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Sua prisão em fevereiro de 2023 foi um grande triunfo para os investigadores americanos, que apenas alguns meses antes o acusaram, além de outros 12 líderes de gangues, de terrorismo, derramamento de sangue e corrupção em uma ampla acusação federal em Long Island, em Nova York.

Em abril deste ano, os promotores que apresentaram essas acusações, de repente — e discretamente — pediram a um juiz federal que as retirasse. Eles alegaram “preocupações com a segurança nacional” e disseram que precisavam devolver Arévalo a El Salvador, sua terra natal.

A surpreendente reversão ocorreu logo após um acordo que o governo Trump fechou este ano com Nayib Bukele, presidente de El Salvador, que concordou em aceitar mais de 200 migrantes expulsos dos Estados Unidos em uma prisão que ele construiu para terroristas.

Em troca de ajudar o presidente americano, Donald Trump, a executar sua agenda de deportação, os Estados Unidos pagaram milhões de dólares a El Salvador, adicionando um importante bônus a pedido de Bukele: o retorno de importantes líderes da MS-13 sob custódia dos EUA. Autoridades de ambos os países disseram que os líderes das gangues serão enviados de volta para enfrentar a Justiça.

No entanto, ainda não há informações sobre quantos líderes da MS-13 o governo Trump enviou de volta para El Salvador — ou quantos mais ele planeja devolver. Um deles é César López Larios, que foi colocado em um avião para El Salvador em março, junto com outros migrantes enviados para a prisão de segurança máxima. López estava sob custódia dos EUA há menos de um ano e aguardava julgamento em Long Island por acusações de conspiração para narcoterrorismo.

Bukele concordou em encarcerar deportados dos Estados Unidos em uma prisão de segurança máxima — Foto: Fred Ramos / The New York Times

Os advogados de Arévalo, que permanece sob custódia federal após se declarar inocente, têm tentado evitar que ele enfrente um destino semelhante. Em uma carta recente ao juiz responsável pelo caso, eles argumentaram que o governo Trump havia feito “um acordo corrupto” para enviar os réus do caso de volta “para serem silenciados pelo governo Bukele”.

Mas o governo Trump não reconheceu outro motivo para Bukele querer de volta. Segundo uma investigação do New York Times, promotores americanos acumularam evidências substanciais de um pacto corrupto entre o governo salvadorenho e alguns líderes da MS-13, que, segundo eles, concordaram em reduzir a violência e apoiar Bukele politicamente em troca de dinheiro e vantagens na prisão.

O acordo com El Salvador, anunciado por Trump como uma forma de repressão ao crime, está, na verdade, minando uma investigação dos EUA de longa data sobre a quadrilha. Dois processos em andamento contra alguns dos líderes mais importantes da quadrilha podem ser seriamente prejudicados, e outros réus devem ter menos probabilidade de cooperar ou testemunhar em tribunal.

O acordo também minou as promessas reiteradas de Trump de desmantelar a MS-13, um pilar de sua linha de combate ao crime. No início deste ano, a secretária de Justiça dos EUA, Pam Bondi, emitiu um memorando interno pedindo a “eliminação total” da quadrilha, que a Casa Branca classificou como uma organização terrorista estrangeira.

Em seu primeiro mandato, Trump criou um grupo de promotores e investigadores conhecido como “Força-Tarefa Vulcan”, que abriu processos contra a liderança da gangue. Alguns que participaram desse esforço estão, agora, alarmados com o acordo com Bukele e temem que ele queira os líderes da gangue de volta para impedi-los de revelar informações prejudiciais sobre seu governo.

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A investigação do Times descobriu que autoridades americanas tinham fortes indícios há anos da relação problemática entre o governo Bukele e a MS-13 e seus líderes — e que haviam começado a investigar o próprio presidente. As conclusões baseiam-se em documentos governamentais e entrevistas com mais de 30 pessoas com conhecimento do inquérito Vulcan ou da relação EUA-El Salvador, muitas das quais falaram sob condição de anonimato para descrever a investigação federal em andamento.

