O céu cor de rosa do amanhecer contrasta com trabalhadores, que fazem fila desde o fim da madrugada para embarcar nos ônibus do Terminal Alvorada, um dos principais da cidade, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Mas esta segunda-feira tem uma diferença: é o primeiro dia útil de operação exclusiva do Jaé nos modais municipais (ônibus, BRTs, VLTs, vans e “cabritinhos”). Desde sábado, o novo bilhete substitui definitivamente o Riocard nesses transportes e o que se vê é que ainda há desprevenidos tentando passar pelas roletas, assim como pessoas com orientações erradas.
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Depois de encarar a fila da 805 (Alvorada x Jardim Oceânico), a doméstica Joana da Costa, de 51 anos, pagou um “mico”, como ela própria descreveu:
— Fui passar o Riocard e ele não passou. Pensei que ia ter mais tempo (para a migração), então até pedi meu Jaé, só não fui buscar. É uma chatice — disse ela, que precisou descer do ônibus para abrir o aplicativo e, enfim, conseguir embarcar.
Na prática, apenas um público poderá seguir embarcando com Riocard em ônibus, BRTs e VLTs: quem tem o benefício do Bilhete Único Intermunicipal (BUI), destinado a quem tem renda de até R$ 3.205,20, bancado pelo governo estadual. Mas, logo cedo, uma dessas beneficiárias, a doméstica Ana Claudia de Souza, de 46 anos, foi surpreendida ao embarcar na linha 881 (Curicica x Jardim Oceânico).
— O motorista não deixou o pessoal com Riocard entrar. Falou que todo mundo já devia estar prevenido, porque é lei, desde o dia 2, não aceitar o Riocard. Ainda bem que eu estava com dinheiro na mão — disse ela, que, ao chegar no Alvorada, tratou de recarregar um cartão avulso do Jaé.
Já a cozinheira Georgina da Silva Santos, de 46 anos, relata que recarregou seu Jaé numa máquina de autoatendimento e, quando foi pegá-lo, o cartão ficou preso. Na segunda tentativa, ela conseguiu o cartão, mas, ao passar no validador, o bilhete não funcionou. Revoltada, com dinheiro e o cartão em mãos, ela desabafou:
— Precisei pegar 10 reais com o cara da lanchonete e fiz um PIX para ele. Fazem de tudo para atrapalhar a vida da gente, nada para ajudar.
Entre aqueles que precisarão aposentar o Riocard, como a promotora de supermercados Sheila Alves, de 54 anos, a revolta é pelo saldo que teme ser perdido no cartão antigo.
— Tenho quase três mil reais de crédito no Riocard. É muita falta de informação. Umas três vezes vim até a loja do Riocard, peguei fila quilométrica e ela disse para eu usá-lo até acabar o crédito. Fui passar no ônibus agora de manhã e não passou. Tive que pagar em dinheiro, olha que transtorno — diz ela.
Na prática, a Riocard oferece reembolso do saldo, que será depositado numa conta bancária. Para solicitar o reembolso de saldo, o Riocard deve estar vinculado ao CPF do usuário. Neste caso, basta ir a uma loja da Riocard ou entrar numa videochamada no site Em caso de beneficiários de vale-transporte, também é necessário uma autorização da empresa contratante para a realização da operação.
Para evitar tumultos e confusões, equipes da Prefeitura do Rio trabalham para orientar os passageiros. Funcionários estão uniformizados passando informações sobre essa transição de sistemas. No início da manhã, filas se formaram para recarregar o Jaé em máquinas de autoatendimento.