Suspense psicológico dos bons, “O monstro em mim” é hoje uma das tramas mais vistas da Netflix. A produção seduz pelo roteiro e pela realização, mas tem um poderoso atrativo extra para o público de séries: Claire Danes (Aggie Wiggs) e Matthew Rhys (Nile Jarvis). Para este espectador experiente, há um duelo que vai além da ficção. Ele acontece entre os atores: qual dos dois desempenhos seria o mais brilhante? A pergunta é difícil de responder e as redes estão divididas em debates. Talvez seja mais justo dizer que uma performance potencializa a outra. O resultado é irresistível. São oito episódios tensos e que capturam até o fim.
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Só recapitulando rapidamente, Claire Danes ficou conhecida como a espiã Carrie, em “Homeland” (crítica aqui). Sua sagacidade ficava embaçada pelos remédios que tomava para a bipolaridade. Por isso, ela passava períodos longos evitando o tratamento. Combatia inimigos perigosos. Já Matthew Rhys é até hoje lembrado pelo Philip de “The americans” (crítica aqui), um agente da KGB atuando em Washington D.C. na época da Guerra Fria. Ambas as séries foram marcantes e consagraram seus protagonistas.
Agora, de novo, os atores conseguem construir tipos convincentes e, assim, deixar para trás a sombra desses sucessos.
Aggie é escritora e dona de um prêmio Pulitzer. Porém, vive um bloqueio criativo desde a morte de seu filho em um acidente de carro, quatro anos antes. É amarga, atormentada e se afastou da ex-mulher (Natalie Morales) depois da tragédia. Mora sozinha em Long Island, numa casa imensa e decadente, comprada quando estava no auge da carreira literária. O encanamento entupido e a necessidade urgente de consertos funcionam como uma metáfora da paralisia emocional da personagem.
Nile Jarvis e a mulher, Nina (Brittany Snow), se mudam para a vizinhança. Filho de um bilionário do ramo imobiliário de Nova York, ele é suspeito de ter matado sua primeira mulher. O corpo nunca foi encontrado, mas a suspeita não se dissipou.
Um dia, visita Aggie propondo asfaltar uma pista de corrida privada no condomínio. Ela se opõe, mas enxerga nele a possível inspiração para um livro. Os dois saem para almoçar e, na saída do restaurante, avistam o rapaz que Aggie acusa de ter dirigido bêbado e causado o acidente que vitimou seu filho. Nile observa a expressão transtornada dela. Ele acredita ver ali o reflexo de um desejo oculto de fazer justiça com as próprias mãos. A relação entre eles evolui, sempre impulsionada por sentimentos contraditórios.
Ele apresenta suas péssimas credenciais morais desde o primeiro minuto. Ela tem bons princípios, mas é amarrada a fantasmas e autodestrutiva — e é difícil torcer por uma personagem com tantas travas.
Há quem afirme que a vida de Robert Durst (história real retratada na premiada “The Jinx”, crítica aqui) serviu de base para esse enredo. É possível, e dizer mais seria spoiler. De qualquer maneira, “O monstro em mim” é imperdível.

