A um mês do início da COP30, a organização oficial que representa a juventude na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) afirma que a participação dos membros nas discussões climáticas “está por um fio”. O grupo denominado Youngo alega que, ao contrário das edições anteriores da Conferência Global de Crianças e Jovens (COY20) sobre o tema, o governo brasileiro “não comprometeu nenhum financiamento formal” para o evento que também ocorre em Belém, em novembro.
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“Os organizadores precisam lidar com a burocracia, arrecadar fundos e enfrentar a incerteza logística, com quase nenhum apoio institucional”, diz o grupo em artigo publicado no domingo.
O Youngo afirma também que “nenhum apoio oficial para acomodação foi garantido”, o que não representa apenas uma situação “inconveniente”, mas também uma “barreira à participação” desses jovens. A limitação de voos para Belém e o preço cobrado pelas passagens também são criticados pelo coletivo, que alega que “cada dia sem clareza sobre hospedagens afasta mais jovens ativistas do processo”.
“A ironia é que o Brasil nomeou um Campeão Climático da Juventude (YCC), uma função criada para facilitar e elevar as vozes jovens dentro da Presidência. O título sugere reconhecimento, mas reconhecimento sem recursos corre o risco de se tornar simbólico. Essa posição levará a um apoio real ou permanecerá um gesto cerimonial?”, questiona o grupo.
O coletivo vê um “retrocesso” na organização das COYs e afirma que uma “conferência sobre crianças e jovens que entra em seu vigésimo ano deve marcar progresso, não confusão”. “Um aniversário deve trazer uma melhoria na coordenação, não a incerteza sobre se os delegados encontrarão um lugar para dormir”, diz o grupo.
“Ainda há tempo para o governo brasileiro agir. Garantir acomodação e coordenação logística básica não é um ato de generosidade. É um teste para verificar se a inclusão é real”, conclui o grupo.
O GLOBO procurou a Secretaria Extraordinária para a COP30 (Secop). A reportagem será atualizada em caso de retorno.
A produtora cultural Marcele Oliveira, de 25 anos, foi escolhida para ser a embaixadora da juventude climática na COP30. A jovem concorreu com outros 23 finalistas com histórico de luta na defesa do meio ambiente que participaram de um edital de concorrência pública para o posto, coordenado pela Secretaria Nacional de Juventude, órgão da Secretaria-Geral da Presidência, em parceria com a organização da conferência.
Marcele entrou em contato maior com os problemas ambientais a partir de um projeto que lutava por um parque em Realengo, na Zona Oeste do Rio, onde vivia. Ao todo, 154 jovens se inscreveram e 24 chegaram a uma lista final.
Hoje, Marcele faz parte da Coalizão Clima de Mudança, que busca mobilizar o combate a enchentes e também dirige uma organização chamada Perifalab, que toca um programa chamado Jovens Negociadores pelo Clima em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente do Rio. Marcele ainda atua como mestre de cerimônias do Circo Voador.
O Campeão Climático da Juventude (Youth Climate Champion – YCC, na sigla em inglês) foi criado na COP28, realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, no ano de 2023. O objetivo foi aumentar o envolvimento da juventude mundial nos debates ambientais e contemplar a perspectiva da população mais jovem nas propostas discutidas dentro das Cúpulas do Clima.