Não fosse a alta quantidade de seguranças e avisos sonoros, esta quarta-feira pareceria um dia comum na estação Campo Limpo da Linha 5-Lilás do Metrô, na zona sul de São Paulo, onde Lourivaldo Ferreira da Silva Nepomuceno, de 35 anos, morreu ontem (6) após ficar preso entre a porta de proteção da plataforma e a do trem. Em mais uma manhã movimentada por ali, porém, a concessionária ViaMobilidade buscava intensificar a segurança dos passageiros.
No horário de pico desta quarta, entre 7h30 e 8h30, os avisos sonoros extras já eram ouvidos desde a entrada da estação — os mesmos que indicam o fechamento das portas no dia a dia e outros, feitos por funcionários do metrô, sobre a segurança no local. Nas plataformas, os alertas tocavam em sequência, com poucos segundos de intervalo entre um e outro.
No sentido Chácara Klabin, que costuma ter um fluxo maior de passageiros de manhã, seguranças espalhados por toda a plataforma direcionavam as pessoas para as pontas e vagões mais vazios. A maior concentração de agentes estava próxima à porta em que Lourivaldo foi prensado, ponto que tende a ficar mais cheio por estar em frente às escadas rolante e comum.
Conforme os trens chegavam e as pessoas embarcavam, os seguranças ficavam ao lado das portas, direcionando a saída e a entrada dos passageiros. Antes mesmo de tocar o alarme que avisa o fechamento das portas, os próprios agentes avisavam o público que elas logo fechariam.
No dia seguinte à morte no metrô, mais agentes de segurança estavam na estação
Além disso, também havia mais trens circulando entre as estações no horário de pico, segundo relatos dos passageiros. Com menos de dois minutos de intervalo entre um e outro, a plataforma ficava menos cheia e, consequentemente, havia menos tumulto na hora de os passageiros saírem ou entrarem nos vagões.
Entre os que estavam no local, era comum o relato de que aquela quantidade de trens não faz parte do cotidiano da estação. O gerente administrativo David Santos, de 30 anos, conta que todos os dias usa o metrô no Campo Limpo, mas que o fluxo de veículos tende a ser bem menor.
— Quando venho cedo, está sempre cheio, além dos trens demorarem para chegar. Em outros dias, eu até tentaria entrar logo em um trem, mas hoje vi que estão mais rápidos e resolvi esperar — diz ele. — Geralmente pego o metrô mais tarde, depois do horário de pico, então ontem fiquei sabendo do acidente quando estava voltando. Fiquei preocupado, a gente não sabe se pode acontecer de novo.
Assim como David, Eliana Ferreira, de 39 anos, também utiliza a Linha 5-Lilás todos os dias para ir à região de Moema, na zona sul de São Paulo, onde trabalha como gerente de vendas. Segundo a passageira, todos os dias pela manhã a plataforma sentido Chácara Klabin fica lotada de passageiros, que costumam se aglomerar nas portas dos vagões.
— Pela minha segurança, quando estou com tempo sobrando prefiro esperar a plataforma e os trens esvaziarem mais para tentar embarcar. As pessoas se empurram muito para entrar, acontece todos os dias. Às vezes as escadas rolantes não funcionam também, eu mesma já caí na escada por conta do tumulto de pessoas. Acho que tudo precisa melhorar, porque a gente depende do transporte público, não tem o que fazer — contou Eliana.
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Ontem, o acidente que levou à morte de Lourivaldo ocorreu por volta das 8h, quando a plataforma estava lotada. Após constatarem o corpo da vítima nos trilhos, o local foi tomado por gritos e correria.
— Tudo estava parado e sem funcionar, então demorei mais de 20 minutos para embarcar no trem — conta o técnico de informática José Cesário, de 51 anos, chegou na estação logo depois do ocorrido. — Nos dias comuns, se um trem atrasa um minuto a mais, a plataforma já enche de gente e todo mundo se empurra para entrar.
A ViaMobilidade informou ao GLOBO os avisos e os seguranças permaneceram na estação Campo Limpo apenas durante o horário de pico da manhã, entre 6h e 9h. Durante o dia, agentes estarão presentes no local, mas não na mesma quantidade. À noite, o reforço deve ser ainda menor pois o fluxo maior de passageiros é para desembarque.
Lourivaldo Ferreira da Silva Nepomuceno era morador de Taboão da Serra, na Grande São Paulo, e trabalhava como repositor em um mercado. Ele também cursava o sétimo semestre de Educação Física e dava aulas de natação como forma de complementar a renda da família. No momento do acidente, ele estava a caminho do trabalho.
As imagens da câmera de segurança mostram que o acidente ocorreu às 8h05. A plataforma da estação estava cheia no sentido Chácara Klabin instantes antes do trem seguir viagem. As luzes começam a piscar, indicando que as portas serão fechadas. Quando o trem começa a se movimentar, passageiros que não conseguiram entrar se afastam bruscamente da área de embarque, momento em que ocorre o acidente. Veja:
Segundo informações da Secretaria da Segurança Pública (SSP-SP), o caso está sendo investigado. A concessionária ViaMobilidade, responsável pela operação da linha, afirmou em nota que o passageiro tentou embarcar após os alertas sonoros e visuais de fechamento das portas. A empresa lamentou o ocorrido e disse que vai reforçar as medidas de segurança em trens e estações.
Em nota, a Via Mobilidade diz que a linha 5-lilás dispõe de um sistema de sensores de obstrução de portas, utilizado nacional e internacionalmente, para impedir que os trens partam com as portas abertas. Não há sensor de presença, no entanto.
“Neste caso, mesmo após os alarmes visuais e sonoros, ao tentar entrar no vagão, o passageiro acabou ficando no espaço entre o trem e a plataforma, onde não há sensores. Como tanto as portas de plataforma quanto as do vagão estavam fechadas, o trem partiu”, afirma trecho da nota da empresa, que diz realizar regularmente campanhas para alertar os passageiros sobre a importância de não se entrar nem sair do trem após os alarmes. Em entrevista para a TV Bandeirantes o presidente da Via Mobilidade, Francisco Pierrini, disse que os sensores de presença serão adotados até fevereiro de 2026.
* Sob orientação de Pedro Carvalho