O censo divulgado nesta semana pelo programa Polos de Cidadania, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), constatou uma diferença do número de moradores em situação de rua nas três principais capitais do país. Em São Paulo, a discrepância foi de 65 mil pessoas. No Rio, foi de 13.899. E em Belo Horizonte, de 8.656.

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O programa informou que 96.220 pessoas moram nas ruas da capital paulista, o equivalente a toda a população de Ubatuba. Mas a prefeitura considera a quantidade de 31.884 indivíduos para elaborar suas políticas públicas, conforme o censo feito em 2021 e divulgado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) um ano depois.

Ao GLOBO, a prefeitura de São Paulo informou que os dados usados pela UFMG, cuja base é o Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), são “cumulativos e auto-declaratórios”. Por isso, argumenta, “não devem ser utilizados como fonte única de dados para a avaliação sobre a população em situação de rua”.

Coordenador do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua da UFMG, André Luiz Freitas Dias, responsável pela pesquisa, lembrou que as informações usadas no levantamento da universidade foram cadastradas no sistema federal, para repasse de verbas, pela própria prefeitura.

UFMG fez panorama da população de rua no Brasil — Foto: Arte O Globo

— Este não é um número inventado. Cabe à prefeitura de São Paulo responder se ela recebe o repasse do governo federal para o CadÚnico a partir do número que mensalmente informa ao Ministério do Desenvolvimento Social ou se a partir das 32 mil pessoas do censo de 2021 — pontuou o pesquisador. — Se você não trabalha com números próximos da realidade, as políticas públicas de atenção a essa população serão comprometidas. Isso afeta o modo que se planeja os equipamentos públicos, as políticas de moradia, a segurança alimentar.

Assim como em São Paulo, as prefeituras de Belo Horizonte e do Rio trabalham com números bem menores do que os apontados pelo Polos de Cidadania para suas populações de rua. Na capital fluminense, são 7.865 contra 21.764. Na capital mineira, 5.344 contra 14 mil.

Questionada, a prefeitura do Rio informou que não teve acesso à metodologia do levantamento. Mas a prefeitura de Belo Horizonte afirmou que fez, em parceria com a universidade federal mineira, um Censo Pop Rua, publicado em 2023, que identificou o número com que trabalha em suas políticas.

“O dado divulgado de mais de 14 mil pessoas compreende todos os cadastros (no CadÚnico) já realizados no município, sem atualização”, alegou a prefeitura de BH. Mas Dias frisa que a pesquisa divulgada usa os números atualizados pela própria prefeitura mensalmente no CadÚnico, sem defasagem alguma, e enviado para o governo federal.

O censo da UFMG estima que o Brasil tenha hoje 335.151 pessoas em situação de rua. São Paulo lidera o ranking e, desde dezembro do ano passado, de acordo com a universidade, registrou mais 3.664 pessoas vivendo nas ruas, uma média de 732 a mais por mês. Depois da capital paulista aparecem no ranking Rio, Belo Horizonte, Fortaleza, com 10.045 moradores de rua, Salvador, com 10.025, e Brasília, com 8.591

Número de pessoas em situação de rua opõe censo da UFMG e prefeituras de Rio, SP e BH