Ainda estamos em março, mas já é possível afirmar sem medo de errar que a britânica “Adolescência” é uma das melhores produções do streaming em 2025. Ela está na Netflix. São quatro episódios de cerca de uma hora.
O enredo mistura gêneros. É em parte policial, em parte um drama familiar. Acompanhamos um menino de 13 anos acusado de matar uma colega de classe. Essa premissa já foi vista muitas vezes no cinema e na televisão. Não é, porém, a trama que surpreende e tira o tapete de sob os pés do espectador. É a maneira de contar. Todos os capítulos são filmados em plano-sequência. Isso significa que não há cortes e a sensação é de “ao vivo”.
O primeiro episódio começa com a chegada da polícia à casa de Jamie (Owen Cooper, ator estreante que tem 15 anos).
A câmera segue os agentes, que arrombam a porta e avançam escada acima até o quarto do garoto, passando pelos pais dele, assustados com a confusão.
Não há interrupções entre essa cena e a chegada à delegacia. O lugar parece um labirinto de corredores compridos e a ação continua, sem edição, durante a entrevista de Jamie com mais de um policial. Para os espectadores que demoram a entender a originalidade contida na realização de “Adolescência”, um diálogo sublinha isso na delegacia. É quando um personagem esclarece há quanto tempo os policiais chegaram na casa do menino (mais ou menos 20 minutos, mesmo tempo de exibição do episódio àquela altura).
A alta intensidade do que se vê na tela tem um efeito duplo: cada acontecimento parece demorar uma eternidade e, ao mesmo tempo, a ação se precipita a jato.
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Os quatro episódios são filmados desta maneira, mas em locações diferentes.
O segundo capítulo, na escola, tem uma sequência de perseguição que usa um drone e merece o olhar atento do espectador. Roteiro e direção são arrebatadores. O trabalho do elenco merece todos os aplausos. Além de Cooper, Stephen Graham (um ator maravilhoso e também roteirista e produtor executivo) faz o pai dele, Christine Tremarco, a mãe, Erin Doherty , uma psicóloga, Ashley Walters, o policial. Todos eles brilham e, juntos, têm seu talento potencializado por uma química poderosa.
O público imagina que tudo deve ter sido exaustivamente ensaiado. Porém, mais uma vez, duas forças opostas se projetam na tela: mesmo coreografada, a movimentação dos atores explode em espontaneidade.
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A forma molda “Adolescência” e faz dela uma produção grandiosa e cheia de frescor. O conteúdo, entretanto, também tem muito peso. A trama retrata uma família despedaçada, que testa laços de solidariedade e busca formas de sobrevivência. E monta um painel angustiante do sistema educacional inglês, aborda os conflitos universais relativos ao bullying, as inseguranças dessa fase complexa da vida e os efeitos deletérios das redes sociais. A tragédia que orienta o enredo não é o mais importante, mas vai tocar o coração do público.