  • O primeiro governo Trump recebeu um alerta sobre o pacto secreto já em agosto de 2020 de uma alta autoridade salvadorenha que apareceu na Embaixada dos EUA em San Salvador para compartilhar informações.
  • No ano seguinte, o Departamento do Tesouro impôs sanções ao mesmo funcionário e a outro importante assessor de Bukele após determinar que eles haviam oferecido dinheiro, celulares e prostitutas na prisão aos líderes da MS-13 em troca de sua ajuda para reduzir a taxa de homicídios e garantir votos.
  • Investigadores federais estavam examinando se parte da ajuda dos EUA fornecida a El Salvador estava sendo canalizada ilicitamente para beneficiar a MS-13.
  • Em dado momento, um líder de gangue ordenou o assassinato de um agente do FBI que trabalhava no caso em El Salvador, para dificultar a investigação. O agente e sua família tiveram que deixar o país.
  • Investigadores federais começaram a investigar as atividades de Bukele, tomando medidas para solicitar uma revisão de seus registros bancários para examinar possível apropriação indébita de fundos americanos, de acordo com Christopher Musto, membro da força-tarefa na época.

— Foi inovador — disse Musto sobre a investigação Vulcan, observando que alguns agentes arriscaram suas vidas para ajudar a rastrear e deter líderes da MS-13. — Passamos por muita coisa para conseguir isso.

Embora apoie amplamente a deportação de membros de gangues por Trump, Musto disse que foi impressionante vê-lo receber Bukele na Casa Branca para celebrar o acordo.

— Ele era corrupto — afirmou, referindo-se ao presidente salvadorenho. — E agora está sentado ao lado de [Trump] no Salão Oval e tem acesso privilegiado ao líder do mundo.

Bukele, por sua vez, negou repetidamente que houvesse um pacto entre seu governo e líderes de gangues.

Abigail Jackson, porta-voz da Casa Branca, disse que “qualquer insinuação de que o presidente Trump não esteja erradicando com sucesso as gangues criminosas terroristas dos Estados Unidos é simplesmente estúpida”. Ela disse que o governo estava “grato pela parceria do presidente Bukele” e pelo uso de sua prisão de segurança máxima, acrescentando que “não há lugar melhor para esses criminosos ilegais e doentes.

Em comunicado, um porta-voz do Departamento de Justiça afirmou que a agência estava “focada em tornar a América segura novamente, o que inclui acabar com a invasão de criminosos estrangeiros ilegais violentos”.

A repentina reviravolta do governo preocupa Richard Loeschner, ex-diretor da Brentwood Ross High School em Long Island, onde há quase uma década dois de seus alunos foram assassinados por membros da MS-13.

— Aqueles foram atos hediondos e eu só espero, meu Deus, que os homens que os planejaram cumpram pena onde quer que seja — disse Loeschner. — Eu ficaria muito chateado se eles retirassem todas as acusações aqui e os mandassem de volta para El Salvador, sendo simplesmente libertados. Isso seria devastador.

A onda de violência cometida pela MS-13 em Long Island chamou a atenção de Trump durante seu primeiro mandato. Em julho de 2017, ele proferiu um discurso em Ronkonkoma, em Nova York, chamando os membros da gangue de “animais” e afirmando que a política de seu governo era “desmantelar, dizimar e erradicar” o grupo, que foi fundado por imigrantes centro-americanos em Los Angeles na década de 1980, antes de se transformar em um sindicato internacional.

No ano seguinte, ele convidou a mãe de uma das alunas assassinadas de Loeschner para comparecer ao seu discurso do Estado da União, dizendo aos presentes que as meninas tinham sido assassinadas por “membros da gangue selvagem MS-13”.

O presidente Trump fazendo um discurso em 2017 sobre atos violentos cometidos pela MS-13 em Long Island — Foto: Tom Brenner/The New York Times
O presidente Trump fazendo um discurso em 2017 sobre atos violentos cometidos pela MS-13 em Long Island — Foto: Tom Brenner/The New York Times

Em agosto de 2019, seu procurador-geral, William Barr, criou uma unidade especial visando a MS-13. A Força-Tarefa Conjunta Vulcan foi encarregada de caçar e processar não apenas os capangas da gangue nas ruas das cidades americanas, mas também seus principais líderes no exterior.

O homem selecionado para supervisionar Vulcan era descendente de um membro importante do Departamento de Justiça: John J. Durham, filho de John H. Durham, um antigo promotor federal (e aliado de Barr) mais conhecido por ter investigado os investigadores que examinaram as conexões entre a Rússia e a campanha de Trump em 2016.

o jovem Durham rapidamente desenvolveu uma reputação de probidade e implacabilidade. Trabalhando em sua base no Ministério Público Federal em Long Island, ele foi colocado à frente de uma equipe que contava com recursos do FBI, da Agência Antidrogas, do Departamento de Investigações de Segurança Interna e de pelo menos 10 escritórios de promotores federais espalhados pelo país em áreas de grande circulação da MS-13.

