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Selin Kocalar, de 21 anos, diretora de operações da Delve, uma startup de inteligência artificial em São Francisco, soube da mudança por meio de um novo funcionário que acabara de ter seu visto H-1B aprovado. Ela disse que estava refletindo sobre o que a taxa significaria para a contratação em sua empresa de 23 pessoas, que levantou US$ 35 milhões em investimentos.
— Como startup, você está sempre apertado de dinheiro. Então não dá para sair gastando uma fortuna ou ter aquele tipo de luxo que você veria em uma empresa maior — afirmou Selin.
Em contraste, Reed Hastings, presidente e cofundador da Netflix, não se abalou. A taxa de US$ 100 mil “é uma ótima solução”, publicou ele nas redes sociais no domingo:
“Significa que o H-1B será usado apenas para empregos de altíssimo valor.”
A Netflix, que possui aproximadamente 14 mil funcionários, registrou mais de US$ 11 bilhões em receita e US$ 3,1 bilhões em lucro no último trimestre.
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As diferentes reações mostram como a mudança de visto do governo Trump está repercutindo na indústria de tecnologia — que utiliza o H-1B para contratar milhares de engenheiros de software, especialistas em inteligência artificial e outros profissionais — de uma forma que pode criar uma divisão entre quem tem e quem não tem.
Enquanto as maiores empresas de tecnologia têm dinheiro para absorver a nova taxa, as startups estão preocupadas com sua capacidade de atrair e pagar talentos, especialmente quando possuem financiamento limitado e precisam ponderar cuidadosamente cada dólar gasto.
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A mudança pode atingir o cerne do ecossistema tecnológico dos EUA, inclinando a balança a favor dos gigantes já estabelecidos, com bilhões de dólares. O Vale do Silício depende de um fluxo constante de startups para desenvolver novas ideias e tecnologias, com algumas dessas empresas eventualmente se transformando em gigantes do setor.
— Isso será um impacto desproporcional para empresas menores, porque não podemos competir com a OpenAI e a Meta — disse Aizada Marat, CEO da Alma, uma startup de serviços jurídicos de imigração em Palo Alto, na Califórnia, que ajuda empresas a lidar com vistos de funcionários.
Se a taxa de US$ 100 mil imposta pelo governo se mantiver, Marat disse que sua empresa, que levantou US$ 5,5 milhões em investimentos e depende de trabalhadores estrangeiros, não será capaz de contratar pessoas por meio do programa de vistos H-1B.
A mudança poderia, em última instância, prejudicar a liderança dos EUA em tecnologia, disseram alguns empreendedores, especialmente enquanto o país participa de uma disputa acirrada sobre IA com a China.
Jihan Merlin, chefe de estratégia de imigração da Alma, afirmou que a nova taxa de visto provavelmente não afetará o país da noite para o dia, “mas mudanças de política como essa fazem as pessoas pensarem duas vezes antes de trazer suas empresas para os EUA”, disse ela, acrescentando:
— E, com o tempo, isso vai mudar nossa competitividade como país.
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Um visto H-1B típico custa às empresas cerca de US$ 10.000, incluindo honorários advocatícios e custos administrativos, apontou Jihan.
Executivos de tecnologia e políticos há muito concordam que os Estados Unidos precisavam de outras formas de atrair e reter talentos, e que o sistema atual de concessão de autorização para trabalhadores estrangeiros qualificados estava pronto para uma reforma. O programa H-1B tem se baseado em um sistema de loteria e limitado os vistos a 85 mil por ano.
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Em junho de 2024, Trump reconheceu os problemas durante sua campanha presidencial e propôs que qualquer pessoa que se formasse em uma universidade ou faculdade americana recebesse um green card para morar e trabalhar no país. Alguns de seus apoiadores mais próximos reagiram negativamente à ideia.
“Você precisa de um grupo de pessoas para trabalhar em suas empresas”, disse ele no “The All-In Podcast”, apresentado por vários investidores de tecnologia. “Você tem grandes empresas, e elas precisam de pessoas inteligentes.”
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Trevor Traina, fundador de São Francisco que atuou como embaixador durante a primeira presidência de Trump, chamou as novas mudanças no H-1B de “uma proposta inicial” para mudar a conversa sobre imigração.
— A indústria de tecnologia se beneficiaria de mais vistos para trabalhadores estrangeiros qualificados, e tenho certeza de que muitos esperam que isso leve a uma boa solução de longo prazo — disse ele.
Outros não estão tão certos. A mudança de política interrompe o fluxo de talentos de tecnologia de ponta entrando nos Estados Unidos e compromete sua vantagem na corrida global pela IA, disse Bilal Zuberi, 49 anos, sócio-diretor da Red Glass Ventures.
— Interromper isso é realmente atirar no próprio pé — disse Zuberi.
Ele estimou que cerca de 30 a 40 empresas que ele apoia serão afetadas por essas mudanças.
Zuberi afirmou que as startups podem encontrar alternativas à nova taxa do visto H-1B, incluindo o uso do programa de talentos extraordinários, ou visto O-1, ou abrindo escritórios em outros países, como o Canadá, para contratar funcionários remotamente.
— Não acho que a solução para essas empresas vá ser ‘Ah, por que não contratamos americanos?’ — acrescentou.