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testemunhas silenciam e suspeito é liderança do PCC

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setembro 9, 2025
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Clube da Comunidade Jardim Petronita — Foto: Edilson Dantas

“Mensagem encaminhada com frequência”, alerta o WhatsApp ao trazer a foto indesejada: a cabeça inchada e cravejada de tiros de um jovem negro fardado com a camisa do clube do bairro e do coração. Richard Martins da Silva foi sepultado no último dia 1º, data em que faria 20 anos, sob gritos de dor de colegas de time e parentes traumatizados. Gritos que ecoaram apenas pelo cemitério de Campo Grande e pelo Jardim Guanhembu, no extremo sul de São Paulo.

As poucas postagens de luto pelo crime mais brutal em ao menos uma década no futebol de várzea paulistano sumiram das redes sociais da noite para o dia. As grandes equipes, os torneios famosos, os políticos influentes, todos se calaram publicamente.

No privado, a imagem explícita e áudios relatando o assassinato se espalharam pela várzea da cidade desde o cair da noite de 30 de agosto. “A gente foi jogar um jogo agora contra os Garotos da 2 lá na Petronita lá, mano. O jogador dos caras logo matou o moleque do meu time, mano. Vocês acredita (sic) num bagulho desses? Uma pá de tiro na cara do moleque, tio. Agora há pouco. Os Garotos da 2 lá do Icaraí, tiração do caralho. Caras covardes”, dizia uma gravação.

A partida valia, triste ironia, pela primeira fase do Mata-Mata, competição entre equipes do Grajaú, maior distrito de São Paulo, onde vivem quase 400 mil pessoas. O torneio, que não foi suspenso, acontece no CDC (Clube da Comunidade) Jardim Petronita, com premiação de R$ 4 mil. O Petronita é um dos mais de 200 campos municipais administrados por dirigentes teoricamente eleitos pela comunidade. Na prática, eles têm donos, que lucram com estacionamento, bar e aluguel dos gramados.

No último dia 30, o CDC estava cheio para o jogo entre o Conexão da Toca e o Garotos da 2, que teve seu apito final antecipado, com placar de 3 a 2 para o Garotos, em meio à terceira briga da partida, uma delas generalizada. A tensão continuou do lado de fora. Um carro foi estacionado no único portão que dá acesso à avenida, para impedir entradas e saídas até o retorno de um jogador que saíra com a promessa de voltar. Ele chegou de moto, com o uniforme alvirrubro do Garotos e uma arma na cintura.

Clube da Comunidade Jardim Petronita — Foto: Edilson Dantas

Pouco antes, havia levado a pior na porradaria com Richard, trabalhador de uma quitanda na região da Vila Progresso, também no Grajaú, e que naquela tarde fazia as vezes de técnico do time do bairro, o Conexão da Toca. Frente a frente com o jovem que viria a assassinar, o homem levantou o capacete para que todos vissem quem atirava e se vingou com 16 tiros à queima-roupa, a maioria na cabeça.

Descarregou a arma, certo de que não haveria reação e não precisaria se defender. Uma das balas ainda acertou o ombro de um torcedor do Conexão, que foi levado a uma Unidade de Saúde de Pronto Atendimento (UPA) e passa bem.

Na última quinta-feira, quando a reportagem foi ao Petronita, o medo estava no ar enquanto meninos do sub-20 do Embu-Guaçu SAF treinavam normalmente no local em que um jovem da idade deles havia sido executado dias antes.

— A gente sabe que é melhor não falar nada — admitiu um comerciante.

— A gente ouve falar, mas não quer se envolver — reconheceu uma mulher na UPA vizinha.

Nas redes sociais do Petronita, a única manifestação foi efêmera, repudiando “qualquer tipo de atitude que venha a ocasionar qualquer tipo de violência”, lamentando o “ocorrido” e garantindo que a diretoria “jamais se omitirá de problemas que ocorrem dentro de suas dependências”. Nada sobre luto ou morte.

À polícia, o diretor Valdemir Alves disse que o clube não tem relação com o “2º Torneio Mata-Mata do CDC Petronita”, embora as redes evidenciem que o campeonato é organizado por diretores do clube — dois deles bloquearam a reportagem após um primeiro contato.

Alves contou ainda que uma câmera de segurança instalada no bar do CDC estava conectada a um iPhone dele que teria quebrado três dias antes. Os policiais descobriram que o cartão de memória instalado era incompatível com o aparelho. Em razão disso, não há registro de imagens do crime.

A prefeitura de São Paulo não respondeu ao questionamento do GLOBO sobre quais medidas a Secretaria de Esporte (Seme) tomou depois do assassinato, nem por que o local não tinha câmeras ativas. Também não esclareceu se o Smart Sampa, sistema de monitoramento utilizado para identificar criminosos pela cidade, chega aos CDCs.

No dia 30 de agosto, enquanto a final da Taça das Favelas acontecia no Pacaembu, em um dos bairros mais ricos de São Paulo, Richard saía de casa na periferia da Zona Sul para morrer em um jogo também disputado em gramado sintético. Quando chegou sem vida ao hospital do Grajaú — os bombeiros acharam melhor levá-lo obviamente morto para lá do que deixar o corpo por horas no CDC —, tinha no bolso um celular Motorola e uma nota de R$ 20.

O dinheiro foi guardado para ser devolvido à família, o que ainda não aconteceu porque nenhum parente procurou a 85ª DP, vizinha ao campo de outra equipe participante do torneio.

— Se ninguém veio pedir Justiça é porque esperam que ela venha de outro lugar. Quando é assim, a orientação é não procurar a imprensa ou a polícia, para o caso ser resolvido internamente — afirmou um membro da Polícia Civil que participa das investigações.

Até o último dia 1º, acreditava-se ser verídico um “salve” atribuído ao PCC e verossimilhante ao que se esperava do grupo criminoso: “O culpado pagará com a vida na quebrada do Grajaú, onde tivemos a perca (sic) de um jovem para os emocionados que não têm a visão e a ética do crime. Ninguém mata sem chegar nas disciplinas das quebradas. Isso a família não aceita. Todos os times têm companheiros ou irmão envolvidos”.

Até então, amigos publicavam fotos de Richard, e equipes da região pediam paz na várzea. No dia seguinte, porém, os posts e o perfil do Conexão da Toca foram apagados.

— Está todo mundo com medo de aparecer ou falar — disse um diretor do clube.

No mesmo dia, um líder do Garotos compartilhava fotos de uma celebração. Para a polícia, trata-se do resultado do tribunal do crime. De acordo com a investigação, os indícios apontam que o assassino é uma liderança do PCC, que domina a região a partir do Jardim Icaraí, casa dos Garotos da 2, e teria recebido uma espécie de “autorização retroativa” para matar.

Faltam, porém, fatos concretos para pedir a prisão preventiva do suspeito ou um mandado de busca para tentar achar a arma do crime. Todas as testemunhas ouvidas na semana passada alegaram não conhecer o criminoso nem tê-lo visto. Ele não foi localizado.

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