Duas vezes em agosto de 2020, um convidado incomum, com um segredo surpreendente, visitou a Embaixada dos EUA em San Salvador. Seu nome era Osiris Luna Meza, e ele era um dos principais assessores de Bukele que dirigia o sistema prisional salvadorenho.

Embora Bukele tenha negado por muito tempo ter laços corruptos com as gangues de seu país, Luna — um dos confidentes mais próximos de Bukele — disse a diplomatas americanos que tal pacto existia entre o governo salvadorenho e a MS-13, de acordo com um telegrama do Departamento de Estado analisado pelo Times.

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Confessando seu “desconforto com as interações do governo” com a gangue, o telegrama de 10 de setembro de 2020 disse que Luna mostrou aos funcionários da embaixada uma captura de tela de uma câmera de segurança de vários homens mascarados entrando em uma das prisões que ele supervisionava.

Um dos homens, segundo ele, era um líder sênior da MS-13 procurado pelas autoridades salvadorenhas. Luna reconheceu que o havia levado pessoalmente à unidade para se encontrar com alguns de seus colegas presos, embora tenha negado saber de suas conversas.

Funcionários da embaixada não tinham certeza sobre o que fazer com a informação, segundo o telegrama, pois acreditavam que Luna, que tinha reputação de corrupto, provavelmente estava minimizando seu próprio envolvimento. Os funcionários também estavam céticos porque ele havia feito um pedido importante: asilo nos Estados Unidos com acomodações luxuosas em troca de testemunhar contra o governo Bukele.

Ainda assim, grande parte do que Luna revelou na embaixada chegou às mãos de Durham e seus investigadores, segundo três pessoas familiarizadas com o assunto. Logo após sua visita, o veículo de notícias salvadorenho El Faro publicou uma longa investigação descrevendo o pacto entre o governo Bukele e a MS-13.

John Durham foi escolhido pelo governo Trump para supervisionar a Força-Tarefa Vulcan — Foto: Anna Moneymaker / The New York Times
John Durham foi escolhido pelo governo Trump para supervisionar a Força-Tarefa Vulcan — Foto: Anna Moneymaker / The New York Times

Em poucos meses, a Vulcan emitiu sua primeira acusação significativa contra os mais altos escalões da liderança da MS-13. Em dezembro de 2020, os promotores indiciaram 14 homens, incluindo 10 que faziam parte do grupo fundador da gangue, os 12 Apóstolos do Diabo. A acusação foi revelada em 14 de janeiro de 2021, menos de uma semana antes da posse do sucessor de Trump, Joe Biden.

O documento de acusação revelou, entre outros atos de violência, que a MS-13 havia buscado o assassinato de um agente do FBI. O agente havia sido designado para El Salvador como parte de uma força-tarefa antigangues que ajudava Vulcan a coletar informações quando o assassinato foi cometido, de acordo com três pessoas com conhecimento do caso. Ele e sua família tiveram que ser retirados do país às pressas.

A acusação também tinha uma seção intitulada “Influência Política em El Salvador”, que expunha como os líderes da MS-13 ajudaram a garantir votos para o partido que governava El Salvador antes de Bukele assumir, em troca de dinheiro e outras vantagens.

A acusação não mencionava nada sobre Bukele, que assumira a presidência em junho de 2019; Luna; ou as visitas ilícitas à prisão. Havia apenas uma referência provocativa à forma como a MS-13 “continuava a negociar com partidos políticos em El Salvador e a usar seu controle do nível de violência para influenciar as ações do governo”.

‘Escolha Nossas Batalhas’

À medida que o trabalho de Vulcan avançava, o governo Biden tornou público o que sabia sobre o relacionamento entre o governo Bukele e a MS-13.

Em dezembro de 2021, o Departamento do Tesouro impôs sanções a Luna e a outro alto funcionário salvadorenho, Carlos Marroquín Chica, após constatar que os homens não apenas facilitaram reuniões na prisão com membros da MS-13 após a posse de Bukele em 2019, como também participaram delas. Essas reuniões, segundo o relatório do Tesouro, faziam parte dos “esforços do governo Bukele para negociar uma trégua secreta com a liderança da gangue”.

