Uma ótima forma de trabalhar a conscientização ambiental de uma criança é envolvê-la em iniciativas com impacto local. Foi justamente para estimular esse engajamento que os organizadores do Prêmio Criativos da Escola + Natureza, do Instituto Alana, decidiram eleger seis atividades pedagógicas — uma de cada bioma no país — como vencedores.
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São projetos de unidades de ensino situadas em cidades como Manaus, no Amazonas, e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, que elaboraram ações voltadas para os ecossistemas onde estão inseridas.
Até três estudantes e um educador de cada grupo premiado participarão de atividades ligadas à 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, no Pará. Os grupos premiados ainda receberão R$ 12 mil — sendo R$ 10 mil para os projetos criados ou outras ações dos grupos e R$ 2 mil para o educador responsável.
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— Ver esses estudantes representando os biomas brasileiros em atividades ligadas à COP30 é um chamado à escuta e à ação. Crianças e adolescentes já vivenciam os impactos da crise climática em seus territórios e estão criando soluções a partir disso — afirma Ana Claudia Leite, especialista em educação e culturas infantis do Instituto Alana. — Os projetos premiados mostram como essa mudança já começou nas escolas e na força de quem acredita que cada ação conta na construção de um futuro mais justo, sustentável e, claro, verde.
Numa visita a uma comunidade Tukano, a professora Márcia Gomes se perguntou como os povos indígenas conseguem há tanto tempo usar a natureza para sua vivência sem prejudicá-la. Desse questionamento, nasceu o projeto do Instituto de Educação do Amazonas, uma escola que em 2025 completa 145 anos de existência, em que os aluno pesquisam através de visitas técnicas e diálogo com lideranças e representantes indígenas sobre a história da etnia, localização, cultura, tradição, rituais, grafismos, culinária, língua, relação com a natureza e os principais desafios atuais enfrentados. Cada ano é escolhido um povo para ser retratado. Além disso, há até a realização de um evento de Jogos Indígenas com modalidades como arco e flecha, corrida com tora, arremesso de lança, cabo de guerra, peteca, corrida, futsal e huka-huka.
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Na Escola Técnica Estadual (ETE) Paulo Freire, de Carnaíba (PE), os alunos foram ajudar seus pais, tios e vizinhos para aprender. Eles criaram com o professor Gustavo Bezerra um filtro de baixo custo, feito com cascas de pinha e carvão ativado, capaz de reduzir a toxicidade da manipueira — um resíduo altamente poluente gerado na produção de farinha de mandioca, típico no local. “Aqui na Caatinga a gente tem escassez de chuvas e acesso limitado a água de qualidade. Por isso a gente precisa de cuidado para não poluir a pouca água que tem e destinar outros materiais como substituto para água. Depois que a gente filtra a parte tóxica da manipueira, podemos utilizá-la para regar hortas ou lavar as raízes de mandioca da própria produção”.
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A professora Vívian Sousa resolveu, junto com os alunos, resolver o desperdício da água que caía no bebedouro e era desperdiçada no Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, em Codó. Para isso, criou uma turma de engenheiros mirins e, a partir da metodologia Steam (acrônimo em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática), partiu para a construção e automação do protótipo, envolvendo sensores, Arduino, bomba d’água e energia fotovoltaica. “Quando o sistema começou a funcionar pela primeira vez, e os alunos puderam ver a água sendo reaproveitada de verdade — aquela que antes iria para o ralo passou a abastecer os vasos sanitários e as hortas da escola —, a emoção foi visível: os estudantes se sentiram protagonistas de uma transformação real”, afirmou Vivian.
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Em meio à crescente degradação ambiental e ao avanço das mudanças climáticas, um grupo de estudantes do 2º ano do Ensino Médio do Instituto Federal de Sergipe, de Estância (SE), criou um projeto para a defesa de ecossistemas ameaçados como os manguezais e as restingas, áreas de grande biodiversidade e essenciais para a conservação da Mata Atlântica. A iniciativa teve impacto direto na comunidade local, ao promover a valorização dos conhecimentos tradicionais — especialmente os das marisqueiras e pescadores artesanais — e fortalecer a conservação da fauna e flora da região, como o aratu, o maçunim, a ostra, o camarão e a mangaba, fruto símbolo do estado. “urante uma das primeiras trilhas com estudantes da Escola Agrícola de Estância, um aluno parou, olhou ao redor e disse: “Professora, eu nunca tinha reparado que o que eu estudava no livro,também está no meu lugar.” Aquela fala simples revelou algo profundo: o pertencimento, diz Márcia de Jesus Santos, professora criadora do projeto”Ecotech”.
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A Escola Municipal de Ensino Fundamental Saint-Hilaire, em Porto Alegre (RS), via da janela a reserva municipal — que leva o mesmo nome do colégio — sofrer com queimadas que levavam fumaça para as salas de aula. Mesmo tão pertinho, os alunos e a comunidade escolar não frequentam aquele espaço. “Vendo essa realidade entendemos que era importante criar estratégias de sensibilização para que as crianças criassem uma relação de pertencimento com o Parque Saint-Hilaire”, diz a professora Maria Gabriela Pires de Souza. O projeto envolve contação de histórias sobre o espaço, visitas, plantio de árvores, brincadeiras ao ar livre, entre outras atividades. “Acredito que a aprendizagem não vem da memorização de conteúdos, mas sim das histórias que vivenciamos”, resume Maria Gabriela.
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Sensibilizados pelas constantes queimadas que atingem o Pantanal, estudantes dos 6º ao 9º anos da Escola Municipal Rural de Educação Integral Polo Sebastião Rolon – Extensão Nazaré, em Corumbá (MS), decidiram conscientizar sobre o problema por meio do teatro. As crianças criaram uma peça autoral, na qual explicam os impactos das queimadas, como preveni-las e a quem recorrer em casos de emergência ambiental. “Uma aluna do 7º ano, muito tímida, pediu para narrar a peça. No início ela tremia, mas quando começou a falar sobre o perigo das queimadas e a importância de proteger os animais, se surpreendeu. Foi um momento de superação pessoal e de conscientização coletiva”, lembra a professora Stella Gonçalves de Souza, responsável pela atividade.