Em entrevista ao GLOBO para a série “No divã”, que traz figuras do futebol, cujos temas vão além da bola, Cléber conta como viveu o “lado B” desse mundo, justamente nos tempos de seleção brasileira. E, de que maneira, seu contato com a arte e a cultura o ajudaram a estar mais preparado para viver a sua maior paixão, agora como “zero um”.
Ex-marido de uma artista plástica e hoje casado com uma profissional do cinema, Cléber vibrou com o Oscar do filme “Ainda Estou Aqui” e tem como banda preferida os “Paralamas do Sucesso”. Gaúcho de Alegrete, é filho de pai cozinheiro e dançarino de tango, e mãe cabeleireira.
De perfil sistemático e autodidata, Clebinho, como é conhecido na família, administrou um teatro no Rio em 1987, antes de fazer faculdade de Educação Física no Sul. Fã de música, cinema e viagens, é o oposto de Tite, que, segundo ele, tem o futebol como régua para todos os outros temas.
“Minha terapia é viver, curtir”, conta o ex-auxiliar do Brasil, que falou sobre Neymar e seleção:
“Neymar é craque. Não apareceu jogador como ele nos últimos 15 anos. Mas os cuidados que ele deveria ter ele não tem. Opção dele. Ele não quis ser Messi nem Cristiano Ronaldo. Mesma coisa o Ronaldinho Gaúcho. Ele não quis. Um dos melhores. Esses são craques. Rodrygo pra mim é um craque. Por que na seleção não faz igual no Real? Por que não consegue ter o entendimento com a parceria, o desenho bem ajeitado”.
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Qual a sensação que dá com a separação do Tite depois de 25 anos de “casamento”?
É estranho. O Tite é um cara cuja visão é o futebol. É a família, a relação com o futebol e a religiosidade dele, que é muito forte. E ele fica focado nesses pilares. Ele não é um cara de relação, de receber amigos em casa. No início, eu tentei soltá-lo mais, e ele me prender mais, mas nenhum conseguiu. E a gente se respeita sendo desse jeito. Não tinha uma relação fora. Quando eu volto a uma situação solo, era como estar desempregado. Em 2014, fizemos um ano sabático, fiquei seis meses sem falar com ele (risos).
Então você nunca deixou de viver a sua vida…
Nos tempos em que ficava sem trabalhar, a gente se reunia semanalmente. Depois, ele ficava na casa dele e eu saía para dar meu giro, visitar amigos, viajar com meus filhos, minha mulher. Gosto disso, de fazer viagens dentro e fora do Brasil, de receber meus amigos. Sempre vivi isso nessas paradas. A seleção também dava isso. Sempre que terminava uma data Fifa, a gente dava cinco dias de folga. Se eu jogava na Alemanha, ficava cinco dias, fazia alguma viagem pela Europa ou vinha para uma praia no Nordeste. Depois, mergulhava no futebol. No fim de semana, tinha escala de ver jogos. Gravava o jogo, curtia meu sábado, analisava à noite ou no domingo cedo. O Tite via o jogo às 16h. Ele segue o foco dele. É um cara diferente, muito focado. O tempo inteiro. Vai conversar com ele e o assunto é futebol. Vai falar de cinema, não tem. É futebol.
Sempre separou futebol da vida fora dele?
No primeiro casamento, fui casado com uma artista plástica. Hoje, sou casado com uma mulher do cinema. Meu irmão é ator. Meu compadre é músico. Tenho muito artista na minha relação. Muita relação com a arte e essa vida social. Vou muito ao cinema, teatro, shows, gosto de receber amigos, visitar. Sempre levei isso paralelamente. Quando decidi ser treinador de futebol, era a minha primeira paixão. Organizava o time da escola, do bairro, depois fui disputar campeonatos em Porto Alegre. Mas meu irmão, que era ator, veio trabalhar no Rio em 1987, e eu fui administrador de um grupo de teatro no Rio. Tinha sofrido uma lesão jogando futebol. Quando me recuperei, decidi que minha vida era o futebol. Queria ser treinador. Aí, fui fazer Educação Física. Mas a arte estava em paralelo na minha vida. Meu pai era cozinheiro, cantor de tango, na fronteira, cantava nos bares e clubes da cidade. Minha mãe era cabeleireira. As duas profissões são uma forma de arte.
