Jean Garrett e Ozualdo Candeias, cineastas da Boca do Lixo (movimento que surgiu em São Paulo no fim dos anos 1960), serão homenageados na mostra “Mestres do cinema paulista: parte 1”, na Cinemateca Brasileira, na Zona Sul de São Paulo. De quinta (3) a domingo (6), o público poderá assistir (de forma gratuita) a filmes raros de ambos, todos em cópias digitalizadas em 4K. Em conjunto, as oito produções exibidas no miniciclo buscam criar tanto uma retrospectiva dos trabalhos dos dois diretores quanto um panorama do cinema da Boca.
A mostra abre (e termina) com o filme “Mulher, mulher” (1979), de Jean Garrett, na quinta, às 20h. Sucesso de bilheteria na época, o longa é estrelado por Helena Ramos, uma das atrizes mais emblemáticas da sub indústria paulistana e musa do cinema erótico da época.
Depois da exibição, a atriz e o idealizador do projeto, Eugenio Puppo, participam de um bate-papo (que terá transmissão ao vivo) com o crítico e pesquisador Gabriel Carneiro, sobre a importância da preservação cinematográfica e o legado dos cineastas. A ideia é que ainda compartilhem com os visitantes histórias de bastidores e curiosidades sobre as produções.
Os outros dois filmes digitalizados de Garrett serão exibidos na sexta-feira e no sábado. No segundo dia do ciclo, às 20h, o público assistirá a “Excitação”, longa de 1977 que inicia a trajetória do cineasta no universo fantástico. A obra conta a história de um engenheiro que compra uma casa de praia a fim de ajudar sua esposa que saía de uma crise nervosa. Porém, ela descobre que um homem se matou na residência e começa a vê-lo em alucinações.
Já no sábado, a Cinemateca exibe às 19h30 o longa “Noite em chamas” (1978) que acompanha a história de João, funcionário de um hotel no Centro de São Paulo que pretende explodi-lo.
Diretor, roteirista, produtor e ator, Jean Garrett nasceu em Açores, Portugal, mas foi no Brasil que criou sua carreira como cineasta. Logo que chegou por aqui, passou a integrar a equipe de diretores famosos, como José Mojica Marins (quando foi assistente de Zé do Caixão) e do próprio Ozualdo Candeias. Sua estreia na direção foi em 1975, com o filme “A ilha do desejo”, grande sucesso de público.
Em seus trabalhos, Garrett privilegiou a investigação da sexualidade no Brasil daquela época e firmou o melodrama como gênero, com predileção ao tom intimista e psicológico nas encenações. Foi frequentemente caracterizado como um “artesão” no cinema.
O foco no domingo será para os curtas-metragens Ozualdo Candeias. As cinco obras (que têm entre nove e 14 minutos) serão exibidas em sequência, a partir das 17h.
A sessão começa com os dois primeiros curtas de Candeias, “Tambaú” (1955) e “Polícia feminina” (1960), ambos documentários. Enquanto o primeiro retrata a última benção ministrada pelo padre Donizetti (declarado beato pela Igreja Católica) na cidade de Tambaú, o segundo apresenta de forma dramática as atividades da polícia feminina.
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Em seguida, a mostra dá um salto nos trabalhos do cineasta e pula para a década seguinte, com os curtas “Uma rua chamada Triumpho: 1969/1970” e “Uma rua chamada Triumpho: 1970/1971”, que por meio de fotografias de sua própria autoria documentam a região da Boca do Lixo entre 1969 e 1971 (ano de produção de ambos, por sinal). A parte em homenagem à Candeias termina com a exibição de “Bocadolixocinema”, de 1976, que conta sobre a festa de final de ano da Rua do Triunfo, organizada pelo meio cinematográfico naquele ano.
O miniciclo encerra com mais uma exibição de “Mulher, mulher”, de Garrett, às 18h30 de domingo.
Ozualdo Candeias foi um dos precursores do cinema de autor no Brasil e do movimento conhecido como Cinema Marginal. Seu longa-metragem de estreia, “A margem” (1967), é tido até hoje como um marco do cinema nacional.
Diretor, roteirista, fotógrafo, ator e montador, não foi apenas pioneiro da Boca do Lixo, mas também seu principal historiador — já que documentou em fotos e em filmes o cinema ali produzido.
A mostra acontece na Cinemateca Brasileira (Largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Mariana), de quinta (3) a domingo (6). A entrada é gratuita e os ingressos devem ser retirados uma hora antes do início de cada sessão.