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O meu melhor garçom do Rio

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setembro 25, 2025
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Onildo Braz, garçom do Circo Voador — Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo

Escolher “o melhor garçom do Rio” é quase um contrassenso, porque cada um tem o seu. É coisa íntima, tão pessoal quanto o analista que entende seus silêncios, o barbeiro que acerta seu cabelo de olhos fechados ou o chaveiro que não faz perguntas depois da madrugada errada. Claro, existem marcas quase universais: o garçom que mantém o copo cheio como um mandamento, o que lê no guardanapo torto ou no olhar enviesado o pedido antes mesmo de ser feito, e também o que lembra do “de sempre” e faz da repetição uma fidelidade litúrgica. Mas, no fim, a grandeza dessa profissão não se mede apenas na técnica, mas no encontro: há quem prefira o discreto que surge e some sem alarde, e quem se encante pelo personagem que se mistura à conversa como mais um amigo. Nesse jogo fino entre talento e afinidade, cada comensal, copo em punho, jura ter encontrado o verdadeiro maioral da profissão.

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O meu melhor garçom não equilibra bandejas, não veste camisa branca nem gravata borboleta. Onildo, um dos sujeitos mais afetuosos desta cidade, também não desfila por restaurantes centenários nem guarda a aura de botequins históricos: seu território é o balcão do Circo Voador. Sim, no bar do palco mais elétrico do Rio ele transforma fichas e latas de cerveja em gentileza. Sua arte acontece de pé, entre o empurra-empurra da plateia e a pressa de não perder a próxima música. No mergulho incessante das mãos no gelo, entrega algo mais valioso que bebida: uma simpatia que aquece até quando seus dedos já estão dormentes. Ali, no cenário mais improvável para criar vínculo, ele ergueu a amizade como bandeira.

Entre um pedido e outro, Onildo me conquistou com o sorriso franco que desacelera até a noite mais apressada. Se o Mendes do Sat’s, o Lopes do Baixo Gago ou o madrileño Severo, craques da bandeja, ficarem com ciúmes, paciência: hoje a coroa é dele. Porque ser o melhor garçom não é só servir bem: é transformar minutos corridos em lembrança que fica, é provar que até no meio da multidão cabe um gesto capaz de fazer qualquer um se sentir cliente único.

O coração manso de Onildo vem de Mari, pequena cidade paraibana com pouco mais de 20 mil habitantes. Como tantos nordestinos, desembarcou no Rio aos 18 anos, com a cara e a coragem, decidido a inventar uma vida maior do que a que cabia na sua terra natal. Batalhou em ofícios mil — vendeu calçados, trabalhou com fotografia, mexeu com vinil e CDs, e ficou seis anos numa banca de jornal. O destino o empurrou para o Circo por acaso, graças à irmã que trabalhava no caixa. Começou como extra no bar e nunca mais saiu. Há 17 anos mergulha as mãos no gelo da madrugada para resgatar cervejas e sorrisos.

Onildo Braz, garçom do Circo Voador — Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo

Se não veste o figurino do garçom tradicional nos cenários mais clássicos, guarda em si o que de mais genuíno sustenta sua arte no Rio de Janeiro: a força dos forasteiros que, com história de vida batalhadora, fizeram da simpatia e do trabalho duro a base da boemia carioca. Hoje, aos 61 anos, Onildo sabe que encontrou no Circo o lugar onde sua biografia e a noite da cidade se cruzam: entre a música, a miscigenação da plateia e o gesto simples, mas inesquecível, de oferecer um sorriso e um obrigado.

No meio do turbilhão de um show, Onildo não se limita a trocar ficha por lata: olha no olho, agradece, sorri. A correria não vira desculpa para a indiferença, pelo contrário: é a chance de provar que cada freguês importa. Quando o ritmo afrouxa, ele estica a conversa, arrisca um abraço, grava um nome ou uma história. É essa maneira de enxergar o trabalho, simples e generosa, que transforma o balcão do Circo em mais do que um ponto para matar a sede: vira um palco de encontros improváveis, onde a música se mistura com vínculos que resistem à noite.

Onildo Braz, garçom do Circo Voador — Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo
Onildo Braz, garçom do Circo Voador — Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo

Não faltam fregueses que se tornaram amigos, que sentem saudades quando o Circo fecha, seja na troca da lona ou nos silêncios e distâncias da pandemia. Onildo é da proximidade: a amizade faz parte do ofício tanto quanto a lata gelada. “Eu não entrego só a cerveja, eu entrego minha energia. Vai com você também para se divertir”, disse ele à coluna.

Ao ouvir que este colunista o aponta como o melhor garçom do Rio, Onildo disse várias vezes que se sentia lisonjeado. Ele sabe que entrega algo maior no ato miúdo de servir uma bebida. Mostra, na prática, que mesmo no ambiente em que ninguém para, a gentileza o faz capaz de segurar o tempo por alguns segundos. E que, num simples brinde, pode caber — quem diria — um pedaço inteiro do sentido de viver.

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