Durante as negociações, os líderes da MS-13 concordaram em dar apoio político ao partido Nuevas Ideas, de Bukele, que conquistou uma maioria qualificada de dois terços nas eleições legislativas de 2021. Cumprindo sua parte do acordo, disseram autoridades americanas, o governo de Bukele forneceu dinheiro aos bandidos e, para aqueles que estavam presos, celulares e prostitutas.

Bukele zombou das alegações. “Como eles podem divulgar uma mentira tão óbvia sem que ninguém questione?”, escreveu ele em uma publicação nas redes sociais.

Dentro do governo Biden, havia uma preocupação mais ampla com o presidente salvadorenho. Quatro ex-funcionários disseram que autoridades americanas estavam preocupadas com as alegações de ligações de Bukele com gangues salvadorenhas, que remontavam à sua gestão como prefeito de San Salvador, de 2015 a 2018.

Mas houve debate sobre até que ponto denunciá-lo em meio a uma crescente crise migratória, especialmente porque o presidente tomou medidas que alarmaram sobre o devido processo legal e os direitos humanos em El Salvador. Como disse um ex-funcionário, o governo Biden queria “escolher nossas batalhas” com Bukele.

Em 2022, uma explosão de violência sinalizou o rompimento de qualquer pacto entre o governo de Bukele e os principais líderes da MS-13. Bukele impôs estado de emergência, levando a polícia e as forças de segurança a realizar prisões em massa de dezenas de milhares de pessoas acusadas de serem membros de gangues ou colaboradoras, muitas das quais eram inocentes, segundo grupos de direitos humanos. Apesar disso, seus índices de aprovação dispararam, enquanto as taxas de criminalidade despencaram.

Bukele respondeu com força à violência ordenada por gangues, impondo um estado de emergência que permanece em vigor até hoje — Foto: Daniele Volpe / The New York Times
Bukele respondeu com força à violência ordenada por gangues, impondo um estado de emergência que permanece em vigor até hoje — Foto: Daniele Volpe / The New York Times

O governo Bukele vinha desmantelando as unidades investigativas salvadorenhas que escrutinavam o pacto do governo com as gangues e auxiliavam os investigadores americanos, além de ameaçar repórteres do El Faro por seu trabalho na descoberta de suas relações com as gangues, segundo os jornalistas. Promotores e jornalistas fugiram do país para sua própria segurança.

No início de 2023, Durham liderou seus colegas da Vulcan em uma nova fase de seus esforços para derrubar a MS-13.

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Em fevereiro daquele ano, a força-tarefa anunciou a prisão de três líderes de gangue, incluindo Arévalo, o homem conhecido como Vampiro, que foi capturado no México e enviado aos Estados Unidos. As prisões foram baseadas em uma segunda acusação extensa, acusando Arévalo e outros 12 membros de alto escalão da MS-13 de uma série de crimes de narcoterrorismo.

— Somente combatendo a estrutura de comando e controle da MS-13 e levando os líderes de mais alto escalão da organização criminosa transnacional à justiça nos Estados Unidos, seremos capazes de quebrar os ciclos persistentes de violência que têm atormentado nossas comunidades — disse Durham no anúncio.

Algumas das revelações mais explosivas envolveram Luna e Marroquín, identificados no documento de 42 páginas apenas por seus cargos governamentais.

Os promotores de Durham revelaram que os dois homens se encontraram inúmeras vezes dentro das prisões salvadorenhas com os principais líderes da MS-13, incluindo Elmer Canales Rivera, também conhecido como “Crook”.

A acusação também afirmou que os gangsters pediram garantias ao governo de Bukele de que não seriam extraditados para enfrentar processos nos Estados Unidos.

De fato, quando os Estados Unidos solicitaram inicialmente a El Salvador a extradição de Canales, “altos funcionários salvadorenhos” instalaram o líder da gangue em um apartamento de luxo, deram-lhe uma arma de fogo e, segundo os promotores, tomaram providências para retirá-lo do país. Ele permaneceu foragido até ser capturado pelas autoridades mexicanas e colocado sob custódia americana em novembro de 2023.

À medida que a equipe Vulcan prosseguia com seu segundo caso, os investigadores encontraram evidências de que não eram apenas “algumas maçãs podres” do governo Bukele que trabalhavam com a MS-13. Havia laços com a gangue “no mais alto nível do governo”, disse um ex-funcionário com conhecimento do inquérito.