Quando entrei na universidade, fui fazer estágio em uma escolinha e fui convidado para ir para o Inter, com um mês de universidade. Fui sendo autodidata, estagiário, preparador físico, auxiliar, treinador. De 1988 a 1994, trabalhei em várias funções, enquanto estudava e via jogos. Depois, tive convite para o Bragantino. Fui bem em um torneio e acabei indo para o Grêmio, em 1995, com uma estrutura de base forte, que não tinha no Inter. E fiz um trabalho de gestão de uma comissão técnica do clube, com vários setores, análise, performance, fui criando isso no Grêmio. Quando o Tite foi contratado, o clube disse para ele não levar auxiliar, pois tinha um cara pronto. Eu nunca falei com o Felipão, o foco era na base. Eles me viram e fizeram a parceria com o Tite.
E quais foram as primeiras referências e experiências?
Meu primo jogava no time da cidade. Sempre tive ídolos, era apaixonado pelo jogo em si. Escutava os jogos pelo rádio. Os primeiros técnicos que tive como referência de olhar foram o Celso Roth, o Antônio Lopes e, depois, o Felipão. Olhava de longe e ia agindo, gerindo a minha equipe, buscando e criando os meus treinamentos. Cheguei no Grêmio para treinar o infantil, depois treinei o júnior com Ronaldinho, Tinga, fiz alguns jogos, um deles contra o Mano Menezes. Coloquei o Tinga no jogo. Falei que ele tinha que jogar. O (Emerson) Leão, quando chegou no Grêmio, não queria usar os profissionais, como fisiologista, psicólogo, etc. E eu peguei esses caras e levei para o júnior. Quando o Tite chegou, eu subi junto com esses caras. E os jogadores também: Anderson Polga, Eduardo Costa… Eu sou muito o prático do Tite. Observando a minha relação, ele me deu esse espaço no primeiro dia. Na primeira conversa, meu time tinha sido eliminado e queria ir descansar. O Tite queria que eu estivesse na pré-temporada em Gramado. Ele já me deu o treino: “Treina os movimentos defensivos.” Desde esse dia, me deu autonomia. Embora não pareça, sempre brinco, ele tem três anos mais que eu apenas.
Hoje, depois da era Tite na seleção, o Brasil vive um cenário que desencoraja os brasileiros a iniciarem o trabalho como treinador. O que te leva a isso agora, começar com 61 anos?
O que me move é ganhar como treinador o que ganhei como auxiliar. Coloquei um dia que queria ser treinador, fui atrás do meu sonho, me fiz treinador como autodidata, tive conquistas na base, no profissional só não conquistei na seleção, e quero tê-las como treinador. Até tenho um sentimento de falta dessas conquistas nos últimos anos. Depois do Corinthians, fomos para a seleção, disputamos quatro competições, ganhamos uma Copa América. Fizemos um trabalho consistente, sobretudo no cenário sul-americano, mas só perdemos para a Bélgica entre os europeus. Não tivemos conquistas. Saí frustrado do Flamengo por não ter conquistas maiores. Recolocamos na Libertadores, conquistamos o Carioca, que era objetivo, que veio de cima, mas a gente concordou. E, na hora de conquistar os três mais importantes, em um fomos muito mal, e nos outros dois estávamos brigando. O Filipe deu continuidade e foi campeão. Mas gosto de conquistar. Sou competitivo por natureza. De 25 anos, 17 foram trabalhando em quatro lugares: Inter, Corinthians, seleção e Flamengo. Tivemos continuidade, conquistas, mas me falta isso. Me sinto capaz de seguir. Vejo o exemplo do Felipão, de outros que vão até 70 anos, é o mínimo que eu penso. Também coloco isso: a transição é difícil. Fui auxiliar, primeiro tenho que entrar no mercado como treinador, depois tenho que ganhar, para depois aparecer meu currículo. A partir daí, a possibilidade de entrar num mercado maior. Se o Zubeldía sair do São Paulo, eles não vão me ligar.
Mesmo sem chegar e sentar na janela, ainda tem essa coragem?
É minha forma de viver. Vivo para isso. Embora viva as artes e a cultura. Fui para Mônaco, observei jogadores, conversei com o Leonardo Jardim (treinador), fui para trabalhar. Mas saía do treino e ia andar de bicicleta, curtir o parque da cidade, viver minha vida. E postava. Pediam para não postar. Mas eu estava trabalhando e vivendo minha vida. Tenho essa clareza.
