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Uma entrevista exclusiva com Fidel Castro após Revolução Cubana

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março 23, 2025
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Fidel Castro durante discurso em 1959 — Foto: Arquivo

O jornalista Louis Wiznitzer, enviado especial do GLOBO a Havana, vinha tentando de todas as formas uma entrevista com o primeiro-ministro de Cuba, Fidel Castro, em março de 1960, pouco mais de um ano após o êxito da revolução que derrubara o ditador Fulgencio Batista, no dia 1º de janeiro de 1959. Ele já estava quase deixando o país caribenho quando, graças aos “bons ofícios” de Virgínia Leitão da Cunha, mulher do então embaixador brasileiro, recebeu um telefonema às 2h da madrugada, avisando que Fidel acabara de chegar à representação diplomática do Brasil e o estava aguardando.

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A Revolução Cubana havia atraído os olhos da comunidade global para o arquipélago. Louis Wiznitzer chegou a ser preso pela polícia de Fulgencio Batista quando estava indo para a Sierra Maestra com o objetivo de acompanhar de perto a movimentação dos guerrilheiros. Depois da vitória, porém, o líder da insurreição promoveu medidas consideradas controversas por governos do Ocidente, como o fuzilamento de opositores no chamado “paredón”, e a expropriação de latifúndios para distribuir suas terras entre camponeses, o que enfureceu os usineiros americanos donos daquelas áreas.

As mudanças levaram o governo americano a ameaçar Cuba com a adoção de sanções econômicas, o que viria a acontecer meses mais tarde. Foi nesse clima de tensão entre os dois países que Wiznitzer conversou com Fidel. A entrevista foi publicada no dia 24 de março de 1960, há 65 anos.

Fidel Castro durante discurso em 1959 — Foto: Arquivo

O que o senhor acha da proposta de mediação do presidente brasileiro, Juscelino Kubitschek, para pôr um termo nas dissensões entre Cuba e Estados Unidos?

Considero que se trata de um gesto espontâneo e bem Intencionado do presidente Kubitschek, que está assim demonstrando sua preocupação em defender a nossa revolução e em proteger a nossa pátria, porém o gesto foi inútil, já que os norte-americanos se apressaram em recusar.

Quais são os objetivos da Revolução Cubana?

Exatamente os mesmos objetivos que animaram todas as grandes revoluções do passado: a saída dos judeus do Egito, a revolta de Espártaco e seus escravos, a rebeldia de Caio Craco, a Revolução Francesa, a Revolução Soviética. A finalidade é acabar com a exploração do homem pelo homem. Revolução política, econômica e social. Independência nacional apoiada por justiça social.

No conflito que hoje existe entre os dois grandes blocos mundiais, qual será a posição de Cuba? Ficará o país em situação neutra ou se definirá por uma das posições antagônicas?

A posição de Cuba é e será sempre a de paz e amizade entre os povos.

Qual será a atitude de Cuba em relação a investimentos privados?

Os investimentos privados são uma hipoteca sobre a vida econômica de um país e, portanto, não são negócio. Eles criam conflitos e obedecem a interesses privados que não coincidem com os interesses verdadeiros do desenvolvimento do país. Um país deve se desenvolver por seus próprios esforços, por meio de recursos próprios e com fundos públicos nacionais ou de países amigos. No futuro, um futuro distante, uma vez consolidada nossa revolução e assegurada nossa independência, podemos aceitar, ao lado de investimentos públicos, alguns investimentos privados, em setores não vitais da economia.

Qual será o caminho social e econômico de Cuba? Uma economia mista de socialismo democrático e liberalismo, como na Suécia, ou um caminho de maior dirigismo, de maior estatismo?

Tanto mais planificado for o sistema político-social, mas perfeito será ele. Disso, não há dúvida. Cada país, no entanto, deve adaptar seus ideais a suas possibilidades. O progresso não se faz num dia só. Vamos para a frente, observando as limitações impostas pela nossa herança, pelas faltas e fraquezas do nosso país. Nossa finalidade, porém, é o dirigismo total, a planificação completa.

Fidel Castro com Richard Nixon nos Estados Unidos em 1959 — Foto: Arquivo
Fidel Castro com Richard Nixon nos Estados Unidos em 1959 — Foto: Arquivo

O senhor diz que o povo cubano o apoia. A revolução foi feita contra a ditadura e pela liberdade. Por que, então, não manda fazer eleições e dá ao mundo o espetáculo de uma revolução social levada a cabo com apoio do povo, manifestado pelo voto?

Eleições, na América Latina, são um mito. Democracia, na América Latina, nunca funcionou. A democracia parlamentar, em Cuba, refletia o antigo sistema sócio-econômico, que nós estamos destruindo. A revolução é o instrumento cirúrgico dessa operação. Ela é a instituição do momento, que substituiu o sistema parlamentar fracassado. Eleições, hoje em dia, nos levariam para trás. Esforços e tempo seriam perdidos em considerações teóricas e discussões estéreis. A revolução precisa avançar. A nova ordem social precisa ser estabelecida sobre bases sólidas. Precisamos dar nova estrutura social e econômica ao país. Só depois teremos tempo para resolver o problema político. Nosso sistema que é a verdadeira democracia.

Com a atitude violenta que Cuba adotou em relação aos Estados Unidos, não estará fazendo o jogo dos elementos reacionários americanos, que poderão dizer que nacionalismo e comunismo são a mesma coisa? Não estará prejudicando toda a América Latina? Devemos ser firmes com os Estados Unidos, procurando esclarecê-los para que nos ajudem? Ou devemos castigá-los e brutalizá-los?

Eu tinha a maior vontade de entender-me com os Estados Unidos. Até fui lá, expliquei para eles nossos objetivos. Tivemos paciência e boa vontade. Mas os bombardeios, por aviões norte-americanos, de nossas fazendas açucareiras, das nossas cidades; as ameaças de invasão por tropas mercenárias e a ameaça de sanções econômicas são agressões a nossa soberania (não há registros de bombardeios americanos em Cuba naquela época). Não podemos deixar de reagir, de defender nossos direitos.

São as empresas privadas, cujos interesses temos ferido, que financiam essas agressões. Mas se o governo americano não tem controle sobre essas pessoas e não as pode chamar à disciplina, então os Estados Unidos estão em crise. Cuba é uma trincheira cercada pelo colosso americano, ameaçada economicamente, politicamente, militarmente e até culturalmente. Porém não desistiremos, lutaremos até a vitória. Até que nos respeitem e nos deixem levar a vida que queremos dentro da nossa ilha.

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