Marroquín, um assessor próximo de Bukele, era suspeito de desviar para a MS-13 recursos da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), coordenados localmente por um programa de ajuda salvadorenho que ele administrava, chamado Tejido Social, segundo três pessoas familiarizadas com o caso. Acredita-se que a ajuda, que financiava centros comunitários equipados com bibliotecas, computadores e outras comodidades, tenha sido direcionada aos bairros da MS-13 como incentivo para a cooperação de líderes de gangues.

O governo salvadorenho também parecia estar desviando diretamente a ajuda do governo americano para as gangues. Um alto funcionário salvadorenho expôs o esquema em uma apresentação aos investigadores da Vulcan em uma reunião em Washington na primavera de 2021, segundo Musto, um dos primeiros membros da força-tarefa. Para ele, embora a maior parte dos fundos americanos fosse destinada a projetos reais, “parte desse dinheiro também seria usada para pagar os membros das gangues”.

Foi nessa época que a equipe Vulcan pediu ao Departamento do Tesouro que revisasse as contas bancárias de altos funcionários salvadorenhos, incluindo a de Bukele, como parte do esforço para rastrear os fundos dos EUA, de acordo com Musto.

Promotores americanos ocasionalmente investigam chefes de Estado estrangeiros, mas é raro abrir um processo contra um líder em exercício, o que pode ter consequências diplomáticas significativas. Musto, que deixou a força-tarefa no final de 2021, disse não saber o que resultou do pedido.

Assim que autoridades do Tesouro impuseram sanções a Marroquín no final de 2021, a Usaid encerrou seu relacionamento com a Tejido Social, de acordo com cinco ex-funcionários dos EUA.

O desmantelamento de parte do trabalho de Vulcan começou semanas após o segundo mandato de Trump. No início de fevereiro, os Estados Unidos haviam fechado um acordo com El Salvador, e Bukele queria seus líderes de gangue de volta.

Trump recebeu Bukele no Salão Oval em abril para celebrar o acordo — Foto: Eric Lee / The New York Times
Trump recebeu Bukele no Salão Oval em abril para celebrar o acordo — Foto: Eric Lee / The New York Times

No dia seguinte ao anúncio do acordo, a embaixadora salvadorenha em Washington, Milena Mayorga, disse em uma entrevista que Bukele solicitou que os líderes da MS-13 estivessem entre os deportados para El Salvador, “por uma questão de honra”.

Para alguns da equipe de Durham, que vinham elaborando casos há anos, a mudança de rumo do governo Trump foi profundamente frustrante.

No entanto, em 11 de março, Durham enviou uma carta à juíza Joan M. Azrack, que supervisionava ambas as acusações de liderança da MS-13, dizendo que os Estados Unidos estavam tentando rejeitar todas as acusações contra López, réu no primeiro caso.

A carta, arquivada em sigilo, afirmava que a equipe Vulcan acreditava que as evidências no caso eram “fortes”. Mas o novo governo tinha “importantes considerações de política externa” e “preocupações com a segurança nacional” que exigiam o arquivamento do caso e o retorno de López a El Salvador, escreveu Durham.

Naquele mesmo dia, antes que os advogados de defesa tivessem muito tempo para reagir, Azrack deferiu o pedido. López foi colocado em um avião quatro dias depois e levado sob custódia de carcereiros salvadorenhos.

Em 1º de abril, os promotores voltaram a Azrack, pedindo novamente, em sigilo, a rejeição das acusações contra Arévalo. Desta vez, os advogados de defesa resistiram.

Louis M. Freeman e Thomas H. Nooter, advogados de Arévalo, afirmaram neste mês que o governo americano sabia que era provável que seu cliente fosse “torturado ou ‘desaparecido'” se retornasse a El Salvador, pois Bukele queria silenciá-lo. Eles solicitaram à juíza que revelasse o pedido do governo para arquivar as acusações, o que ela concedeu.

Em resposta, Durham não abordou a substância dessas acusações, mas reiterou que as acusações contra Arévalo “devem ceder” aos imperativos “geopolíticos” do governo.

Um advogado de defesa familiarizado com alguns dos processos da MS-13 descreveu os acontecimentos como “meio que alucinantes”. O Departamento de Justiça, de acordo com ele, estava tendo seus casos “literalmente retirados de debaixo deles”.

Trump prometeu desmantelar a gangue MS-13. Seu acordo com o presidente de El Salvador ameaça esse esforço