Parque Nacional do Itatiaia (RJ) amanhece com riachos congelados e caminhos cobertos de gelo

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Havia uma chance de neve. Mínima, mas primeira em anos. Desde 1985 não neva com mais força no PNI. O coordenador de operação do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Marcelo Seluchi, explica que temperaturas abaixo de zero só não bastam para que neve. É preciso umidade. A região da Mantiqueira é muito fria devido à altitude, mas raramente chuva e temperaturas muito baixas se encontram no momento certo para que, a então, neve.

Os muitos turistas, montanhistas e moradores da região que esperavam pela neve lamentaram, mas não se decepcionaram com as condições de muito sol, frio e caminhos com gelo. Um cenário único que faz dos campos de altitude do Itatiaia um dos lugares mais belos, sensíveis e extremos do Brasil.

A bióloga Julia Drummond, do Instituto de Pesquisa do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que estuda a vegetação do PNI diz que esse inverno traz esperança após dois anos de calor inclemente, mesmo na estação mais fria do ano.

— A vegetação daqui evoluiu para suportar neve, frio, radiação elevada (devido à altitude superior a 2.000 metros) e níveis equilibrados de seca e fogo. O problema são o calor e a seca severos dos últimos anos — destaca Drummond.

Ela e sua parceira de pesquisa Ana Luzia Souza, da UERJ, estavam ansiosas para ver neve, mas festejaram o frio.

— Dias assim são tudo o que esses campos tão especiais precisam — observa Souza.

O casal de montanhistas Juliana Frutuoso e Alan Braga estava acampado há dois dias no PNI à espera de boas condições

para escalar as Agulhas Negras. As condições chegaram ontem num dia considerado “inverno perfeito”. Mas antes de rumar para seu paraíso tiveram que penar numa das madrugadas mais frias do ano, com -9,2°C (semana passada fez -9,4°C).

— Até a água de beber congelou. Dormimos com cinco cobertas. Mas agora está tudo maravilhoso — diz Frutuoso.

O técnico de enfermagem e ex-guia de montanha Antônio José Santos encontrou bem mais que isso.

— Estou outra pessoa. Essa natureza única daqui cura. Cheguei triste com a perda de um paciente. E essas montanhas geladas em pleno estado do Rio me curaram a alma. Recomendo para todo mundo — enfatiza Santos.