Com esse enriquecimento pessoal, se sente mais preparado para esse mundo do futebol bitolado? Como entrar nessa bolha agora como treinador e promover esse equilíbrio?
É legal isso, cara. Essa passagem pela seleção me deu, em seis anos, essa vivência de Europa, conviver com treinadores de lá, europeus e sul-americanos, e com atletas. Richarlison morava em Liverpool e não sabia a história dos Beatles. Eu entrei no elevador cantando, ele pergunta: “Que música é essa?” Isso é Beatles, você vive em Liverpool e não conhece? Isso te dá abertura com os atletas. O jogador respeita duas coisas, basicamente: conhecimento e tratar ele com respeito e verdade. Isso eu conquistei. Com 36 anos, eu treinava o Zinho, Roger, Danrlei, com esse comando. Eles viam que tinha conhecimento para trabalhar e discutir com eles. Agora, com esses grandes jogadores como Thiago Silva, Filipe Luís, David Luiz, que entendem o jogo como poucos, e os que têm conhecimento mais geral, mais culto nesse sentido, troca mais com eles, entende muitas coisas. Hoje, o jogador europeu, o brasileiro que joga lá, tem vários profissionais que trabalham com ele fora do clube. As figuras do clube torcem o nariz e veem como inimigo. É o contrário. Conheço o pessoal que trabalha com o Wesley, do Flamengo. Dizem que era um cabeça de bagre e agora virou craque. Tem uma empresa com trabalho de análise de desempenho magnífico. Tenho que trazer esses profissionais para perto para desenvolver o atleta. Ter conhecimento para entrar, buscar, no aspecto mental e físico. Hoje, o futebol está muito físico. Os atletas têm mental forte através de coaching, psicólogo, troca com treinador. O técnico não desenvolve mais o atleta dando bolinha. Mas também desenvolve nas outras dimensões. E você senta mais tranquilo com os caras. Por ter vivido com atletas mais de nome, como Ronaldo Fenômeno, Roberto Carlos, Marcos (goleiro), e ter trabalhado com Fernandinho, Renato Augusto, e esses novos, que precisam saber entendê-los, eles precisam abrir, trocar contigo, falar de algumas coisas, não focar só no jogo. Por isso, tenho a clara noção de que, quando virar o número um, o meu tempo diminui. Terei pouco tempo e espaço para poder ir a um show, pela derrota ou pela vitória, mas porque tenho que dormir cedo e acordar cedo. Mas, se dividir bem meus auxiliares, tratar sobre isso, tenho uma noção melhor de tudo.
E tendo passado por algumas gerações, como avalia a de treinadores e a de atletas no Brasil? Ficou tudo muito igual por essa falta de tempo?
A geração de atletas hoje está mais interessada no jogo, em se desenvolver. A geração passada estava mais solta para jogar. Nos anos 1990, se jogava mais futebol porque tinha tempo e espaço. Hoje, não tem para jogar. Mudou. Antigamente, o atleta chegava, botava a chuteira e ia treinar. O momento de prazer era o rachão. Os caras se matavam, apostavam dinheiro. Hoje, o atleta da nova geração busca prazer em chegar mais cedo, fazer uma rotina, ser avaliado pelo departamento de saúde. Antes, não podiam ver uma nutricionista ou uma psicóloga. E hoje, são parte fundamental. Antes, não tinha análise de desempenho. O treinador passava um “videotape”. Hoje, em cinco minutos, mostra para o cara uma jogada e ele discute com o treinador. Renato Gaúcho comentou que foi cobrar o Filipe Luís por ver o telefone e ele estava vendo uma jogada. Isso é uma coisa normal. O jogador se prepara, bota o som dele lá, pode ser um samba, rock, gospel. Tem jogador que vai ver os lances. Outro te dá uma aula do que tem que fazer no jogo. Essa geração tem isso.
Você então não seria de proibir nada?
