A Polícia Federal está desenvolvendo um projeto para usar a maconha apreendida em operações como matéria-prima na criação de biocombustível e outros componentes sustentáveis. O estudo divulgado nesta sexta-feira, em Belém, e intitulado “Projeto Cannabiocombustível”, é uma parceria com as universidades federais do Pará (UFPA) e de Santa Catarina (UFCS). A capital paraense sediará este ano a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30).
O projeto começou a ser desenvolvido há um ano e meio, no Laboratório da Superintendência da Polícia Federal no Pará. O perito da PF e engenheiro químico Antônio Canelas diz que a ideia surgiu ao pensar em um processo que pudesse otimizar a incineração dos entorpecentes apreendidos:
— A única coisa que eu pensei em fazer (com esse experimento) é aproveitar, já que a gente tem que incinerar (a maconha apreendida), vamos incinerar de uma maneira diferente, criar minirreatores dentro da nossa instituição, que o custo é baratíssimo, e a gente vai liberar um monte de policiais desse trabalho de monitorar a maconha. Tem unidades com até dez policiais vigiando ou escoltando drogas para queimar em alguma usina, de favor. Com o projeto, ao mesmo tempo que a gente está gerando valor agregado e deixando de poluir o meio ambiente, estamos os liberando.
A ideia do experimento é usar o calor, sem fogo, para decompor as moléculas do vegetal da cannabis gerando um bio-óleo rico em hidrocarbonetos. Ele se torna um líquido viscoso, semelhante ao do petróleo, e é destilado para gerar combustíveis verdes, como gasolina, querosene, diesel e outros. Até mesmo a fumaça gerada neste processo, o vapor, é condensada e reaproveitada.
Além deste bio-óleo, outros três produtos são gerados no processo: o bio-carvão poroso, o biogás e uma fase aquosa. O bio-carvão serve tanto para a agricultura, como fertilizante e fungicida, quanto para a rotina de uma população necessitada.
— Em comunidades isoladas da região amazônica o carvão pode servir para desinfecção e tratamento de água de poço, por exemplo — diz o orientador do estudo, Nélio Teixeira Machado, docente do Programa de Doutorado em Engenharia de Recursos Naturais da Amazônia.
Já o gás pode ser usado como energia dentro do próprio processo, alimentando o reator e diminuindo os custos da eletricidade, enquanto a fase aquosa pode servir como um fungicida, assim como o carvão.
Após a captação de recursos para a construção de equipamentos, os experimentos entraram em fase inicial nos últimos dois meses. Ainda não é possível esgotar as aplicações dos produtos gerados no processo de ruptura da estrutura molecular original da maconha.
— A primeira fase é achar os melhores parâmetros de processo para ter o melhor rendimento ao menor custo — explica o perito.
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De acordo com Canelas, se o projeto conseguir vingar é possível que seja realizado um estudo semelhante com outras drogas:
— A gente tem cocaína apreendida, a gente tem cigarros, por exemplo, em grandes quantidades aprendidas lá em Foz do Iguaçu. Dá para usar tudo isso no mesmo reator. Nem precisamos comprar outro equipamento. A gente só vai ter que mudar os parâmetros de processo para cada tipo de biomassa — explica.
(*estagiário sob supervisão de Luã Marinatto)