeira é mais pela volatilidade. Vejo um mundo com mais volatilidade na taxa de câmbio, nas taxas de juros, na taxa de crescimento, mesmo que agora tudo esteja muito estável.

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Qual a relação dessa crise com a guerra tarifária?

A guerra tarifária é parte de um problema muito maior de instabilidade geopolítica. É parte de um problema maior, que é o governo (Donald) Trump ser bastante imprevisível no que está disposto a fazer.

Quero dizer, a guerra tarifária não é boa para o crescimento, mas as consequências no curto prazo não são o principal problema. É um problema de longo prazo, minando o crescimento, minando a produtividade, minando o dólar.

Donald Trump exibe seu decreto de tarifas recíprocas na casa Branca — Foto: Kent Nishimura/Bloomberg

Seria apenas um capítulo da crise fiscal?

Um fator contribuinte. No meu livro, que terminei antes de saber quem havia ganhado a eleição (presidencial americana), eu achava que haveria um problema, independentemente do partido que ganhasse. Porque os EUA se convenceram de que podem gastar o quanto quiserem, pelo tempo que quiserem, e nunca haverá problema.

A chegada de Stephen Miran, assessor econômico de Trump, ao Fed, pode tirar do papel o Acordo de Mar-a-Lago, endossado por ele e que prevê uma espécie de calote na dívida pública americana?

Se os EUA enfrentarem um problema fiscal sob Trump, todas as possibilidades estão na mesa. Certamente poderíamos ter algum tipo de calote comercial. O Acordo de Mar-a-Lago, claro, é uma forma de calote parcial. A “One Big Beautiful Bill” tinha um imposto sobre juros para detentores estrangeiros de títulos. Isso é um calote, claro.

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Então, essas coisas estão todas na mesa, e pergunte a si mesmo: Trump estaria disposto a fazer essas coisas? Claro que sim. Se alguém poderia fazer algo assim no curto prazo, seria ele. Mas posso imaginar (a deputada federal americana pelo estado de Nova York Alexandria) Ocasio-Cortez (de posição à esquerda no Partido Democrata), ou algum outro esquerdista, fazendo esse tipo de coisa. Não é só Trump.

Podemos dizer que os EUA estão em dominância fiscal?

Ele (Trump) está tentando (levar os EUA à dominância fiscal, situação em que só o ajuste no Orçamento público pode controlar preços, pois a política de juros altos eleva tanto a dívida do país e os gastos públicos,que perde o efeito sobre a inflação, via esfriamento da atividade).

Trump está tentando tomar o controle do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) para manter a economia em alta. Quer taxas de juros mais baixas. Ele pode ter só mais dois ou três anos (de mandato), mas quer que esses sejam anos ótimos para a economia dos EUA.

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E acho que políticas populistas funcionam temporariamente. Vocês sabem disso muito bem no Brasil. Políticas populistas funcionam por um ou dois anos, talvez três, no caso dos EUA, mas, eventualmente, todos os problemas aparecem.

Então não teremos uma recessão logo?

Quando estive no Fórum Econômico Mundial (encontro de economistas, empresários e representantes de governo, realizado na Suíça), em janeiro, previ que, provavelmente, teríamos uma recessão nos primeiros dois anos do governo Trump.

Agora acho que os grandes problemas virão em 2027, talvez só em 2028. Mas eles virão. A “One Big Beautiful Bill”, as tarifas, a tomada do Fed, todas essas coisas levarão a menor crescimento, maior inflação e instabilidade, mas não necessariamente rápido.

Isso levaria a juros mais altos?

Bem, eu acredito que sim, mas há pessoas inteligentes dos dois lados desse argumento. Há acadêmicos que acreditam que eventualmente as taxas de juros voltarão ao que eram na década de 2010, a taxa real perto de zero.

E há pessoas, como eu, e acrescentaria meu colega Larry Summers (professor e presidente emérito de Harvard, que foi secretário do Tesouro no governo Bill Clinton e assessor econômico do então presidente Barack Obama), que acreditam que as taxas reais de juros de longo prazo provavelmente subirão. Mas, sabe, não é uma visão fanática dizer que podem cair. Por outro lado, não entendo por que estamos apostando tanto nisso.

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Desde as últimas crises, as grandes economias acumularam reservas internacionais. Até as economias emergentes estão mais protegidas agora?

Com certeza. Os grandes estoques de reservas que países como o Brasil têm, ou mesmo Índia e, mais ainda, a China, proporcionaram uma enorme resiliência. Também o desenvolvimento dos mercados domésticos de dívida se aprofundou. Então, os países dependem menos da dívida externa. Dito isso, certamente você poderia ter uma crise de crescimento significativa se os EUA ou a Europa entrarem em crise.

Qual seria a nova configuração da economia global após a crise?

O que eu sugiro no livro (lançado este ano) é que o desfecho inevitável disso é um sistema financeiro internacional mais multipolar, onde o dólar ainda pode ser a primeira (entre as reservas globais), mas com uma participação de mercado muito menor.

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O euro vai ganhar participação de mercado e, eventualmente, o yuan (da China) ganhará participação de mercado. E as criptomoedas ganharão participação de mercado, não na economia legal, mas na economia subterrânea, e isso já ocorre.

Como viu a sobretaxa de Trump sobre o Brasil?

Isso mina profundamente a relação. Força os países a buscarem outros parceiros geopolíticos e comerciais. A ideia de que Donald Trump pode mandar no Brasil, sobre seu sistema judicial, sua política interna, é um grande erro histórico. Acho que a forma como Trump tratou Índia e Brasil é profundamente equivocada.

Se o café e a carne ficarem mais caros nos EUA, Trump poderia voltar atrás nas tarifas sobre o Brasil?

Não sei. Ele é pragmático e, se perceber que uma grande parte de sua base está irritada, pode tentar mudar algumas coisas taticamente.

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Estou muito preocupado com o que está acontecendo com a independência do Federal Reserve. Acho que se Trump for bem-sucedido nisso, estará atirando no próprio pé. Ele não suporta a ideia de que os mercados financeiros se importam com (o presidente do Fed, Jerome) Powell e não só com ele. Trump odeia isso.

E quer, como qualquer presidente, taxas de juros muito mais baixas. Se ele assumir o Fed, no começo, vai funcionar, teremos crescimento mais rápido, mas, depois de alguns anos, também teremos inflação entrincheirada e difícil de eliminar.

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