Não, hoje o futebol é feito em duas mãos. A relação com o atleta tem que ser de troca. Quando está parado, como eu, vê tudo: jogo, podcast, toma um café com alguém, aprofunda mais essas relações. Edilson falou que o Renato armou o time de um jeito, chamaram ele, mudaram a marcação, e deu certo. É uma coisa natural. Se prepara o time, deu 20 minutos, pode sofrer uma surpresa, haver mudanças, ajustes, lesões. Volta para o segundo tempo, ajusta, mas o adversário muda. O jogo que preparou toda semana não existe. Sempre o jogo foi do jogador. Sistema? Esses números não existem mais, existem comportamentos. Depende do contexto, se está brigando para ganhar, para escapar, a cultura do clube, uma série de contextos. E a partir daí, implementar o modelo. E tem que dominar todos eles. Filipe Luís teve expulsão contra o Corinthians e surpreendeu, fechou o time. Não. É a ideia do treinador. Hoje, não existe mais time no papel, titulares. Tem cara que não consegue fazer três jogos seguidos nesse calendário. Tem uma ideia. A defesa do Flamengo é Léo Ortiz e Léo Pereira. O Danilo chegou. Vai usar de acordo com os movimentos. O Roger, no Gre-Nal, jogou com dois desfalques no primeiro jogo e depois não mexeu. Chamou os quatro jogadores e explicou. Isso é legal. Essa vivência tem que ter para passar claramente e ter confiança do atleta. O campo é que vai dizer. Essa conversa fora, de entrevista, de empresário, não, é o campo. Felipão lembrou que tirou o Romário da Copa de 2002 porque ia mexer no jeito dele de jogar, correu o risco. Ganhou, tá ótimo. Perdeu…
Mas você tem um time ideal em termos de conceito? Antes de saber para onde vai?
O jogo defensivo é perde e pressiona. Quero ser protagonista. Se não perder e pressionar, sofre e não há equilíbrio. Dizem que atacante vira marcador de lateral. É momento do jogo. Perde e pressiona em cima que não corre até lá atrás. É a mesma coisa a construção. Tem que organizar uma saída, estudando o adversário. Em Brasil e Colômbia, se criou uma saída, eles mudaram a marcação e não conseguiram sair mais. Mas, com pouco treino, é difícil.
Como cria um pouco de processo na seleção brasileira? O trabalho de clube tem que ser igual ?
Quando a gente sai do Corinthians, chegava duas horas antes do treino, organizava tudo, saía duas horas depois. Na seleção, mudamos toda a estrutura. O treinador chegava para fazer a convocação e ia para casa. A gente trabalhou no horário da CBF, das 10 às 19. Começou a desenvolver uma estrutura tática. Aproveitamos a do Dunga. Tiramos Elias e colocamos o Paulinho, Luiz Gustavo colocou o Casemiro. Coutinho na direita. Centroavante foi o Gabriel Jesus. Desenvolvemos uma maneira de jogar. Analisamos todos os jogos deles nos clubes, movimentos defensivos, nas três alturas, criação, último terço, e trazíamos para eles. Quando começa a trabalhar, tem dois dias. O cara joga no norte da Inglaterra, pega voo, ele não vai treinar. Vai treinar no terceiro dia para jogar no outro. No primeiro dia, treina quem tem condição, que não jogou, só treinou, e mostramos vídeo. Se é contra o Uruguai lá, mostramos como ataca e como defende, e o que vamos fazer. E íamos para o campo treinar no outro dia isso. Eles já haviam recebido tudo isso no celular. Treinava os movimentos defensivos primeiro, que o volume era mais baixo, e no outro dia o movimento ofensivo, com mais intensidade, com eles mais descansados. Pós-jogo era folga, cabeça, os caras estavam malucos. Não tinha restrição. Para o segundo jogo, o mesmo processo. E isso a gente trouxe para o Flamengo. Mas ele é muito exigente para esse calendário.
No processo mental. Joga e tem que chegar de madrugada e ir de manhã pra preparar treino, vídeos. O cara chega na segunda, recupera, e tem jogo na quarta. Tinha dias que não fazíamos nem vídeo. Tem que equilibrar esse processo. Hoje o futebol tem como princípio o controle de carga, o padrão de jogo, e muito vídeo, porque às vezes não consegue treinar. Naturalmente, há lesões, traumas, mas também lesões musculares, mesmo que controle a carga. Ter esse controle é fundamental. Por isso, a importância do fisiologista. Quem decide se o cara joga é o treinador. Mas tem que usar o médico, o preparador físico e o atleta. “Professor, não vou jogar no Allianz Parque. Se for jogar lá, vou me f…”. Como vai colocar um jogador assim? Tem que trabalhar isso. Essa é a minha maneira de gerir um grupo de atletas, com troca, cobrar com respeito.
