Em um dos poucos sinais sobre o andamento das conversas, Trump afirmou a jornalistas na Casa Branca que “acha que estamos indo muito bem”, e que “acha que o Hamas tem concordado com coisas muito importantes”, sem dar detalhes.
— Acho que vamos chegar a um acordo. Tenho quase certeza de que vamos chegar a um acordo em Gaza — declarou Trump, deixando claro que “se certas coisas não forem cumpridas”, um acerto não sairá do papel. — Todo mundo quer que isso aconteça. Até o Hamas.
Ele negou que sua relação com o premier israelense, Benjamin Netanyahu, esteja abalada por divergências ligadas ao plano para Gaza. No domingo, o portal Axios relatou que Trump usou um palavrão e acusou Netanyahu de ser “negativo demais” durante uma conversa telefônica após o anúncio do Hamas de que estava disposto a negociar, na sexta-feira.
— Não, não é verdade. Ele tem sido muito positivo. Ele tem sido muito positivo em relação ao acordo — disse o presidente americano. — Este é um acordo em que, incrivelmente, todos se uniram. Todos se uniram.
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De acordo com a imprensa egípcia, citando fontes que participaram do diálogo, o primeiro dia de negociações terminou com uma “atmosfera positiva”, e as reuniões continuarão nesta terça-feira.
O ponto inicial das conversas é a libertação dos reféns capturados em outubro de 2023 e que seguem em Gaza, assim como o retorno de quase 2 mil palestinos detidos em prisões israelenses. Na sexta-feira, quando o Hamas anunciou que concordava em parte com o plano, representantes do grupo apontaram que o prazo estipulado para a libertação dos reféns — 72 horas — seria inviável, e que o processo para encontrar os restos mortais dos que morreram poderia levar meses. Segundo estimativas, 48 pessoas capturadas estão em Gaza, mas apenas 20 estão vivas.
De acordo com a Casa Branca, o principal negociador da Casa Branca, Steve Witkoff, e o genro de Trump, Jared Kushner, figura recorrente em iniciativas no Oriente Médio, estão em Sharm el-Sheikh, no Egito, onde ocorrem as negociações. Seu papel, afirma o governo americano, é trabalhar nos detalhes da libertação dos reféns e também da lista de prisioneiros palestinos que serão libertados como parte do acordo. Pelo texto, 250 palestinos condenados à prisão perpétua e outros 1,7 mil detidos desde o início da guerra retornarão para casa, e o Hamas que a lista inclua alguns nomes conhecidos.
Um deles é Marwan Barghouti, um dos líderes do Fatah (que comanda a Autoridade Nacional Palestina) e preso desde 2002 por acusações de terrorismo. Outro nome é o de Ibrahim Hamed, ligado ao Hamas condenado por orquestrar ataques na Cisjordânia. Segundo a imprensa israelense, o grupo quer que acusados de participação nos ataques de outubro de 2023 sejam libertados.
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A libertação dos reféns e dos prisioneiros é apenas uma das fases do plano, e parece ser, ao menos em teoria, a mais simples delas. Na sexta-feira, o presidente americano pediu, após o sinal verde do Hamas, que Israel suspendesse os bombardeios a Gaza, mas testemunhas afirmam que as bombas continuaram a cair — de acordo com as autoridades locais, 104 pessoas morreram desde sexta.
— Não é possível uma troca de reféns, você não pode, obviamente, retirá-los se bombas estiverem explodindo e combates ainda estiverem em curso — afirmou, em entrevista à rede ABC no fim de semana, o secretário de Estado, Marco Rubio.
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O Hamas ainda exige o compromisso sobre a retirada total das forças israelenses, um tema delicado para Netanyahu, que tem aliados favoráveis à ocupação permanente do enclave, e que é cobrado internamente para manter uma presença militar no território. O trecho sobre a futura administração de Gaza, que estaria inicialmente a cargo de um grupo internacional liderado por Trump, não está pacificado, em especial sobre o papel da Autoridade Nacional Palestina. Com tantos temas complexos à mesa, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, não quis dar prazos para a conclusão das negociações..
— Queremos avançar muito rapidamente, e o presidente quer ver os reféns libertados o mais rápido possível — afirmou. — É assim que a equipe do presidente se sente, para que possamos ganhar impulso, libertar os reféns e então passar para a próxima etapa, que é realmente garantir que possamos criar uma paz duradoura e duradoura em Gaza, e garantir que Gaza seja um lugar que não ameace mais a segurança de Israel ou dos EUA.
Em paralelo ao diálogo em Sharm el-Sheikh, Netanyahu conversou com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, nesta segunda-feira, e discutiu o plano de Trump para Gaza. Em comunicado, o Kremlin afirmou que “Putin reafirmou a posição inabalável da Rússia em favor de uma solução abrangente para a Questão Palestina, com base em princípios jurídicos internacionais estabelecidos”. Além de Gaza, os dois se mostraram interessados em “encontrar uma solução negociada para a situação em torno do programa nuclear iraniano e em uma maior estabilização na Síria”, temas sobre os quais Israel e Rússia expressam posições consideravelmente opostas.