O presidente Luiz Inácio Lula da Silva denunciou as tentativas de ingerência estrangeira sobre o Brasil e afirmou que a soberania e a democracia do país são inegociáveis em pronunciamento na abertura da 80ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Sem fazer referência direta aos EUA ou ao presidente americano, Donald Trump, e nem nominalmente à ala política que advoga pela imposição de sanções junto à Casa Branca, Lula classificou a situação como um golpe às instituições democráticas.
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— Não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia. A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável. Essa ingerência em assuntos internos conta com o auxílio de uma extrema direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias. Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil. Não há pacificação com impunidade. Há poucos dias e pela primeira vez em 525 anos de nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado Democrático de Direito. Foi investigado, indiciado e julgado e responsabilizado pelos seus atos em um processo minucioso. Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas. Diante dos olhos do mundo, o Brasil tem um recado a todos os candidatos autocratas e àqueles que os apoiam: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis. Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de poder — afirmou Lula na parte inicial de seu discurso.
Ainda de acordo com Lula, ataques a soberania de países soberanos, imposição de sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando regra, e são um sinal da desordem internacional e da crise do multilateralismo, que o presidente disse colocar em xeque a própria autoridade da ONU.
— Criada no fim da guerra, a ONU simboliza a expressão mais elevada da aspiração pela paz e pela prosperidade — disse Lula. — Hoje, contudo, os ideais que inspiraram seus fundadores em São Francisco, estão ameaçados como nunca estiveram em toda sua História.
O presidente brasileiro embarcou para Nova York no domingo. Ontem, participou de uma conferência convocada por Arábia Saudita e França para discutir a crise no Oriente Médio e a solução de dois Estados — um palestino e um israelense —, na qual Paris e aliados europeus reconheceram de forma oficial a Palestina.
Em sua participação no evento, Lula voltou a classificar as ações israelenses na Faixa de Gaza como “genocídio”, e anunciou que o Brasil reforçará o controle sobre importações de assentamentos ilegais na Cisjordânia, suspendendo também as exportações de material de defesa que “possa ser utilizado em crimes contra a Humanidade”.
A agenda de Lula em Nova York não se encerra com a participação na Assembleia Geral. O Itamaraty divulgou que além de compromissos bilaterais com outros chefes de Estado e líderes internacionais, o presidente vai liderar encontros multilaterais à margem da reunião.
Ainda nesta terça-feira, Lula presidirá um evento de alto nível organizado pelo Brasil para promover o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), iniciativa global que será lançada em Belém, com o objetivo de oferecer financiamento permanente e em larga escala para a conservação das florestas tropicais.
O líder brasileiro também co-presidirá dois eventos na quarta-feira: a segunda edição do evento “Em defesa da democracia: lutando contra o extremismo”, que visa promover um debater entre líderes sobre fortalecimento das instituições democráticas, e um evento especial sobre Ação Climática e COP 30, organizado por Guterres para mobilização de Estados-membros e apresentação de novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) rumo à COP30, em Belém.