O craque no Brasil acabou?
Não morreu. Tem em todas as posições. Léo Ortiz e Thiago Silva. Não vi zagueiro melhor que o Thiago Silva. Dominava todos os fundamentos. Destrói construindo, marca atacando. E o Ortiz está nesse nível. O goleiro do Barcelona é craque. Ter Stegen, defende e joga com o pé. Craque é aquele que faz as coisas de forma diferente.
É justificável depender do Neymar então?
Neymar é craque. É porque não apareceu jogador como ele nos últimos 15 anos. Mas os cuidados que ele deveria ter ele não tem. Opção dele. Ele não quis ser Messi nem Cristiano Ronaldo. Mesma coisa o Ronaldinho Gaúcho. Ele não quis. Um dos melhores. Esses são craques. Olha o que o Ganso jogava. O craque é o plástico, bonito, o que resolve. E para que resolva com a bola, tem que ter noção das movimentações, gestual, postura corporal, a antevisão pra enxergar em volta. E tem. Rodrygo, para mim, é um craque. Por que na seleção não faz igual no Real? Por que não consegue ter o entendimento com a parceria, o desenho bem ajeitado.
Como vê a pressão sobre o treinador, agora que vai fazer o voo solo? Qual seu entendimento sobre a sua parte mental?
Por eu me movimentar por diversas áreas, me abri para isso. Leio muito, observo muito. Mas eu consigo me resolver. Alguns profissionais, atletas e treinadores, precisam de ajuda, os que não conseguem sustentar essa carga. Nada me abala. Sou simples. Perdi, não falo com ninguém, com atleta, não gosto de dar opinião. Tem a perda do título, do jogo, do jogo importante. Isso mexe comigo, saio, passo a noite pensando e, como liderança, volto e parece que não senti como os outros, consegui trabalhar em cima disso. Quando ganho, fico feliz, eufórico, mas volto ao clube e tem que equilibrar. Não tem esse sentimento. Não me abalo com essas coisas. Não sei se é porque fui segundo, mas as pessoas brincavam comigo, jogo numa fumaça e parecia que estava no sofá. Pedia calma ao Tite. Não precisam fazer isso comigo. Consigo me controlar. Mas é importante para quem não consegue. Vários jogadores ajudam nisso também. Muitos são a ajuda do vestiário, para meninos e mais velhos, preparados para isso.
E você tem um lado pessoal, quando desliga da função, e busca focar em outras coisas? Traz leituras, assiste alguma coisa?
Sou metódico para algumas coisas. Tenho agenda. Meu WhatsApp tem quatro chamadas não resolvidas. As outras eu arquivo. Antes de deitar, dou uma olhada, encaminho, dou retorno. Sou muito de retorno, de trocar, não perdi minhas relações, converso com amigos de longa data. Se tiver que vir aqui, ir à casa, vou. Se estou com minha filha, brincando, ela sabe que preciso parar para ver algo. Ou paro se puder e vou brincar com ela. Consigo me resolver. Sou um cara apaixonado por música. Não toco, mas tenho amigos músicos, com quem converso. Me meto no arranjo do cara, sugiro algo, mas não toco nada. Essa mania que eu tenho. Mas sou tranquilo. Consigo me resolver. Não fiz terapia, nada. Minha terapia é viver, curtir. Teve uma época que viajei por 61 cidades, em 2002, para fotografar. Quis fazer uma exposição. Convidei músicos, montei tudo. Mas no final não deu, estava trabalhando, e não ia ter tempo de produzir o final. Ia entrar de férias. Minha mulher: “Vai fazer a exposição ou vamos viajar?” A coisa que estudo, palpito, busco profundidade é o futebol, é minha paixão. Os outros são escape. O Tite no Corinthians brincava comigo. Eu falei: “Cada um sai da pressão como pode. Tu reza, eu fotografo.”
Jogar futebol quando era guri…
A melhor lembrança no futebol?
Mundial com o Corinthians.
Eliminação da Libertadores com o Flamengo.
Conquistar como treinador o que conquistei como auxiliar.
Jogador dos sonhos para seu time
Qual treinador sonha jogar contra?