Preso em flagrante por suspeita de ser o responsável pelo feminicídio de Shayene Araújo Alves dos Santos, de 27 anos, morta com um tiro na nuca, nesta terça-feira, em Maricá, na Região Metropolitana do Rio, o sargento Renato Cesar Guimarães Pina chegou a dar uma versão dando conta de que a vítima, com quem mantinha um relacionamento havia três anos, morreu de forma acidental, ao manusear uma pistola. Segundo a polícia, testemunhas revelaram que ele tinha um histórico de agressões contra a jovem. Apesar disto, ela nunca chegou a registrar um boletim de ocorrência para denunciar o PM.
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O disparo que tirou a vida de Shayene ocorreu no interior da residência onde o casal morava, em Maricá. Dois filhos dela estavam em casa quando o tiro foi disparado. Um deles, de sete meses, também é filho do PM. O outro, de 9 anos, é fruto de um relacionamento anterior da vítima. Após cair em contradições ao dar a versão inicial de maneira informal, segundo a polícia, o PM preferiu ficar em silêncio e se reservou ao direito de ficar calado.
Uma investigação preliminar feita por policiais Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG), responsáveis pela apuração do caso, uma perícia, e o depoimento de testemunhas, acabaram revelando que o PM tinha um histórico de agressões contra a mulher. Em um dos episódios, ocorrido no ano passado, flagrado por uma câmera de segurança, o sargento dá um tapa na cabeça de Shayene. Pouco depois, a imagem mostra o sargento apontando uma pistola para a cabeça mulher. Apavorada, ela fica encolhida para tentar se proteger de um possível disparo. A agressão ocorreu quando ela estava grávida A gravação foi entregue à especializada por parentes da jovem morta.

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— A nossa análise mostrou que o sargento já possuía um relacionamento conturbado, inclusive tinha por hábito agredir a vítima, ameaçar com arma de fogo, efetuando disparos próximos a ela em outras oportunidades. Esse histórico de violência acabou culminando nesse crime de feminicídio. A análise da perícia criminal no local do fato, bem como a análise realizada preliminarmente no corpo da vítima, e o depoimento de algumas testemunhas, mostraram que essa versão inicial dele, era uma versão fantasiosa, que não poderia ter acontecido do jeito que ele relatou. Ele inicialmente, como dito, apontou um suposto acidente, ainda informalmente. Por diversas vezes tentou mudar de versão, e no final das contas, acompanhado pelo seu advogado, ele resolveu permanecer em silêncio — disse o delegado Willians Batista, da DHNSG.
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Os policiais apreenderam uma pistola usada no crime. O sargento foi detido por colegas de farda no Hospital Municipal Che Guevara, em Maricá, para onde levou a vítima, após Shayene ser baleada. Na oportunidade, ele alegou aos PMs ter pedido a mulher para pegar a pistola, que estava no quarto do casal. No mesmo relato, Renato informou que estava na sala, com o filho e o enteado, quando ouviu um tiro.
Em seguida, ele socorreu a mulher com a ajuda de um vizinho e a transportou até o hospital.
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Procurada, a Polícia Militar informou que equipes do 12º BPM (Niterói) conduziram o militar e sua arma à 82ª DP(Maricá). E que a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, e a 4ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar DPJM — unidade ligada à Corregedoria Geral da PM — foram acionadas. Após perícia realizada, o policial foi preso em flagrante delito pelo crime de Feminicídio, e foi transferido para Unidade Prisional da Polícia Militar/RJ.
Segundo a PM, o comando da Corporação repudia com veemência o ato do sargento e, tão logo a Corregedoria Geral esteja de posse do auto da prisão em flagrante expedido pela Polícia Civil, será aberto um Inquérito Policial Militar sobre o caso, que poderá resultar na sua exclusão
Procurada, a Prefeitura de Maricá, por meio da Secretaria de Segurança Cidadã, informa que o policial militar era cedido pelo Governo estadual para o município e atuava no Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp) da cidade. Segundo a assessoria da Prefeitura, a administração municipal está tomando todas as providências legais e se coloca à disposição da Polícia Civil para colaborar com as investigações. A nota diz ainda que a Prefeitura repudia qualquer tipo de violência contra a mulher.
Após ser autuado em flagrante, Renato Cesar Guimarães Pina foi levado para o Batalhão Especial Prisional(Bepe), onde ficará à disposição da Justiça. A previsão é a de que, nos próximos dias, o sargento seja submetido a uma audiência de custódia na Central de Custódias, em Benfica, na Zona Norte do Rio. Na ocasião, um juiz decidirá se a prisão do militar ocorreu de forma legal, e se ele continuará preso ou se responderá pelo crime em liberdade.