A morte do empresário e ex-participante do Shark Tank Brasil, Gabriel Farrel, de 31 anos, após um salto de paraquedas na Praia da Reserva, Zona Sudoeste do Rio, no último domingo, deixou perguntas importantes que ainda precisam ser respondidas. Durante o salto, algo deu errado e o equipamento não foi capaz de conter a queda como deveria. Ferido, ele chegou a ser socorrido ao Hospital Municipal Lourenço Jorge, mas não resistiu.

As circunstâncias exatas do salto ainda são desconhecidas. A Polícia Civil conduz a investigação, que inclui perícia para determinar se houve falha no equipamento usado pelo empresário. As autoridades também buscam esclarecer, entre outros detalhes, como e de onde o salto foi realizado e se o veículo aéreo utilizado tinha autorização para essa atividade. Pensando nisso, o GLOBO reuniu, ponto a ponto, o que ainda falta ser esclarecido sobre o caso:

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De acordo com peritos da Polícia Civil, a perícia inicial do local da morte foi realizada pela equipe do posto do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) da Barra da Tijuca. Já os equipamentos que estavam com Gabriel Farrel, incluindo o paraquedas, foram recolhidos e encaminhados ao ICCE do Centro do Rio para um exame específico, que será analisado por peritos do Serviço de Engenharia. O delegado da 16ª DP (Barra da Tijuca), Neilson dos Santos, contou que testemunhas já foram ouvidas desde o domingo.

  • Até o momento, não há confirmação oficial sobre o ponto preciso onde Gabriel atingiu o solo. Testemunhas indicaram a faixa de areia da Praia da Reserva, mas a polícia ainda não divulgou detalhes técnicos ou coordenadas.
  • Não foi informado se o salto partiu de um avião de pequeno porte, ultraleve, paratrike, ou helicóptero. A rota, autorização de voo e o registro da aeronave devem ser confirmados pela ANAC e pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA).
  • Na quinta-feira da semana passada, Gabriel Farrel postou uma série de vídeos e fotos que mostram quando ele decola de um pequeno descampado na área da Praia da Reserva a bordo de um paratrike — composto por um parapente acoplado a um veículo motorizado com hélice. A sequência mostra a ação até o fim, com direito ao salto e ao pouso seguro na faixa de areia da praia.
  • A altura da qual Gabriel saltou permanece indefinida. Há informações não oficiais de que o empresário teria saltado a três mil pés — cerca de um quilômetro. Essa informação é crucial para avaliar o tempo disponível para abertura do paraquedas e eventuais procedimentos de emergência.

Tipo de paraquedas e equipamentos usados

  • A Polícia Civil apreendeu o equipamento para perícia, mas não detalhou se se tratava de um paraquedas tradicional de paraquedismo ou de base jump — modalidades que usam equipamentos distintos e eram praticadas pelo empresário.
  • Ainda não está claro se houve falha mecânica, problema de acionamento ou atraso na abertura do paraquedas. O laudo pericial deverá indicar se o equipamento estava em condições adequadas e se foi corretamente operado.

Autorizações e fiscalização

  • Também não foi informado se o salto foi devidamente autorizado pelos órgãos competentes ou realizado em espaço aéreo liberado. A ANAC orienta que saltos ocorram sob supervisão de associações aerodesportivas e que os equipamentos sejam cadastrados, enquanto o DECEA é responsável pelo controle do espaço aéreo.
Gabriel Farrel, empresário morto em acidente de paraquedas no Rio, compartilhava seus voos nas redes sociais — Foto: Reprodução

Pular de penhascos ensinou Gabriel a não temer riscos — tanto no esporte quanto nos negócios. Em 2016, ele decidiu abandonar a faculdade de engenharia para investir em seu próprio empreendimento: uma pizzaria de forno a lenha. Com apenas R$ 5 mil, adaptou uma caminhonete e começou a vender pizzas em eventos e festas. Nascia assim a Borda & Lenha, prometendo pizzas assadas em até três minutos, feitas com massa artesanal e permitindo que o cliente montasse seu próprio sabor entre mais de 25 opções de toppings.

O sucesso foi rápido. Em 2018, a primeira unidade fixa foi inaugurada em Botafogo, e dois amigos de Farrel se juntaram ao projeto, abrindo as primeiras franquias na Tijuca e na Barra da Tijuca. A expansão continuou acelerada, e em 2020 a participação no programa Shark Tank Brasil trouxe investimentos que impulsionaram ainda mais o negócio.

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“Por exemplo, no Shark Tank, quando entrei, minha cabeça estava o tempo todo pensando: ‘Você vai entrar e os empresários vão te engolir’. Mas aí eu pensei: ‘Cara, você já pulou de uma pedra. Não estou com o mínimo de medo deles’”, disse Gabriel Farrel em março deste ano, em entrevista ao podcast Multistudios, no YouTube.

Ao final de 2023, a rede registrou crescimento de 191,6%, faturamento de R$ 30 milhões e 20 novas unidades inauguradas, totalizando cerca de 56 unidades ativas espalhadas em nove estados do Brasil.

Além do empreendedorismo, Gabriel se dedicava a esportes radicais. No início de 2023, começou a praticar base jump — primo do paraquedismo — saltando de prédios, antenas, pontes e montanhas com paraquedas de baixa altitude, que precisavam ser abertos segundos após o salto. Desde criança, buscava adrenalina: praticava surfe, se encantava com vídeos de paraquedismo e, aos 12 anos, entrou no motocross, correndo em terrenos acidentados. Aos 15, fez um curso de paraquedismo — e, ao longo da vida, passou a saltar também de aeronaves, sempre em busca da sensação única de voar.

O que falta esclarecer sobre a morte do empresário e paraquedista Gabriel Farrel