Os pequenos negócios do Pará vêm se preparando para transformar a COP30 em uma grande vitrine de vendas e inovação sustentável. Para isso, empresários e cooperativas locais se capacitaram, participaram de cursos e agora aguardam com expectativa o início da conferência.
O diretor-superintendente do Sebrae-Pará, Rubens Magno Júnior, explica que a instituição estruturou sua atuação em quatro eixos principais: mobilidade urbana, hospitalidade, alimentos e bebidas e economia criativa. A iniciativa já soma mais de 40 mil atendimentos a 15.467 empresas. Em parceria com a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Pará, o programa Capacita COP30 qualificou mais de 7 mil empreendedores até maio de 2025.
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— Vale lembrar que 95% dos negócios do país são pequenos. Nossa missão foi pensar como incluí-los nesse debate climático — afirma Rubens.
Segundo ele, o processo envolveu também um esforço de letramento dos empreendedores.
— Primeiro, explicamos o que é a COP e, depois, como os empreendedores podem se integrar nela. Um exemplo foi no Ver-o-Peso, quando um peixeiro disse: “Agora eu entendi, vou poder vender mais peixe para os estrangeiros”. Isso mostra como os empreendedores começaram a se sentir parte do processo.
Entre os programas de destaque, Rubens cita o NISA (Negócios de Impacto Socioambiental), que recebeu quase R$ 700 mil e atendeu cerca de 180 negócios, muitos liderados por mulheres. Outra iniciativa é o Sustentem Nova, programa europeu de 4,6 milhões de euros que já resultou em mil hectares de restauração produtiva e no fortalecimento de quase 20 cadeias produtivas.
— O legado da COP 30 vai além da infraestrutura. Ele está na mudança de mentalidade dos pequenos negócios, que hoje se veem como protagonistas da agenda climática. Eles entendem que podem vender para estrangeiros e que a Amazônia tem valor estratégico — destaca.
Na Ilha do Combu, os barqueiros também se mobilizam. Com aulas de inglês, gestão de negócios e atendimento ao público, eles se preparam para receber os visitantes que desembarcarão em Belém durante o evento. A Cooperativa de Transporte por Embarcação da Ilha do Combu (Coppertrans), formada por 51 barqueiros e ribeirinhos, atua na travessia entre a ilha e a capital, um trajeto de cerca de 15 minutos entre o Terminal Hidroviário Ruy Barata e o Combu.
Analice Mota, representante da cooperativa, explica que os esforços de capacitação se intensificaram nos últimos anos, com foco no aprimoramento do atendimento ao turista.
— Fizemos cursos oferecidos pelo Sebrae e pela OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), e alguns cooperados buscaram aprender inglês por meio de cursos da UFPA. Aproveitamos todas as oportunidades de formação. Sabemos que a ilha será muito visitada por causa do interesse crescente em sustentabilidade e natureza. Por isso, também ampliamos o número de embarcações — relata, destacando que os barqueiros não receberam ajuda governamental para as compras.
Analice acredita que a COP pode impulsionar o turismo local a longo prazo. Ela própria se qualificou como guia de turismo e já desenvolveu roteiros dentro da ilha, além de operar uma agência de viagens local.
— A capacitação individual e coletiva é um passo importante não apenas para a COP, mas para o fortalecimento do turismo na região, garantindo que os visitantes tenham uma experiência mais completa e que a comunidade se beneficie da visibilidade gerada pelo evento.
Na Conferência Preparatória para a COP30, realizada em Bonn, em junho, autoridades internacionais receberam como presente uma peça oval de cerâmica com grafismos inspirados na cultura marajoara. O objeto foi moldado pelas mãos da artesã Maynara Sant’Ana e de sua família, que agora produzem uma linha especial para a conferência.
— Além da exposição das peças em diferentes locais de Belém, estamos oferecendo experiências em nossa casa de cerâmica, em Coraci, distrito de Belém, a cerca de 50 minutos da cidade. Vale a pena a viagem, porque é uma experiência mais real do local. — diz Maynara.
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Para atender à nova demanda, o ateliê ampliou a equipe com três novos profissionais de acabamento e modelagem. A produção foi dividida entre dois grandes momentos do calendário local: o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, principal evento do ano, e a COP30.
— Temos uma ideia do público esperado, mas não dá para aumentar muito a produção. É preciso mão de obra qualificada, e qualificar leva tempo. No catálogo autoral, a média é de 200 a 300 peças por mês, enquanto o atacado parte de encomendas de 100 unidades. Mesmo no nosso limite, não conseguiríamos produzir 2 mil peças em um mês.
A tradição da família ceramista começou com dona Fernanda, avó de Maynara.
— Cresci em um processo de desvalorização do trabalho. Quando nasci, o florescer da cerâmica já havia passado (décadas de 70 e 80), quando se exportava para vários lugares do mundo. Então, não enxergava perspectiva de futuro nesse trabalho. Meu pai é extremamente inventivo, super capacitado, educador, mas não conseguia viver da cerâmica, apenas sobrevivia
Formada em Nutrição, Maynara redescobriu o barro por influência do marido, encantado pelas peças da família.
— Foi assim que retornei à cerâmica, mas meu foco é na comunicação da marca: contar a importância do barro e das técnicas de produção originárias daqui. Foi a partir de 2016-2017 que mergulhei no barro e encontrei minha própria história. Eu também acho super importante viver dentro do território; não precisamos sair daqui para construir um futuro.
A expectativa com a COP é grande, não apenas pelo retorno financeiro, mas pelos desdobramentos que pode gerar.
— A COP acontece na Amazônia por um motivo: aqui, povos originários construíram um bioma super diverso, que aponta caminhos para o futuro e para o bem viver. Queremos ver o impacto da conferência para a população local, que é da floresta, mas também urbana.
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O mesmo espírito inspira a família Pinon, de Breu Branco (PA), à frente da empresa Amabee, que transformou uma área degradada em modelo de reflorestamento e bioeconomia.
— Recuperamos o solo, reflorestamos com açaí e andiroba e, em parceria com a Embrapa e universidades do Pará e do Maranhão, desenvolvemos o primeiro mel monofloral de açaí da região, produzido por abelhas sem ferrão que ajudam a polinizar a floresta — explica Carmélia Pinon, criadora e presidente da empresa.
Na COP 30, a Amabee apresentará 15 produtos sustentáveis, como sabonetes, shampoos, condicionadores, hidratantes e um gloss labial formulado para climas frios. Também o lançamento de uma pomada pioneira voltada a diabéticos.
— Estamos lançando uma linha totalmente amazônica, feita com óleo de açaí e castanha-do-pará. Uma empresa da Dinamarca já demonstrou interesse em adquirir os produtos — conta Carmélia, que está se preparando para começar a exportar seus produtos.